Sabia que os cães são muito estóicos?
O termo
estóico foi usado muito recentemente pelo veterinário que observou o meu Guga. Achei curioso porque estava mais habituado a referi-lo a certas personalidades religiosas (mártires) ou figuras históricas.
Em termos corriqueiros, um ser estóico é o que não dá sinais evidentes e exteriores da dor. Aliás, estoicismo é uma corrente filosófica, que tem mais a ver com austeridade, mas não vamos por aí, se não vão pensar que estou a armar em intelectual e eu não o sou mesmo...
De facto, o termo aplica-se muito bem aos cães. O cão queixa-se, por vezes estridentemente, ganindo, mas só quando sofre pontualmente uma dor muito aguda. Quando a dor é persistente mas não tão aguda, do tipo "moedeira", normalmente ele fica deprimido, triste, e o sinal exterior mais evidente é tremer como se estivesse com frio. Mas, por vezes, nem sequer treme. E, o que é o mais grave, é quando está seriamente ou fatalmente doente e não dá quaisquer sinais evidentes da gravidade da doença.
Isto aconteceu muito recentemente com o Guga há cerca de dois meses. O Guga já fez 12 anos e a esperança de vida do whippet é de 12 a 14 anos. Terá chegado a hora dele, pensava eu? O que era estranho é que o comportamento dele, até há muito pouco tempo, era de um cão jovem, bem disposto e feliz.
Mas em princípios de junho começou a ficar deprimido e já nem sequer queria ir ao passeio. Durante alguns dias, lá o conseguia convencer a sair, mas tinha que o trazer ao colo para casa porque já se recusava a caminhar. O veterinário não conseguia diagnosticar o problema, mesmo depois de análises ao sangue, à urina, cujos resultados deram todos os valores normais.
Entretanto, eu descrevi-lhe o problema por que passou o Fozzy (representado no avatar), que morreu em 2009 vítima de uma doença das articulações do tipo artrite reumatoide. Ele fixou-se nisso, principalmente quando lhe referi que era irmão do Guga e da mesma ninhada. Toca então de lhe prescrever uma medicação a preceito...
Eu nunca me pronunciei aqui neste fórum, desde que cá participo há um bom par de anos, sobre a qualidade técnica dos veterinários. Mas, embora eu seja um leigo, o diagnóstico não me convenceu. Fiquei com muitas reservas e então consegui contactar a veterinária que antes tinha acompanhado o Fozzy em sessões de fisioterapia e que lhe proporcionou uma qualidade de vida muito razoável dentro das limitações. Quando esta jovem técnica (por quem tenho uma enorme admiração) viu o Guga, diagnosticou-lhe imediatamente um problema gravíssimo no coração. Tinha um sopro enorme e enorme era também o próprio coração, que estava dilatadíssimo e já estava a atrofiar os pulmões e a prejudicar a respiração. Por isso é que ele se cansava e o incómodo era tanto que o que queria era que o deixassem em paz.
Com uma medicação de urgência, ele renasceu quase no próprio dia e agora anda alegre e bem disposto e lá vamos cantando e rindo os três diariamente aos nossos passeios matinais como se nada tivesse acontecido.
É evidente que a medicação será para toda a vida, mas foi um alívio para ele e para mim. Devo dizer, a título de confidência ou de desabafo, que o motivo do meu regresso mais assíduo às "curiosidades" se deve às melhorias dele. Quando criei este tópico foi pelo grande amor que lhes tenho e, ao regressar aqui, sinto que estou a dar vida ao meu querido Guga.
Desculpem a lamechice e a extensão do texto.
