quarta mar 31, 2004 2:24 am
Caros foristas
Este tópico deu-me novo animo para continuar a participar no fórum da arca de Noé.
Confesso que os tópicos em geral debatidos neste fórum não me entusiasmam. Temas, tais como se o cão dorme na cama do dono, se toma banho na banheira, se come à mesa, ... não me cativam muito, e têm feito com que procure o que me interessa em fóruns estrangeiros ( principalmente espanhóis, que os há muito bons). Também confesso que desanimo facilmente, e que, em vez de tentar mudar as coisas, por vezes, limito-me a desistir.
PORQUÊ SELECCIONAR AS RAÇAS PELA SUA FUNCIONALIDADE PARA O TRABALHO?
Pela simples razão que essa é a única forma de preservar uma raça.
As raças nasceram como forma de adaptar os cães a determinadas funções. Todas as raças (excepto raras excepções) nasceram para o trabalho. Tudo numa raça, desde a sua aparência física, aos andamentos, comportamento e até, por vezes, o tom de voz quando ladram, foram seleccionados paro o seu trabalho.
As exposições de beleza apenas seleccionam, e por vezes mal, a morfologia do cão. Mas uma raça é muito mais do que isso. Uma raça tem uma infinidade de características físicas e psicológicas, muitas das quais nem sequer nos apercebemos, que foram seleccionadas ao longo da historia da criação da raça e a melhor forma de preservar essas características ( ou seja a raça) é continuar a seleccionar a raça para as suas funções.
Dir-me-ão alguns que em certos casos isso é impossível porque as razões de ser do seu trabalho desapareceram. Penso, a este respeito, que, sempre que possível, a raça deve ser seleccionada para as suas funções iniciais. Quando isso não for possível deve-se dar uma evolução da raça, mas de forma o mais natural possível, isto é, selecciona-la para trabalhos onde os cães possam utilizar de forma proveitosa as características iniciais da raça.
Estar a seleccionar raças só pela sua aparência física e converter todas as raças em animais de exposição e companhia não faz o menor sentido e apenas é outra forma de extinguir as raças existentes. Isto é o que muito se tem feito com muitas das raças. Senão vejamos onde é que estão o antigo Bulldog Inglês, o antigo Dogue alemão, Dogue de Bordéus, Chow Chow, Caniches, Galgo Afegão, etc, etc??
Extintos! e foram substituídos por raças de “Show” que pouco ou nada têm a ver com as raças originais!
O que é que se pretende fazer com a criação o Amstaff???
Fazer o mesmo!!! ( a este caso voltarei mais à frente).
Comparando com os animais selvagens, é equivalente a manter uma espécie selvagem artificialmente em cativeiro, mesmo sabendo que o seu habitat já mais voltará a existir e a dita espécie já mais voltará a desempenhar as suas funções na natureza. Não faz sentido, com o tempo a espécie deteora-se devido à falta da selecção natural. Por exemplo, se um Tigre perder a capacidade de caçar (enquanto espécie) e se converter num animal que apenas consiga viver no jardim zoológico ou no circo, deixa de ser um Tigre; da mesma forma se o Podengo (enquanto raça) perder a capacidade de caçar coelhos deixa de ser um Podengo. É evidente que se pode sempre converter numa “mascote”, qual raça exótica no mundo anglo-saxónico, mas esse já não vai ser o nosso querido e fantástico Podengo.
EXPOSIÇÕES DE BELEZA
Posso ter dado a entender que sou contra as exposições de beleza. Mas não é o caso, embora haja certas “tiques” a elas associados que me irritam particularmente, mas até as frequento sempre que posso. O que eu penso é que a morfologia é apenas uma das diversas formas da selecção das raças e, a meu ver, nem sequer é a mais importante.
Uma das coisas que costumo criticar nas exposições de beleza é que, para além de estas só seleccionarem o parte morfológica, por vezes nem isso fazem bem. Em muitos casos as raças, ou linhagens, que são seleccionadas com vista às exposições caiem no exagero de certas características físicas --- os hipertipos---. Disto são exemplo o excesso de rugas em certas raças, patas demasiado curtas noutras, gordura ou magreza excessivas, tamanhos excessivos ou excessivamente diminutos, prognatismo excessivo, etc,.. .
Um bom exemplo da procura dos hipertipos para os “Shows” e da importância da procura da funcionalidade para o trabalho é o Mastim Espanhol.
O Mastim Espanhol é um magnifico cão de gado de tamanho grande e que foi criado para defender as ovelhas dos lobos. A criação moderna deste cão, com vista aos “Shows” foi seleccionando animais cada vez maiores, mais gordos e com mais pregas, chegando ao ponto de muitos dos animais apresentados em ringue terem mais de 100 kg e mal se mexerem.
Têm sido feitas experiências de por animais destes a guardar rebanhos e os lobos agradecem porque assim têm muito mais carne para comer. Muitos dos amantes dos Mastins estão a ir junto dos pastores para procurar outra vez o verdadeiro Mastim.
PITTS, AST, GAMENESS E COISAS AFINS
É evidente, por tudo o que disse atras que, do meu ponto de vista, um Pitbull só pode ser considerado como tal se tiver gameness. Deixando de lado a polémica do que é ou deveria ser o gameness, o que eu quero dizer é que o mais importante no Pitbull é o seu espirito de nunca desistir, coragem desmedida, temperamento sempre alegre, etc... que fazem deste cão não só um campeão de lutas, mas também o nº1 em muitos outros desportos.
Um Pitbull, mais do que uma “imagem” é uma “alma”. Quem não gosta destes cães tal como eles são escolhe outro, mas a raça é assim e assim deve continuar.
O AST não é mais do que um Pit de exposição ( tal como acontece em muitas outras raças em que há as duas versões). Do meu ponto de vista as versões exposição, nas raças, não faz sentido. O que faz sentido é a raça ser seleccionada pela morfologia e temperamento.
A questão polémica é a selecção do gameness no Pitbull. Há duas formas de o fazer: a mais tradicional e, sem duvida mais eficaz é através das lutas, mas esta levanta questões morais sobre os direitos dos animais. A outra é através de certos desportos (muito comuns em certos países) nos quais, os cães utilizam, e testam, as suas características físicas e de temperamento, que fazem deles lutadores, em todos os sentidos.
No que respeita às lutas de cães elas têm sem duvida um lado negro, que é o das apostas, das lutas até à morte, os cães para servirem de sparrs (não sei se é assim que se escreve), o sacrifício dos cães que não servem, etc. Mas este lado negro existe em muitos outros desportos( ultimamente surgiu uma polémica em Espanha porque muitos dos galgueiros inforcam os cães que não servem para correr). Estes comportamentos criminosos existem em todos os desportos.
Não sou um adepto das lutas e se tivesse um Pitbull não o poria a lutar, em primeiro lugar porque não gostaria de o ver a lutar e em segundo porque é proibido. Mas, não condeno as lutas, desde que sejam bem organizadas (com juiz, veterinário ...) e com regas bem definidas de forma a não por a vida dos cães em risco, sem apostas e com o único objectivo de testar os cães.Não nos esquecemos que o Pitbull não é propriamente um cão “normal” e está preparado para lutar, tanto fisicamente ( grande insensibilidade à dor, rápida cicatrização...) como psicologicamente(gameness e um enorme instinto de luta). O Pitbull tem mais a ver com Mike Tyson do que propriamente com a Ladi Di.
Em todos os desportos os cães têm prazer e sofrem. Ou pensam que é fácil atravessar o Alasca a puxar um trenó, é verdade que os cães gostam, mas também sofrem, eu já vi um acidente numa corrida de galgos em que um cão ficou inutilizado. Estas coisas são raras mas acontecem. Afinal para se ter prazer é preciso correr riscos. Uma luta de cães, se com regras bem definidas, é como um combate de boxe os intervenientes sofrem mas também desfrutam.
Seja como for, repito que há alternativas às lutas de cães para seleccionar o game nos pitbulls, e estes cães podem ser utilizados, pelas suas magnificas características, em muitas outras actividades.
Para finalizar defendo que a selecção das raças deveria ser feita através de exposições especializadas do género das monográficas em que para alem da morfologia fosse devidamente avaliado o caracter e a sua funcionalidade no trabalho.
Cumprimentos