Os cães hoje em dia não podem ficar sozinhos?

[Condessa]

Lindo!!

[CarlotaM]

Obrigada a todas!

Hoje já vos posso dar umas novidades sobre o Leão:
- Roeu as luzes da árvore de Natal, fundiu-as. As mesmas luzes preferidas que o meu marido gaba a todos que as comprou há 10 anos. Bom, a mim parece-me que já estava na altura de termos um novas(...).
- Gosta muito de tirar o estuque de um buraquinho, rapidamente a transformar-se em buracão, que conseguiu fazer num dos corredores da casa. Está tão interessado em fazer o buraco que eu começo a achar que deve estar lá um tesouro escondido e é o Leão que o vai descobrir (é perfeitamente possível,afinal, a casa tem 100 anos)!
- Está simultaneamente ocupado com uma outra obra na cozinha:arrancar o revestimento de um dos armários. Penso que não gosta muito da decoração da cozinha e tem razão que eu também não..já estou a pensar noutro modelo de cozinha!

O meu santo Leão, até parece que advinha os meu pensamentos!

[LuluB]

Heheheh, já começou a dança do santinho!

[CarlotaM]

Hoje dia 9 de Junho, 6 meses depois, e o Leão a fazer precisamente 8 meses de idade.

Parte I

- O Leão comeu duas lâmpadas, mas deixou os filamentos de ambas,
- O Leão comeu os meus óculos de ver graduados roxos, lindos, da Prada,
- Roeu o telemóvel do meu marido (que ainda vai funcionando com algum jeitinho..!)
- Destruiu cerca de 5 almofadas da sala, ou serão 7 porque já coloquei umas novas e ele já apanhou mais duas destas novas também..
- Os Crocs do meu filho, tinha-os calçado umas 4 ou 5 vezes,
- Os chinelos de praia do meu filho,
- O jogo para a psp dos Invizimals,
- O cabo dos comandos da Playstation (que em princípio é vendido apenas com a compra de uns novos comandos, ainda bem que depois de muito procurar descobrimos outro que o substitui, vá lá..)
- A camera da psp, mas ainda funciona bem,
- Comeu metade da porta do pátio de trás, em madeira maciça,
- A chapeleira da carrinha,
- Roeu as hastes do óculos de sol do meu marido,
- Plantas dos pátios nem se fala; no pátio de trás optei por não plantar mais nada sequer, no pátio da frente depois de várias mudas de plantas, todas elas roídas parece ter-se cansado ..finalmente,
..and on, and on, and on..and so forth

Fomos relevando todos estes danos, mas a verdade é que não é fácil sair da nossa zona de conforto em que não tínhamos um animal (para além dos peixinhos e rãzinhas dentro do aquário que nem esses quisemos e acabámos por oferecer), para um animal, criança, que depende de nós para tudo, e que precisa de ser educado, passeado, limpo, tratado e que, para além de tudo isto, ainda nos destrói tudo.

Penso que, mesmo para nós, que nos consideramos pessoas razoáveis, pacientes, bem intencionadas e que gostamos de animais, se pode tornar um fardo em vez de um prazer, especialmente nos primeiros tempos (meses).
Ainda, para quem preza a sua casa, como eu, que gosto de ter tudo organizado, limpo, bem decorado, é uma dor de alma ver como tudo isso muda e facilmente a casa se transforma num espaço com cheiro a cão, com cocó e xixi de cão, com pêlos de cão, brinquedos do cão espalhados por todo o lado, roídos, e coisas nossas, estragadas.

Compreendo perfeitamente uma frase que li por aqui, em jeito de desabafo, em como alguém, provavelmente passando pela experiência que também nós passamos, perguntava qual o prazer de ter em casa um cão nestes termos, coisa que somos relembrados diariamente ao chegar a casa e, de cada vez, cumprimentados por dejectos…Compreendo perfeitamente.

A partir de determinada altura, deixa, pura e simplesmente, de ter graça.
Por muito bem intencionado que se seja, ( e se calhar especialmente para quem tem vida de cidade como nós), começamos a ganhar um sentimento incómodo de que, afinal, a vida com um cão não é vida para nós.

(Continua.....)

[marianamar]

A partir de determinada altura, deixa, pura e simplesmente, de ter graça.
Por muito bem intencionado que se seja, ( e se calhar especialmente para quem tem vida de cidade como nós), começamos a ganhar um sentimento incómodo de que, afinal, a vida com um cão não é vida para nós.

(Continua.....)

Continua?... Espero que de um modo mais... positivo, para o Leão!

As brincadeiras que resultam em danos, os cocós, os xixis, tudo isso é parte integrante de ter um cão, que é um cão, e precisamente por ser um cão. Olhando para trás no tópico, parece-me que tinha sido avisada sobre isso...

[Charlie2]

Logo, pergunto, assim, considerando que somos pessoas racionais, de excelentes sentimentos concerteza, e oferecemos uma vida equilibrada aos nossos cães e a nós próprios, se assim nestes termos o cão pode ficar sozinho em casa e ser feliz como nós, maioritariamente, somos mais felizes quando temos um cão porque gostamos dele?

claro, aliás é por isso que os canis de abate em portugal estão vazios e não se vê um cão na rua.São as pessoas extremamente equilibradas que temos.
Critiquem os americanos por serem 80, nós somos o 8

[CarlotaM]

Parte II
(Continuação.)

Precisamente.
(E lembrei-me da Moslie, e percebi, na prática, o que me quis transmitir.)

Em teoria imaginamos, como todos os planos que vamos tendo na vida, um cenário quase idílico. Era essa a minha expectativa, em relação a ter um animal de estimação, que fosse idílico. Tinha expectativas desmesuradas, fruto de ter tido cães toda a vida, achava que sabia, mas não sabia porque os animais estavam sob a responsabilidade dos meus pais, e nunca minha.
Percebo perfeitamente que a “malta da cidade” (especialmente, mas, como sempre, com excepções), como nós, não esteja para aqui “tecida” e que, mais cedo ou mais tarde se comece, até inconscientemente, a querer encontrar uma saída para o problema em que se tornou o cão lá em casa.
Se achamos que somos pessoas “humanas”, fazemo-lo da forma mais humana possível, e tentamos encontrar um novo lar para o cão, se calhar com pessoas melhores do que nós, ou se calhar com pessoas que se revelam piores do que nós.
Se calhar se tivermos menos sentimentos e preocupações de consciência, e menos formação moral, acredito perfeitamente que optamos pura e simplesmente por nos vermos livres do problema o mais rapidamente possível, seja em que circunstância for.

O meu lado racional sabia talvez que o cão precisava que eu tivesse menos expectativas em relação ao seu comportamento e mais acções de forma a encaminhá-lo no sentido certo, ou seja, se eu quisesse um cão educado não podia simplesmente deixá-lo ser porque eles não nascem a saber como se comportar em nossas casas ou connosco, vão aprendendo, e essa aprendizagem é um caminho que não deverá ser negligenciado na sua importância. Temos que nos dar ao trabalho, sair da nossa zona de conforto, o que muitas vezes, é coisa que nem sabemos como fazer.

No nosso caso, nós, ou antes eu (a opção partiu de mim), optei por começar a procurar novos donos para o Leão. Donos esses que pudessem proporcionar-lhe maior compreensão. E encontrei, pessoas que tinham gente em casa todo o dia, e que, aparentemente, estariam mais aptas do que eu para assumir as mudanças de vida que traz um cão. Fiquei contente com a perspectiva de voltar a ter a casa a brilhar, as coisas no seu lugar, e que o Leão ia ficar bem entregue.


(Continua…)

[CarlotaM]

Parte III

Tinha a mala prontinha, uma quadrada, transparente, nela tinha colocado a suas coisas, lado a lado organizadinhas: A mantinha, a escova, o perfume em spray, o champô, os seus brinquedos, pratos e boletim de saúde.
Por cada pertence seu que ia colocando na malinha ia-me lembrando dos bons momentos que ele nos proporcionou, os mergulhos nos lagos, os dias de piscina, as brincadeiras, os passeios e corridas nos parques, quando ele veio para nossa casa, a mordiscar-me os dedos durante o trajecto do carro. Lembrava-me ainda das vezes que eu o embalava à noite, ainda pequeno, no meu colo, a cantar-lhe uma canção.

Depois lembrava-me, de novo, dos estragos, e de como não me sentia suficientemente apta (convencida) para continuar com ele para todo o sempre. Era uma escolha que eu via-me obrigada a tomar dado o erro que cometi em comprometer-me com algo para o qual eu não estava preparada, e não queria mais esse compromisso. Queria a minha vida confortável de volta.

Falei com várias pessoas para me ir organizando mentalmente. Ouvi opiniões diversas e reacções diversas.

Mas, isto é como tudo..temos que ser nós. Não nos vale de nada os avisos prévios do trabalho que nos dá um cão, de como ele irá alterar as nossas vidas e se estamos preparados para isso, isso não nos convence a mudar de ideias se tivermos vontade de ter um cão, porque o lado emocional se calhar fala mais alto, lá está, criamos a imagem ideal do que imaginamos ser ter um cão em casa. E depois, muitas vezes, o mais certo, é não corresponder ao que queríamos que fosse.

Eu desisti de o dar, decidi antes mudar a minha atitude, porque amo aquele cão. A convivência diária com ele não nos passou impune e afeiçoámo-nos a ele, e à vida nova que ele nos proporciona. A questão deixou de ser se ele pode ficar em casa sozinho, a questão nem passa sequer pelo espaço maior ou menor que temos para o animal, que nem é um mau espaço, a questão passa tão somente se estamos disponíveis para nos dedicarmos a ele, para mudarmos os nossos hábitos (citadinos) de forma a não negligenciar o cão e as suas necessidades reais – as dele, não as nossas.

Posso-vos dizer que o cão e nós, nos estamos a dar todos muito melhor depois desta nossa mentalização. O Leão está mais calmo e mais receptivo desde que nos debruçámos seriamente em nos dedicarmos ao sucesso dele, em vez de ficarmos expectantes à espera que ele, por si só, cumpra ou falhe as expectativas que temos/tivemos para ele.
De novo, a decisão foi minha, porque, acho, que basta um elemento da família transmitir aos outros uma determinada mensagem para todos nos encaminharmos num mesmo sentido. Tal como optei por transmitir que seria melhor dar o cão, agora assumi a culpa que tenho de não me ter disponibilizado de facto, verdadeiramente, para ser dona dele. E todos lá em casa encaminhamos neste mesmo sentido – o Leão é o nosso cão, somos responsáveis por ele e assumimos essa responsabilidade. Não nos está a custar nada, custava-nos mais quando estávamos a repudiá-lo interiormente.

Ficar em casa sozinho não está nada relacionado, como num outro tema sobre a ansiedade de separação neste fórum, eu acho que o cão sabe se estamos “com” ele ou”contra” ele, e, estando com ele, prontos para o que isso acarreta, deixa-nos a todos mais serenos e menos enervados.

O Leão deixou de estar sozinho de facto porque embora eu não o deixe tão facilmente cometer os mesmos erros, lá em casa, eu também não cometo os mesmos, sou eu que tenho a obrigação de o ensinar e não é ele que tem a obrigação de cumprir o que não sabe, também disponibilizei-me, de alma, a amá-lo de forma realista e não numa qualquer visão romântica como antes tinha.

[LuluB]

É a isto que eu chamo "ver as coisas pelo ponto de vista do cão".

Eles sabem mesmo, CarlotaM, pode crer.

E mais não digo... por ora.

[sofiaabreulopes]

amei!!!!! Uma linda história de amor, que me deixou sem palavras!

Obrigada por ser assim!

[Qazzam]

Vou deixar algo que escrevi aqui antes de ter lido a parte III
"Li quase tudo o que aqui foi escrito e com especial cuidado aquilo que foi escrito nos ultimos dois posts da criadora do topico.
Tudo o que voce escreve sao os momentos maus que passou em 6meses...So ter/ver coisas mas em 6meses é muito mau mesmo,mas da sua parte.Nao a conheço nem sou ninguem para a julgar,mas em minha casa,todos os dias ha momentos optimos.Eu chegar a casa e ser recebido como Cesar era recebido sempre que se aparecia ao povo em Roma,eu acordar a meio da noite e ver a minha menina a dormir,eu receber um mimo quando tou mais stressado,eu receber um elogio quando passo na rua,eu rir me quando alguem me chama tolo por incluir a minha miuda em tudo...Tudo isso é impagavel!Se ha momentos maus?NAO!!!!ha menos bons,quando eu chego a casa e vejo que o tapete que tinha um pouco de gordura ja deixou de ser tapete e passou a ser um farrapo,quando ela nao obedece a uma ordem,mas isso sao peanuts!
Li que voce se queixa do cheiro a cao/necessidades...ja pensou que quando chega a casa,depois de um dia de trabalho,o seu cheiro,ao nariz do cao,é,provavelmente bem pior mas mesmo assim ele entrega se de alma e coraçao a si?
Pergunta qual o prazer de ter um animal perante tantas coisas "más"(no seu ponto de vista)...ja pensou que,se olharmos com os mesmos olhos que voçe,essa pergunta se pode aplicar a tudo na vida?Qual o prazer de ter um filho que pode nao nos deixar dormir durante meses,nos fazer gastar rios de dinheiro etc etc?Qual o prazer de ter um marido/esposa se provavelmente teremos diferenças,discussoes,vontade diferentes etc etc?
Da minha parte so tenho a dizer,ter um AMIGO de 4patas,é um prazer que nao ponho em palavras,so quem vir a relaçao que tenho com ela pode perceber.""
Fico feliz por ver que escrevi em vao,e que viu tudo isto antes de cometer provavelmente um grande erro!
PARABENS!!!

[tipets]

CarlotaM gostei muito de a ler, de certeza que muitas pessoas se revêm nas suas palavras! Acho muito importante este tipo de testemunhos. Obrigada!

[CarlotaM]

Obrigada pelas vossas respostas, e acolhimento, porque sei que seria e é fácil condenar quem por vezes passa por experiências diferentes das nossas.
Eu já não condeno ninguém com tanta facilidade, dentro dos limites de decência humana, somos capazes dos mais diversos e inesperados (até para nós) sentimentos.

Achei importante deixar aqui o meu testemunho porque é provável haver pessoas a sentirem, ou algum dia, virem a sentir o mesmo que nós sentimos, ao tomarem a decisão de ter um cão.

Foi problemático, sinceramente. Ao mesmo tempo porque sentia-me de consciência pesada de cada vez que eu sentia que falhava para com o cão (coisas que eu não queria fazer mas que sentia-me pressionada a fazer, por exemplo, sair com ele todos os Sábados e todos os Domingos e Feriados, ou então quando ia jantar fora e ele ficava em casa sozinho, no fundo de cada vez que eu saía de casa sem ser para trabalhar e não o levava, culpabilizava-me por isso). Deixei-me disso, nem me sinto culpada por não estar com ele, porque estar com ele passou a ser um prazer em vez de uma obrigação a cumprir. Percebem? Mudou a atitude. E sei que posso ir jantar fora que ele fica feliz, porque ele não está sozinho na sua vida, está connosco mesmo nos momentos que não estamos juntos.

Não quero também transmitir uma mensagem errada, de que, afinal, acabou por ser tudo muito bonito no final do filme.
Acho que isto é um processo progressivo de aprendizagem, que, agora, estamos aptos a seguir.
Para a semana o meu marido vai para fora e o Leão obedece melhor ao meu marido do que a mim. Sei quando o meu marido não está, que são algumas vezes, o Leão tende a ter um comportamento diferente, porque eu sou mais condescendente. Para a semana vai ser mais uma etapa, de como ele reage com esta eu mais assertiva, mas mais disponível para ele.

Por outro lado, e já nem sei quem do fórum me disse, se a LuB, a LuMaria ou a Moslie, mas constato que é verdade, os cães não precisam de todo que se gaste rios de dinheiro neles para serem felizes. Eles precisam de atenção e de calma e de constância. Um kong não vai resolver a relação problemática que temos com o cão, quando tudo o resto falha. Eu sei, que fartei-me de comprar kongs, peluches, ossos, brinquedos. São complementos apenas ao principal. Abafam-nos a consciência quando sabemos que não estamos a ser honestos.

Quis colocar isto neste fórum nesta discussão para servir quem sabe de alguma coisa. Nós e o Leão somos reais, e nós e o Leão passámos por isto, estamos a superar e estamos felizes ( e ele não precisou de começar a roer a própria pata ou ser abandonado ou ir a caminho de abate para nos consciencializarmos do mau caminho que estávamos todos a seguir).

O Leão é o nosso melhor amigo (e nós somos os melhores amigos dele).

[CarlotaM]

Achei engraçada uma pergunta que me fizeram há dias. Aparentemente, depois desta minha experiência com o cão, quem me conhece já me acha apta a opinar sobre a matéria e assim, é “ver-me” a oferecer conselhos. A pergunta foi, se tivermos um cão pequenino em casa, assim, do género de um chihuahua, se até esses, precisamos de os passear (até para fazerem as necessidades).

E repito o que disse antes: Eu já não condeno tão facilmente. As pessoas são sinceras nas suas dúvidas e não é uma questão de cretinice.

Esta pergunta serve para se ver que o nosso desconhecimento e a nossa falta de preparação, especialmente quando estamos de tal forma embrulhados numa vida “assepticamente” citadina, “empresarialmente” organizada, tão longe dos animais, que leva-nos a, até dentro do que são as nossas mais bem intencionadas acções, por exemplo, no caso da pessoa que me fez esta pergunta, porque quer um animal de estimação para os filhos, a não termos a percepção real do que é ter um cão. Temos uma visão completamente fantasiada e distanciada desta realidade.

Se calhar, esta seria uma pergunta que, há uns tempos, até eu poderia ter feito.

[Netherwing]

O Leão é um patudo de sorte

gostei de ver estes desenvolvimentos... parabéns!