
Quando cheguei a Portugal, eu não sabia nem uma palavra nesta língua.
O meu marido é filho de portugueses e cresceu na Quinta da Saudade, o clube português de Buenos Aires, onde ouviu falar português tuda a sua vida. As filhas foram logo á escola onde foram muito bem recebidas pelos colegas e ao pouco tempo já falavam quase correctamente, com essa facilidade que só os miúdos têm para adaptar-se.
Mas eu só tinha aprendido a dizer "desculpe, não falo português" e dizia aquilo cada vez que uma pessoa ameaçava falar comigo na rua.
Um dia (já levava 2 meses cá) disse para mim própria: "isto não pode ser, tens que aprender a falar" Queria comprar postais, e não tinha visto perto da minha casa, portanto pensei numa frase em castelhano, peguei no dicionário e no livrinho de verbos e ía apontando num papel:
dónde=onde
puedo=posso
comprar=comprar
postales=postais
enviar=enviar
familia=família
"Pois isto não é assim tão difícil" pensei. O meu "alvo" era o senhor do quiosque dos jornais, que não falava castelhano mas que tinha sido muito amável comigo. Fui lá, disse a minha frase, ele indicou-me uma tabacaria na baixa e lá comprei. Voltei á casa numa alegria.
No jantar, contei tuda orgulhosa o que tinha feito.
"Que bom -me disseram- e o que é que foi o que disseste?"
E eu, muito contente, repeti a minha trabalhosa frase:
"Onde posso comprar postais para enviar a meu família?"


Por muito tempo, perante qualquer erro meu, as miúdas diziam-me: "A mãe ainda esta a aprender, mas MEU família é que já fala bem português!"
Alicia