Lamento discordar mas o "cão tem de saber que é o dono", e qt mais cedo souber disso melhor.
Aqui, discordo seriamente. Um cão não conhece o conceito de dono, conhece sim o de líder, são conceitos diferentes. O conceito de dono é um conceito de posse, baseado principalmente em medo. O conceito de Líder é um conceito baseado em respeito e conhecimento que é necessário trabalhar em conjunto. O conceito de dono abre as portas à lógica de que o cão não tem de perceber porque é que algo é feito desde que o faça. O conceito de líder obriga a que o cão participe voluntariamente no treino. Uma matinha na caça é um bom exemplo, todos os elementos seguem as ordens do líder, não porque receiam que se não cumprirem estes os morda, mas sim porque sabem que há um objectivo a atingir em comum.
Os cães têm uma estrutura social muito rica, em que o conceito de líder já está introduzido ao animal, basta aproveitar aquilo que já existe. Ao contrário dos gatos, em que esse conceito não existe e tem de ser criado. Para o meu gato tive de lhe ensinar o conceito de DONO, pois ele não tinha nada parecido na sua natureza.
Para mim um cão que "obedeça apenas porque quer" está mal treinado! Qualquer cão, mas principalmente um cão "possante" tem de se habituar desde cedo a pura e simplesmente obedecer, e não só quando quer!
Ok, talvez seja melhor explicar o que penso. Eu tenho um cão “possante”, e normalmente passeio com ele solto. Por tal, existem algumas ordens (tipo ficar quieto e vir a mim) que não posso permitir que o cão hesite pois disso pode depender a vida dele (e não só). Assim, ele sabe que não existe a opção de não obedecer a essas ordens. O que fiz foi lhe ensinar que a essas ordens ele tem de obedecer primeiro e descobrir depois o que se passa. Mas isto é separado do conceito dono. Ele continua a obedecer porque eu lhe ensinei a querer me agradar e não a recear que o céu lhe caía em cima.
Mas olha, já há muito tempo que não tenho cães e os ultimos treinos/adestramentos que ajudei a fazer (já lá vão mais de 15 anos) foram a Filas, PAs, Dálmatas, srd... por isso é natural que passado tanto tempo já haja mais conhecimentos e métodos melhores; mas neste ponto acho que se tivesse um cão agora, era assim que procederia, guloseimas seriam muito raras!
É como com as crianças, detesto a conversa "se passares de ano o pai/mãe oferece-te um PC novo, bicicleta..." para mim a criança tem de perceber que o passar de ano está a edificar o seu futuro e é um dever que se tem de aceitar e cumprir. Lógicamente que se após a criança ter passado de ano os pais o queiram presentear tudo bem, mas isso não deve de ocorrer sempre, nem ser "acenado" como uma "troca", a criança começa a agir por interesse!
Até porque muitas vezes os que não passam de ano tb merecem de algum modo um carinho e atenção especial dos pais, para que a criança se sinta motivada para o ano fazer melhor sabendo que os pais estão a apoiá-lo....
Já que abriste a porta com estas comparações, eu vou usá-la!

Eu sou um dos defensores do treino com reforço positivo, mas não sou extremista, uso e considero válido o reforço negativo (o meu cão que o diga que já levou muitos tabefes), mas considero que o reforço negativo deve ser usado para fechar caminhos e não para os abrir. Quando eu ensino algo de novo, só uso reforço positivo, quanto mais melhor, ou seja escolho aquilo que o cão MAIS gosta. Em alguns casos são guloseimas, noutros são brinquedos e noutros até são festas (há cães super-carentes). Depois do cão perceber aquilo que é pretendido dele é que introduzo o reforço negativo. (e.g. guloseima para ficar quieto, um não forte se se mexer antes da ordem, um tabefe se sair do sitio, e mais guloseimas e muitas festas se ficar quieto.)
Se certa forma comparo a actual educação (treino/adestramento) de um cão com a das crianças. (é agora que vou usar a tal porta que abriste

)
Quando eu andei na primária, era normal os putos levarem reguadas quando não sabiam a tabuada de cor e salteado, hoje em dia essas práticas são consideradas barbarás (até parece que foi à muito tempo…) , mas na minha opinião passou-se do 8 para o 80, hoje um professor não pode encostar um dedo a uma criança, mesma que esta lhe esteja a chamar nomes e cuspir em cima, sem que haja logo um processo disciplinar. Acho que aqueles que realizam os treinos 100% com reforço positivo estão no 80. Eu prefiro um meio-termo, positivo ao máximo que puder, mas o NÃO faz parte da minha linguagem e dos cães também.
Concordo a 100% com a comparação que fizeste com a passagem de ano das crianças, é ridículo que o passar de ano seja feita em troca de uma recompensa, a criança tem de perceber que aquilo é para o bem dela. Tal como os cães. Mas é tão ridículo dar a prenda como dizer “se não passas de ano ficas no quarto durante as férias”, isto continua a ser uma troca, mas agora com o factor medo associado. A criança continua a não perceber que passar de ano é para o bem dela. Tal como os cães.
O problema é que ensinar que, passar de ano é bom para a criança, dá muito trabalho, tal como nos cães, e a maior parte das pessoas toma o caminho mais fácil.
Eu acho, que um grande motivo porque alguns treinadores se opõem a treinos fortemente orientados ás recompensas é porque vem a recompensa como uma troca. Não é o caso, a recompensa não é uma troca, é uma forma de explicar ao cão que fazer aquilo é para o seu bem, pelo facto de ele ter feito algo que nós lhe pedíamos ele ficou mais satisfeito, ou contrário de o ensinar que se não fizer o que lhe pedimos ele fica mais insatisfeito.