Charlie2 Escreveu:bem, eu explico melhor. Numa depressão, digamos, causada por um factor exterior, em que uma pessoa se recolhe, e se deixa ficar. Se for internada num centro de saude porque não sai desse estado (e aqui já falo com conhecimento de causa), a primeira coisa que lhe acontece é ser quase forçada a ganahr uma rotina. Levantar, comer, fazer exercício, mexer-se. Claro que depois há as terapias, as ocupacionais, etc etc. E em muitos casos o regressar á rotina, ás regras e disciplina são grande parte do processo na cura. Foi apenas nesse sentido que quis fazer a comparação.
Aliás passei bastante tempo internada, com uma doença extremamente debilitante, e mesmo assim, todos os dias ás nove «tocava a sineta» para o banho, almoço, jantar, etc etc, como a dizer «snap out of it».
Claro que estou de acordo consigo, com os cães é mais fácil ainda porque eles não têm a nossa psique e se adaptam mil vezes melhor que nós a uma nova situação
Peço desculpa se não me fiz entender.
Portanto, a analogia que fez tem a ver com a necessidade de se instalar disciplina, rigor e tratamento sistemático e faseado na forma de lidar com ambos os casos: tanto com as depressões humanas quanto com as ansiedades de um cão.
Ora, a analogia está muito bem conseguida, concordo perfeitamente com ela. Mas... repare, é justamente isso que tem vindo a ser dito aqui no tópico, sobretudo nas pessoas da Mimoo, do Zeca e de mim próprio. Em vez de entregar o cão a uma exposição aos estímulos que lhe provocam medo, devemos encetar um cuidadoso programa (rotina, porque não?) de contra-condicionamento, e isso implica, justamente, disciplina, rigor, sistematicidade e faseamento. Mas, para manter ainda a sua analogia, repare que o internamento da pessoa deprimida tem como objectivos: (i) poder controlar melhor as rotinas e (ii) afastá-la do ambiente que provocou o estado depressivo. Não acha que é exactamente isso o que se passa quando dizemos que não se deve expor o cão a um ambiente com o qual ele ainda não sabe lidar?
Ok, eu percebo que a sua analogia tenha mais em mente a ideia de que se fizermos festas a um cão quando este revela medo, poderemos estar a contribuir para enraizar esse medo. Mas aqui creio que a analogia perde força. Desde logo, porque a depressão é um estado contínuo, ao passo que o medo dos cães é apenas despoletado na presença dos estímulos em relação aos quais, pois claro, o cão se sente desconfortável.
Outra coisa: a Charlie, no seu exemplo, está a pensar em todo o ar de comiseração e pena com que os parentes muitas vezes se dirigem a um familiar (profundamente) deprimido. E isso é claro que não ajuda em nada a que essa pessoa se sinta melhor. Mas não é isso que se passa quando um dono afaga o seu cão numa situação de medo.
Também tal como já ficou claro aqui neste tópico, afagar o cão quando este demonstra medo não é a melhor opção. Se detectámos medo no nosso cão, a primeira coisa a fazer é retirá-lo dali; identificar a causa do medo e, posteriormente, começar um gradual trabalho de "apagamento" desse medo. Afagar o cão significa que nos vamos manter ali naquele sítio, pelo que só estamos a ajudar a piorar as coisas: não por fazer festas, mas por permanecer ali. Ainda para mais, se um cão está com medo, ele vai estar tão focado no estímulo que pouco ou nada vai reparar naquilo que se está a passar entretanto; experimente tentar dar comida a um cão que já passou o "limiar de segurança"; se ele recusa comida, certamente que pouco se está a marimbar para as nossas festas... Se, ao invés, as nossas festas tiverem efeito, então isso significa que o cão não está propriamente com medo, logo, não estamos a contribuir para que o medo aumente...