domingo jun 16, 2002 10:55 pm
Para Florinda:
“Mete-me muita confusão que alguém possa considerar um desporto andar aos tiros a animais indefesos por prazer. Prazer?!!! E acho um piadão a quem fala do “desafio” de andar pelos campos à procura da presa, e depois matá-la. Desafio?!! Matar animais que não se podem defender com as mesmas armas?
Um dos prazeres da caça é a confraternização, o dia passado em boa companhia numa paisagem bucólica, como afirmam muitos? Que bonito… E não podiam fazer tudo isso sem andar a matar?
Proponho-lhe um verdadeiro desafio: em vez de sair com a caçadeira, saia com a máquina fotográfica. Garanto-lhe que é um desafio muito maior tirar uma boa fotografia do que matar um animal indefeso. E também poderá passar dias inteiros nos campos. Se quiser aumentar o desafio, leve os cães, para assustarem a bicharada, tornando muito mais difícil conseguir uma boa fotografia. “
Em relação a este comentário penso que comento exactamente o que comentei para a Elsa.
”O direito à não caça é um direito que todos têm. Eu gosto de observar aves, e acho que tenho tanto direito de andar pelos campos como os caçadores. O direito de andar pelos campos sem me arriscar a levar um tiro, quero eu dizer. Acha isso possível em época de caça? E, sim, as rolas selvagens são tão minhas como suas. Ou seja, não são de ninguém!
Quanto à invasão de propriedade alheia para caçar, isso era permitido até há bem pouco tempo. Agora já não é. Mas ai de quem se atrever a impedir a entrada de caçadores na sua propriedade! Arrisca-se a virar espécie cinegética! Um vizinho de uma colega minha correu com uns caçadores do pomar dele e, no dia seguinte, tinham-lhe cortado 30 das suas melhores árvores de fruto.”
Atenção: o direito á não caça esta contemplado na lei mas para propriedades, não para pessoas.
A propriedade privada pode ainda ser invadida desde que não tenha casas a 250m, não esteja cercada ou não esteja balizada com sinalização de não caça. Um caçador nestes parâmetros está a caçar legalmente. Cuidado com o que poderá fazer!
”Disse o FAbarm:
“Para finalizar, não se esqueçam que foram muitos os caçadores que através da sua carolice conseguiram repor as espécies autoctones que muitos haviam dizimado e que em certa medida evitaram a sua extinção. “
Esta tem muito que se lhe diga… As espécies autóctones tinham sido dizimadas por quem? Não foi pelos caçadores? Então, devemos dar os parabéns aos caçadores por terem reposto, no seu próprio interesse, o que tinham anteriormente destruído? Não fizeram mais do que a sua obrigação! Se essas espécies tinham sido dizimadas foi precisamente devido à caça desregrada. Além disso, se repuseram as espécies autóctones, introduziram também espécies estranhas ao território nacional (como a perdiz vermelha), o que constitui SEMPRE um grande risco para o equilíbrio do ecossistema, pondo em perigo a sobrevivência das espécies autóctones. Além disso, os caçadores são responsáveis pelo extermínio de espécies carnívoras PROTEGIDAS POR LEI que são consideradas prejudiciais à caça, por competirem com os caçadores. Havia até (se calhar, ainda há, apesar de ser proibido) uma profissão muito “nobre” que era a profissão de “bicheiro”, uma pessoa encarregada de eliminar as espécies competidoras nas reservas de caça (e fora delas…). Portanto, numa situação extrema, temos espécies autóctones, protegidas por lei, a serem dizimadas para não competirem com os caçadores na caça a espécies importadas! Realmente, acho que os caçadores e a caça estão de parabéns… NOT!
Em relação à introdução de espécies estranhas ao ecossistema, há o exemplo bem conhecido dos coelhos na Austrália, que alguém mencionou. Os coelhos foram introduzidos na Austrália (adivinhem porquê? Isso mesmo: para caçar!) e, como não havia predadores naturais, reproduziram-se que nem coelhos (bom, afinal, eram coelhos, não eram?), e começaram a destruir as culturas. A mixomatose foi introduzida porpositadamente na Austrália para tentar eliminar os coelhos, porque os caçadores não conseguiam dar conta deles. Aliás, ninguém conseguia! Não resultou. Tentou-se também dinamitar as luras dos coelhos e outros métodos desesperados que não tiveram bons resultados. Mas o problema persiste, e não se livrarão dele tão cedo. E os coelhos são animais tão dóceis, tão fofos e aparentemente tão inofensivos, não é? Ninguém podia imaginar as consequências devastadoras que a introdução dos coelhos iria ter. As consequências nunca se podem prever.”
Só uma pequena correcção: A perdiz vermelha ( Alectoris rufa) é a autóctone, as exóticas são a Perdiz chukar (Alectoris chukar) e a Perdiz Grega ( Alectoris graecca).
Quanto aos coelhos como exoticas na australia para alem do que mencionou, tambem levaram á extinção varias especies de marsupiais e puseram em risco outros tantos por competição.
O virus da mixomatose não só foi introduzido para tal, como antecipadamente foi melhorado em laboratório. Os problemas que temos de mixomatose foram importados dessa triste experiencia.
”Disse também o Fabarm:
“Isto de ter: éxóticos, coelhos, tartarugas, hamsters, cães de climas polares ou desérticos, não causa confusão a ninguem, pois não? “
Não, desde que sejam bem tratados, de acordo com as suas necessidades específicas Sabe o que me faz realmente confusão? Que a Lei não me permita ter um melro numa gaiola em casa, mas que me permita ir para os campos com uma caçadeira em punho e matar todos os melros que me apareçam à frente, porque é uma espécie cinegética. É curioso, não é? Cofesso que esta me transcende!”
De facto não é verdade.
O melro é uma especie cinegetica que nunca foi colocado em edital anual pelo conselho nacional da caça, logo não é permitido o seu abate. Como espécie cinegética, desde que com alvará passado pela DGF pode deter um melro em cativeiro.
Saudações!!
<p>Francisco Barros</p>
<p><a href="http://vigilantesnatureza.paginas.sapo.pt">http://apgvn.pt.vu</a></p>
<p><a href="http://www.biodiversity4all.org">http://www.biodiversity4all.org</a> </p>