Bom... em 1º lugar quero apresentar as minhas desculpas ao nel pelo facto do tópico mudar de rumo.
Em 2º lugar quero agradecer á Isabel e ao josé Luis o facto de terem proporcionado uma conversa lucida, interessante e com nível, da qual tirei bastante proveito.
Os meus conhecimentos de genética resumem-se basicamente ás leis mendelianas que aprendi enquanto estudante.
No entanto como sou curioso, tenho sempre algumas duvidas.
É tudo questão de alelos bons e alelos maus. As experiências feitas com ratos mostram que, de uma forma geral, a consanguinidade leva a uma redução da fertilidade e crias mais débeis. No entanto, foi conseguida (pelo menos) uma linhagem de ratos consanguíneos praticamente a 100% (resultante do cruzamento sistemático de irmão com irmã durante gerações a fio), sem quaisquer problemas, que mostra que não é propriamente a homozigocidade em si que é má mas o facto de fixarem alelos deletérios.
Será que existe alguma referencia que indique após quantas gerações se começa a notar essa tendencia?
Digo isto porque estive vários anos com um biotério de Ratos-dos-celeiros (Mus musculus) para reprodução de presas vivas para aves de rapina em recuperação.
A população de ratos foi fundada com 2 femeas e um macho, irmãos de ninhada. Durante tres anos foram criados milhares de ratos. Em cerca de 50% dos casos os cruzamentos foram efectuados igualmente entre irmãos sistematicamente geração após geração. Apenas notei decréscimo na fertilidade a partir praí da 20ª geração e apenas em alguns exemplares (os outros continuavam com a prole “normal” de ratos).
Também não me lembro de ter aparecido alguma vez alguma cria com defeitos graves ou mutações (exceptuando algumas manchas brancas nas patas e na cauda).
Também uma cadela filha de irmãos deu á luz 13 crias. Mas tratando-se apenas da única cadela dessa ninhada que deu á luz, não serve para estatísticas.
Quanto ao cruzamento irmão x irmã : dita o empirismo que este tipo de cruzamento é pouco interessante, pelo que provavelmente não o faria.
Eu fiz. E daí resultou provavelmente o melhor cachorro até agora (infelizmente vítima de acidente precoce). Mas essencialmente estou de acordo, o resto da ninhada não era nada de especial, para além de um exemplar ter ido buscar defeito ao nível do comprimento do pelo.
A 2ª ninhada consanguinea tambem não me encheu as medidas, com a agravante de ter detectado que 2 exemplares tinham maus aprumos traseiros e nos quais foi detectado mais tarde “coxa valga”, defeito hereditário recessivo presente em pelo menos 2 dos meus cães que desconhecia completamente com a simples análise de pedigrees.
Valeu pelo facto de ficar a conhecer melhor o que tenho, apagar as contas feitas e tentar voltar a faze-las de novo. E... provavelmente encostar uma cadela ás boxes...
Em contrapartida, no out-cross do ano passado no meio de alguns exemplares porreiros, saiu-me provavelmente o maior charuto de todos os tempos.
E, deu para ficar a saber que uma das melhores linhas mundiais também transmite pelo fora do estalão. E esta?
Isto da genética é sempre um tiro no escuro uma vez que não temos em mãos os respectivos códigos genéticos dos exemplares em causa.
Não limitar a consanguinidade das ninhadas pode permitir-lhe a si, que tem o Know-how necessário, utilizá-la com um mínimo de riscos (embora não sem riscos) e dar expressão ao seu poder criativo. Mas também permite que criadores ignorantes ou pouco escrupulosos se dediquem à "criativa" tarefa de abastardar uma raça. Eu penso que uma pequena perda de criatividade não é preço demasiado alto quando estão em causa saúde, funcionalidade e temperamento.
Isto é válido. Mas deixe que lhe diga que também já observei boa gente abastardar ainda mais rapidamente raças precisamente por fugir a sete pés do papão da consanguinidade.
Em suma, na minha opinião, ambos os métodos são válidos desde que se tenha em conta a escolha dos exemplares.
Analisando o trabalho de alguns criadores (criadores de elite internacional), posso constatar que nenhuma linha de sangue se consegue sem recurso á consanguinidade, bem como ainda não vi nenhuma linha perpetuar-se eternamente sem recurso a “sangue novo”, quer para corrigir alguns defeitos, quer para acompanhar a evolução da raça.