domingo out 23, 2005 12:05 am
Bem, voltando ao tema do tópico (e uma vez que o membro CildelP, que é quem mais percebe de Serras, abandonou esta conversa...), irei relatar o que se passou este verão com uma cadela minha. Pode ser que ajude nesta situação...
Quando era miudo tive um cão SRD de pequena estatura que mordia tudo e todos. Quando voltei a ter cães, sempre disse para comigo: Cão meu que alguma vez me vire o dente, será a primeira e a ultima vez.
Já passaram por aqui quase 2 centenas de cães. Nunca nenhum me mostrou a "cremalheira" nem sequer ameaços. As unicas (poucas) vezes que ligaram o "motoserra", foi estaladão com força no focinho (de modo a ficar á rasca da mão e deixa-lo a fungar durante meia hora) e foi remédio santo.
Alias, já nem preciso gritar com a maioria dos meus cães, a não ser para lhes chamar a atenção. Basta os meus gestos para eles perceberem o que eu quero e se estou chateado com eles ou pelo contrário. E eles respondem em conformidade.
Mas neste verão estive quase com um problema que se poderia tornar ainda mais grave.
Tenho uma Husky siberiana de 5 anos, que após a morte da irmã, o ano passado, começou a mudar gradualmente de comportamento.
Primeiro começou a mostrar-se algo indiferente comigo, depois começou a mostrar resistencia quando necessitava de manipulação mais intensa (escovagem, aplicação de desparasitantes, etc.), sendo necessário imobilizá-la á força. No entanto nunca mostrou agressividade.
Por comodismo, fui adiando a resolução de um problema que eu estava a ver acentuar-se.
Este verão, ao aplicar-lhe repelente nas orelhas por causa das moscas, resolveu rosnar-me. Como instintivamente faço neste casos, levou uma chapada a todo o gaz com as costas da mão no focinho. Não é que ela se tentou atirar a mim, obrigando-me a recuar?
Gritei-lhe e dei-lhe ordem para se deitar.
Não me ligou pevas, ficando a "pavonear-se" e a fitar-me com aquele "olhar", que nunca tinha visto nela, de quem está a desafiar a liderança.
Pensei para comigo: Tenho aqui um problema grave, tenho que agir imediatamente!!! Se não conseguir, vou perder a cadela.
Não tinha passado ainda 2 minutos e agarrei aquilo que estava mais perto (um arnês de mushing), voltei a tentar aplicar o produto e voltou a rosnar. Com o arnês na mão atrás das costas, levou um tabefe com a mão esquerda. Tentou saltar para cima de mim, levou com o arnês com toda a força, voltou a tentar, voltou a levar, isto tantas vezes até desistir e se encolher a um canto a sangrar do nariz e da boca.
Tentei colocar-lhe a mão em cima e rosnou. Passei-me da cabeça e saltei para cima dela agarrando o pescoço e imobilizando-a de costas (se me mordesse, provavelmente no dia seguinte era eutanasiada). Após se debater uns instantes, ficou quieta e urinou-se. Tivemos ambos sorte.
A partir daí ficou com tal medo de mim que bastava um gesto para se acachar contra o solo completamente.
Perdi muitas horas a passea-la á trela (só eu e ela) para ver se restablecia confiança. Poucos frutos deu. Bastava qualquer gesto brusco ou puxão mais forte na trela para que ela se "acachapase" no chão.
Tinha "quebrado" completamente a cadela. Mas do mal o menos, antes assim do que agressiva.
Continuou assim. Fugia de mim e para lhe por a mão em cima era preciso encurrala-la, onde sem saida, se prostrava no chão.
Como sou teimoso, disse para comigo: Hás-de vir comer-me novamente á mão. Começou o "jogo" de dependencia pela fome.
Não vinha comer á minha mão, ficava sem comer.
Não foram 3, mas 5 dias de jejum até se resolver vir até mim buscar comida, embora sempre com receio. Com o passar do tempo, começou a vir mais confiante. Actualmente já vem na boa.
Embora ainda se assuste com gestos bruscos, está a ganhar a confiança que eu gostava que fosse como outrora. Mas nestas coisas tem que se ir com calma. Pelo menos agressividade nunca mais mostrou e já fica eufórica com a minha chegada a casa..
Conclusão: A minha negligencia perante a mudança de comportamento da cadela está-me a dar actualmente um grande trabalho (como tenho 10 cães, torna-se ainda mais dificil).
Mas aquilo que quero transmitir é:
1- Estraga-se um cão em pouco tempo, mas para o recuperar demora uma eternidade.
2- Deve-se actuar o mais rápido possivel, com as medidas adequadas (que podem ser mais ou menos drásticas), sob pena de cada dia que passa se tornar mais dificil resolver o problema.
3- Medidas que podem parecer-nos crueis aos nossos olhos, podem ser as unicas compreendidas pelo cão.
4- A agressividade dos cães adultos para com os donos nem sempre é irrecuperável.
5- Fico sempre muito reticente com estes casos, uma vez que tenho noção que a maioria dos donos não sabem lidar com a situação e regeitam por vezes medidas algo drásticas, mas que são a unica forma de evitar o abate.
Este caso não foi com Serra da Estrela, mas no fundo as coisas não são assim tão diferentes.
Desculpem lá o testamento...
<p>Francisco Barros</p>
<p><a href="http://vigilantesnatureza.paginas.sapo.pt">http://apgvn.pt.vu</a></p>
<p><a href="http://www.biodiversity4all.org">http://www.biodiversity4all.org</a> </p>