Na minha modesta opinião (porque um fórum trata de isso mesmo - opiniões!), há muito desconhecimento ao nível das reais necessidades dos animais (cães e gatos), enquanto animais domésticos que são.
E no que respeita a rações, as opiniões são muito diversas, cada caso é um caso, os cães, tal como as pessoas, também não são todos iguais, e os alimentos, apesar de conterem os mesmos ingredientes, não significa que sejam igualmente bons!
A lista de ingredientes e a análise média, são informações que constam obrigatoriamente na rotulagem dos alimentos para animais. Embora possam fornecer dados generalistas sobre o tipo de ingredientes utilizados no processo de fabrico do alimento, não constituem um indicador da qualidade dos seus componentes.
Da mesma forma, os ingredientes variam muito em relação à sua qualidade e, consequentemente, à sua digestibilidade, ao teor em aminoácidos, à disponibilidade dos minerais e a simples listagem é omissa quanto à quantidade de matéria indigerível presente no alimento.
Infelizmente, para a maioria de nós, não há forma de o consumidor determinar a qualidade dos ingredientes seleccionados através da leitura da lista de ingredientes. Algumas marcas Premium de elevada qualidade podem, inclusivamente, ter uma lista de ingredientes idêntica a um alimento de baixa qualidade, uma vez que é impossível apurar a verdadeira qualidade dos ingredientes pela simples análise do rótulo da embalagem.
Quanto à polémica das rações com mais ou menos carne:
A regulamentação obriga os fabricantes de alimentos a inscreverem os ingredientes por ordem decrescente de peso, antes do processo de fabrico. O facto do ingrediente “carne” constar em primeiro lugar na lista de ingredientes pode ser uma estratégia de marketing e induzir o consumidor em erro. Por exemplo, "carne" (muitas vezes designada por "carne fresca") pode aparecer no topo da lista, dando a ilusão de ser a principal contribuição nutricional. Contudo, 70% do seu peso é água, a qual evapora durante o processo de cozedura!
Imaginemos que este alimento comporta também 20% de milho, 20% de arroz, 15% de peixe desidratado, 10% de gordura de aves e 10% de óleo vegetal. O fabricante poderá imprimir em destaque “Borrego” na lista de ingredientes, mas a categoria “cereais” serão os principais ingredientes em termos quantitativos.
O resultado de algumas marcas conhecidas utilizarem várias fontes de proteína (hidrolisado de soja, glúten de trigo, carne de aves desidratada, ovo desidratado) reduz o peso de cada uma e, consequentemente, reduz a possibilidade de constar nos primeiros lugares da lista de ingredientes.
Em relação à utilização de proteínas animais ou vegetais:
A qualidade de um alimento é determinada através da medição da digestibilidade dos vários nutrientes que entram na sua composição. Este processo consiste em calcular a quantidade de alimento que foi absorvida pelo organismo comparativamente ao volume total ingerido.
Embora erradamente, é frequente fazer a comparação entre proteínas vegetais e proteínas animais, considerando estas últimas muito superiores sob o ponto de vista qualitativo. De facto, a reduzida digestibilidade das proteínas de origem vegetal é inteiramente devido à sua matriz fibrosa. A eliminação das fibras alimentares indesejáveis através de vários procedimentos tecnológicos permite que as proteínas de origem vegetal atinjam níveis de indigestibilidade equivalentes ou mesmo inferiores aos de proteínas animais.
Aliás, actualmente, os progressos alcançados na indústria de tratamento de proteínas vegetais proporcionam fontes proteicas de qualidade excepcional, como, por exemplo, o glúten de trigo e o hidrolisado de soja.
A componente da proteína não digerida (indigerível proteico) permite avaliar a qualidade de uma proteína. Quanto mais baixo for esta componente, melhor será a qualidade da proteína, pois significa que a proteína foi quase inteiramente absorvida pelo animal.
O glúten de trigo apresenta inúmeras características nutricionais que o tornam uma excepcional fonte proteica. Possui uma elevada concentração de proteínas (80-82%), é isento de aminas biogénicas e contém um elevado teor de glutamina, um aminoácido que desempenha um papel importante na manutenção da integridade digestiva e na preservação da massa muscular.
O hidrolisado do isolado proteico de soja é obtido por hidrólise enzimática do isolado da proteína de soja e as suas propriedades nutricionais diferem muito daquelas encontradas na soja intacta. É uma excepcional fonte proteica: 85% de proteínas. Apresenta um excelente perfil de aminoácidos, apresentando um valor biológico semelhante ao ovo e à caseína. A sua digestibilidade é superior a 96%.
Resta dizer que, actualmente, em nutrição animal e humana, o hidrolisado de soja tem-se tornado numa fonte proteica de referência. A qualidade desta proteína é tal, que é utilizada como substituto das proteínas lácteas em alimentação neonatal hipoalergénica e é utilizada em suplementos proteicos para atletas e pacientes em convalescença. Mais recentemente, tem sido utilizada para prevenir enterites em pacientes humanos que recebem rádio e quimioterapia.
Concluíndo, o que é realmente importante é a boa combinação de ingredientes de elevada qualidade que compõem um alimento, e não o facto do alimento ser mais ou menos “rico” em carne ou “peixe”. Os ingredientes designam simplesmente uma lista de elementos visíveis que entram na composição de um alimento sem integrar a noção de equilíbrio entre nutrientes. Uma boa alimentação requer uma atenção redobrada em relação aos nutrientes e não aos ingredientes!
Preço das rações:
Em relação ao preço, muitas vezes é feita uma análise comparativa de preços com base em acondicionamentos diferentes, ficando com a percepção errada que as marcas premium são muito mais caras. Na realidade, para determinar o custo real deve-se ter em consideração este aspecto e a análise das tabelas de dosagens. Quanto maior a qualidade do alimento, menor a dose que o animal necessita consumir diariamente.
É comum as pessoas dizerem: "o meu cão comeu a marca XYZ e deu-se mal!"
Mas eu pergunto: - Comeu a gama toda? É que há diferenças consideráveis
a nível nutricional dentro da mesma marca. Um cachorro não tem as mesmas necessidades de um cão adulto. Um bulldog francês não pode comer a mesma ração que um jack russel, e muito menos um Labrador terá as mesmas necessidades que um boxer!
Não nos devemos esquecer que não existem soluções milagrosas. No imediato, um cão pode estar lindíssimo, e em perfeita saúde somente com carne de borrego e trinca de cão, ou mesmo com a embalagem mais rasca do Lidl; e, no entanto, haver outro a comer uma ração premium e surge com insuficiência renal.
Da mesma maneira se passa connosco, há quem fume 50 anos e não tem nada e outros há que não fumam e têm tudo o que possa haver de doenças. A herança genética conta muito.
O importante, penso eu, é termos a consciência de que contribuimos para que o nosso animal pudesse usufruir do melhor que lhe pudémos dar (atenção que, quem dá o que tem, a mais não é obrigado!). Não esquecendo porém de que, se não temos possibilidades para ter um animal, o melhor é nem sequer pensar nisso.
Uma receita de ouro é: se o vosso animal se está a dar bem com o que come, não mudem. De qualquer forma, pensem que o que é bom hoje, pode não ser bom a longo prazo. E é por isso que os veterinários recomendam que lhes demos o melhor que lhes pudermos dar, pois, pela qualidade dos ingredientes, à partida, temos mais garantias de que o animal estará nutrido de forma equilibrada e saudável.
