Estive agora a ler este tópico.
Devo dizer que sou absolutamente a favor da esterilização, como uma das principais medidas de controlo populacional -- e não só: os pareceres veterinários que tenho ouvido também vão no sentido de a esterilização trazer muitos mais benefícios que desvantagens para a saúde dos animais.
A reprodução deveria ficar restrita a criadores e ainda assim, idealmente, devidamente sujeita a controlo, por parte do Estado ou de entidades que o Estado reconhecesse como competentes para esse efeito e nas quais delegasse alguns poderes de fiscalização.
A este propósito, transcrevo aqui alguns parágrafos da tese de mestrado muito recente de um veterinário municipal português, com o título "Estudo prévio para a implantação de um programa de controlo de reprodução em canídeos" (
http://repositorio-aberto.up.pt/bitstre ... strado.pdf):
"Deve-se ter em conta que dois canídeos não esterilizados podem dar origem a 67.000 em seis anos. São números impressionantes que exemplificam bem o problema destas populações se nada for feito."
"Através de estudos já publicados, verifica-se que o problema da existência de animais vadios se estende aos mais diversos países, dos mais aos menos desfavorecidos, estando no entanto praticamente erradicada do norte e centro da Europa."
“É de facto reconhecido que a prática da esterilização não traz só benefícios como controlo reprodutivo mas também torna os donos mais protectores e responsáveis pelos seus animais. Este facto comprova-se através das estatísticas que revelam que apenas 10% de animais esterilizados dão entrada nos canis nos EUA.”
“A esterilização dos animais é unanimemente considerada como o mais importante procedimento a implementar numa estratégia de controlo populacional, de acordo com os mais recentes trabalhos publicados, além disso é benéfica para a saúde dos próprios animais diminuindo a incidência de cancro mamário.
“A eutanásia de animais vadios é prática corrente em Portugal. Estima-se ser superior a 4.000 o número de animais que anualmente são eutanasiados nos canis da Área Metropolitana do Porto. Calculando uma média por Concelho e extrapolando ao resto do país, o número anual de eutanásias a nível nacional deve ascender a um valor próximo de 100.000 por ano."
"No Michigan (EUA) através de uma política de sensibilização dos
proprietários para a esterilização de animais, a taxa de eutanásia diminuiu nos últimos 10/ 20 anos para os 40% nos animais recolhidos.
Apesar deste elevado numero, e de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece-se que a eutanásia de animais produz apenas um efeito a curto prazo em termos de redução do número de animais vadios. Mesmo com taxas altas de captura de animais vadios (mais de 24% da população canina por ano) o impacto não é significativo. Quando os cães são removidos, outros migram para ocupar esse nicho ecológico.
Acresce a este facto que o custo calculado nos EUA para a captura de um animal vadio, alimentação, e eventual eutanásia ronda os 74 euros (100 U.S. dólares), sendo superior ao custo da esterilização desse mesmo animal. Assim, devem ser encontradas outras soluções mais humanas e que também salvaguardem o dinheiro dos contribuintes.
Como foi já referido, a eutanásia, por si só, dos cães e gatos errantes é uma medida insuficiente, alem de ser eticamente questionável eliminar um grande número de animais saudáveis."
Dá muito que pensar...
Edito para acrescentar o nome do autor da tese, Fernando Miguel da Costa Rodrigues.