Souvenirs Escreveu: se voltar a ler o que escrevi..eu nao disse isso..disse que os caes estao nervosos ou inseguros..e isso sim e reforçado..
Ora, o que importa, em primeiro lugar, é perceber o que um reforço é e, sobretudo, o que é que é reforçável e o que não é.Charlie2 Escreveu:até porque faz parte do comportamento do ser humano na sociedade moderna, reforçar ou ver reforçados os seus medos e inseguranças.
Só os comportamentos pode ser reforçados. Saltar, sentar, deitar, dar a patinha, ladrar, fugir, vir à chamada, etc., isto são comportamentos. Calma, nervosismo, segurança, insegurança, confiança, medo... isto não são comportamentos. São estados internos que, por sua vez, poderão ser causa de comportamentos (como, por exemplo, comportamentos agressivos). Ora, não sendo comportamentos, não são reforçáveis.
Os comportamentos são reforçáveis, assim como são castigáveis. Aquele tipo de estado interno não é nem reforçável nem castigável.
Em segundo lugar: sim, apesar de tudo, os donos podem ter muita influência (culpa?) na forma como surgem a insegurança, o medo ou o nervosismo dos respectivos cães (apesar de não serem reforçáveis). Estes "estados" podem surgir através de associações feitas (inconscientemente, muitas das vezes) por comportamentos dos donos, sim. Por exemplo, se eu der um esticão na trela (forte o suficiente para que seja desagradável) de cada vez que o meu cão passar por um outro cão, ao fim de algumas repetições, o meu cão vai passar a associar a presença de outros cães aos esticões, e, passado pouco tempo, vai passar a detestar outros cães; que é como quem diz, a ter medo ou a sentir insegurança na presença deles. Isto não é reforçar nada; é criar uma associação.
Outro exemplo: se o nosso cão já tiver aprendido a ler bem os nossos sinais de insegurança e medo (na prática, sinais de que algo de mau pode acontecer), e se de cada vez que passamos por um cão na rua nós exibimos esses sinais, sim os cães poderão, depois de algumas vezes, começar a associar esses sinais à presença dos outros cães e, como tal, a presença de outros cães torna-se algo desagradável, algo indicador de que coisas más podem surgir. Já agora, não é por uma transmissão de energias; é mesmo por emissão de sinais concretos e visíveis.
Mas nem sempre são os donos a fazê-lo. Se um cão for mordido algumas vezes por outros cães, e, em contrapartida, não tiver muitas experiências positivas com outros cães, ele, igualmente, vai começar a ter medo e sentir insegurança perante outros cães. E isto pode acontecer sem que o dono tenha estado sequer presente; isto pode acontecer em cães de rua, por exemplo... Os donos não controlam a totalidade dos comportamentos, do carácter, dos gostos e "desgostos" do seu cão. E ainda bem, digo eu.
Em terceiro lugar, dir-me-ão "ah, mas isso é um preciosismo terminológico; se é ou não reforçável, não interessa, o que interessa é que os medos e inseguranças dos cães são muitas vezes provocados pelos próprios donos, chame-se a isso reforçar a insegurança, ou chame-se outra coisa".
Responder-lhe-ei, nesse caso: importa, e muito, fazer essa distinção e esse "preciosismo". O problema não está em chamar "reforçar" a algo que não se devia chamar assim; o problema está em achar que nervosismo, medo e insegurança são comportamentos, quando não são.
Vou dar um exemplo:
Aposto o meu dedo mindinho em como muita gente acha (ou já ouviu muitas vezes dizer) que se dermos festas ao nosso cão quando este está com medo, estamos a incentivar o nosso cão a ter medo. Estamos a dizer-lhe, sem querer, "fazes muito bem em ter medo". Ou seja, por outras palavras. Estamos a reforçar o medo (e quem diz medo poderia ter dito insegurança ou nervosismo). Ora, isso é profundamente errado. Justamente porque estamos a tratar o medo como se fosse um comportamento reforçável. E não é. Por isso, quando alguém está a fazer festas a um cão que está com medo, essa pessoa não está a promover o medo. Infelizmente, também não está a contribuir para que ele desapareça... mas isso é outra questão.