domingo mai 09, 2004 9:26 am
Por vezes nos debates ou nas análises das mais diversas áreas recorre-se a hipóteses que normalmente se designam de académicas ou então reduzem-se determinados pressupostos ao absurdo, porque isso por vezes torna as ideias mais claras.
É o caso do jogo proposto, que entendo apenas e simplesmente como um passatempo.
Comentar sobre estas duas hipóteses académicas? Teria que repetir o muito que já foi dito, inclusivamente o que foi debatido recentemente noutros tópicos.
De qualquer modo, ainda assim, tenho a dizer o seguinte.
Nestas duas proposições está colocada a tónica na MODA: "... os rafeiros estivessem na moda?" "... os cães ditos "potencialmente perigosos" aparecessem na TV..."
Não há dúvida de que o factor MODA tem muita força na sociedade em que vivemos e as pessoas cada vez mais são permeáveis à avalanche de produtos, de ideias, de comportamentos através da moda. A moda tem esse lado perverso, que é o de influenciar o íntimo das pessoas valendo-se de valores que na maioria das situações são fúteis e efémeras. Pois, é que a moda é efémera. Vale hoje, mas amanhã há mais... e a de ontem já é pirosa.
No que se refere ao cão rafeiro, em pequeníssimos núcleos há efectivamente o ostentar a posse de um cão rafeiro em vez do cão de raça. Por um motivo muito simples. Hoje qualquer bicho careta tem aceso a um cão de raça. O cão de raça já não constitui sinal de classe e já não marca a diferença. Muito pelo contrário, até. Por vezes é-se conotado com uma burguesia do tipo novo-rico.
Estes fenómenos são muito giros. Quando esta classe se apodera de instrumentos de ascenção social ou dos tais sinais de classe, a outra, a que presumivelmente se considera por cima, arranja outros sinais e outros instrumentos. Não se quer misturar.
Isto acontece sistematicamente na forma de vestir. Se a classe de baixo se apodera do fatinho e da gravata, os de cima toca de se vestirem todos de fralda de fora, que assim até ficam mais "intelectuais" ou mais "prá frente". Andam sempre uns atrás dos outros num corropio que é mesmo cómico. E o que é mais giro é que não se dão conta disso.
Mas quem manda, não tenhamos dúvidas disso, são os tais que presumivelmente estão por cima. E quem manda na moda são esses.
No entanto, no que respeita ao cão rafeiro, ele nunca será moda. Por um motivo muito simples. É que o factor moda, tendo a força que toda a gente reconhece, é apenas uma faceta de tudo o que envolve o cão de raça, seja qual for a raça.
Bem, isto já vai longo. Sobre a segunda proposição, acho que se trata de uma hipótese tão académica que é, antes, um sofisma.
O cão potencialmente perigoso existirá sempre enquanto for notícia. Convém aos jornalistas e às publicações sensacionalistas próprias de um país culturalmente sub-desenvolvido.
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