Tenho uma história para vos contar:
Quinta-feira da semana passada, peguei numa cadela arraçada de labrador preto que estava a vaguear pelo parque de estacionamento exterior do meu prédio e levei-a à Sociedade Protectora dos Animais Domésticos do Funchal (SPAD), para ser vista por um vet, porque coxeava da pata esquerda traseira (que, já agora tinha feridas bem profundas), estava magra, muito triste e cabisbaixa. O meu irmão de 13 anos (que, por incrível que pareça, tem medo de cães que até enerva!) ajudou-me a levá-la, e pelo caminho foi-me contando a história da Pantera.
A Pantera pertencia a uns moradores do prédio ao lado do meu. Pelos visto já a tinham à cerca de dois anos, pois essa é a idade da cadela e o meu irmão diz que se lembra de ver a filha desse casal passeá-la no parque de estacionamento quando era pequenina. Ora, não sei o que se passou, mas no início do último fim-de-semana grande, a Pantera começou a vaguear pelo parque de estacionamento sem coleira nem identificação. Sempre muito triste, passava o dia deitada à porta do prédio onde vivia e não comia nada do que os outros moradores (incluindo o meu irmão) lhe davam. Ora pois, os antigos donos desfizeram-se da Pantera da forma mais fácil possível... Abandonada à sua sorte, deve ter acabado por ser atropelada ou atacada por outro cão, daí coxear e ter as feridas grandes e profundas na perna esquerda traseira.
Ora bem, na 5ª feira passada, e depois de um trajecto de carro muito atribulado, que me permitiu reparar que ela é uma cadela muito dócil pois deixou-se apanhar com facilidade, mas muito nervosa, pois tremia como varas verdes dentro do carro, levo-a à SPAD, onde foi examinada pelo vet, medicada para evitar uma possível gastroenterite e internada durante dois dias, sempre a receber soro por via intravenosa. Fui visitá-la no primeiro dia e no segundo acabei por trazê-la para casa, pois na SPAD existem cerca de 200 animais para adopção e nenhum espaço para a Pantera.
Trago-a para casa, sempre com a ideia que seria provisoriamente, pois tal como tinha sido aconselhada noutro post que coloquei à pouco tempo, aqui na Arca, um cão provavelmente não seria o melhor animal para me fazer companhia, dado passar 11 horas consecutivas fora de casa durante 5 dias na semana. Portanto, a Pantera estaria ao meu melhor cuidado até eu encontrar um dono responsável que a quisesse acolher.
Dei-lhe banho no sábado, comprei-lhe uma coleira anti-pulgas, uma coleira normal, uma trela, malgas, comida, biscoitos... Vou passeá-la durante meia hora às 7h30 antes de ir para o trabalho e passeio-a assim que chego às 19h00 durante o tempo que ela desejar.
A Pantera é linda! É igual a um labrador preto, mas mais pequeno e não tão corpulento. A não ser que existam labradores anões

Estou contente por a ter cá, e todos os dias penso se não seria melhor ficar com ela. Ainda por cima, se tivesse que decidir neste momento que a dava a alguém, tenho quase a certeza que me recusaria a fazê-lo. Ela é meiga, só me dá beijinhos, nada barulhenta, muito sossegada e sabe que tem que fazer as suas necessidades na rua.
Porém, o pior é quando tenho de a deixar sozinha em casa... Parte-me o coração, pois sei que ela detesta estar sozinha. Já reparei que esteja eu fora 15 minutos ou 11 horas, a reacção quando me vê é a mesma: fica tão feliz que até chora! Salta muito, abana o rabo com tanta força, enche-me de beijinhos, mas gane tanto tanto, que eu só fico cheia de remorsos de a ter deixado sozinha, principalmente quando é por muitas horas.
Por isso não sei o que fazer! Estou num impasse tremendo. Não consigo evitar sentir que ninguém cuidaria melhor dela do que eu, mas por outro lado, parece-me que ela não é feliz... Não brinca comigo, já tentei aliciá-la com bolas, pauzinhos e brincadeira à cão mesmo, mas nada... Raramente me olha nos olhos e baixa muito a cabeça quando lhe faço festinhas. Quando me afasto dela, chamo-a para vir ter comigo, mas ela não vem. Fica a olhar para mim, até cerrar os olhos devagarinho. Acho que a Pantera está deprimida, apesar de comer bem e passear com vontade. Às tantas, preferia continuar na rua, mas eu não a posso deixar ir!! Por isso, parece-me que o ideal era uma casa com um quintal grande e de preferência, outros animais que lhe fizessem companhia (ela fica muito desobediente quando a vou passear e vê outro cão; só quer brincadeira com ele!). Mas tenho medo de a entregar a alguém que não compreenda o que esta cadela passou e não lhe consiga dar a atenção que merece.
É aqui que preciso da vossa opinião e ajuda. O que faço?
Um abraço,
Licínia
P.S. - Vou agora levá-la de novo ao vet da SPAD, para ela ser desparasitada e tentar negociar uma esterilização. Cruzem os vossos dedos por mim!