LuMaria Escreveu:
Tudo teve inicío quando se começou a ter um cão de companhia que notóriamente não o é. Sejamos honestos, um Rott em apartamento a viver vida de caniche? Um Serra da estrela no meio da cidade a dar passeios de 20 minutos? Um pitbull enfornado das 9 às 18 entre 4 paredes a ver o tempo passar?
Eu concordo com algumas das coisas que a Lu referiu, mas não com isto que citei.
Não vejo que o problema tenha começado aqui, nem vejo sequer, qualquer problema em ter um Serra no meio da cidade ou um Rott num apartamento.
Há já alguns anos, que esta história dos cães era falada. Como a Cindel já referiu num post anterior, falou-se dos PA's, e mais tarde, dos Dobermann e do seu cérbero que crescia até o cão enlouquecer.
Sempre se falou, mas também se diga em abono da verdade, nunca existiu uma tão grande histeria, como existe actualmente.
Porquê ? Sinceramente, não sei responder, mas...
Olho para esta actual sociedade e o que vejo ?
Vejo psicólogos a falar na televisão, dizendo que, nas escolas, chamar Badocha, Caixa d'óculos e Tonhós aos meninos, lhes cria traumas para o resto da vida.
Vejo que as brincadeiras que eu e tantos outros tivemos quando eramos crianças, são hoje, quase consideradas crime, porque deixam marcas irreversiveis ao nivel psicológico.
Vejo que os meninos não devem levar mochilas às costas, devendo sim, utilizar carrinhos com rodas para ir para a escola, para protecção da sua coluna. (parece que as anteriores geraçoes, é tudo malta acamada com graves lesões cervicais)
A verdade é somente esta:
Tinha pouco mais de 13 anos, quando comecei a trabalhar, e tive de abrir os olhos.
Actualmente, em casa, tenho um tonhó com 12 anos, que se por acaso se distrai e não sai do autocarro na paragem em que devia, o mundo desaba em cima dele e não sabe o que há-de de fazer... ou melhor, até sabe... pega no telemóvel e chora.
Tudo isto para dizer o quê ?
Vivemos numa sociedade, estupidamente proteccionista, que na ânsia de tanto salvaguardar o lado psicológico, põe a nu, as maiores fraquezas do ser humano, transformando-o num ser, cada vez mais dependente de ajuda de terceiros, para realizar e concluir com exito as mais básica tarefas e dificuldades que a vida nos apresenta.
Toda esta problemática dos cães, passa também por aí.
Os cães sempre morderam pessoas, sempre morderam outros cães, e quando isso acontecia, a essas situações, era dado somente o valor que elas tinham e nada mais.
Hoje em dia as coisas não se passam assim. O sensacionalismo é palavra de ordem e a vida humana vale somente o tamanho de uma noticia.
Por isso mesmo, continuam a morrer diariamente 2 ou 3 pessoas ao volante de um automóvel, e dezenas a ficam gravemente feridas, sem que isso, afecte de algum modo, a consciência dos outros. No entanto, o Pit Bull que matou outro cão, é noticia de destaque num jornal diário e tema de conversa e discussão, lá no café da esquina.
O sensionalismo faz a noticia e estabelece o valor da vida, e se dúvidas houvesse, bastaria olhar para o caso Madeleine, que as dúvidas de imediato se dissipavam.
O sensacionalismo paga muitos ordenados, projecta muita gente, que sem ele, eram perfeitos desconhecidos. Lança promissoras carreiras aos mais incompetentes, mas ao mesmo tempo, o sensacionalismo, alimenta também a distração necessária dos problemas que realmente nos deveriam preocupar.
Um destes dias, vamos acordar para uma realidade, que tem estado sempre aí, mas que, como andamos adormecidos com a dentada que o cão nos deu, ainda nem nos apercebemos para onde caminhamos a passos largos.