Há uma semana a trás, o meu irmão estava à janela a apanhar um pouco de ar quando presenciou o atropelamento de um cão que atravessou em corrida a avenida. O carro não parou e o condutor deixou o animal no meio de uma avenida com 3 faixas de rodagem, vivo e sem se poder levantar.
O meu irmão (que mora num 12º andar) ainda ficou a ver se os outros condutores paravam e tiravam o cão do meio da rua dado ele demorar a descer os 12 andares. Como ninguém parava, veio ele em seu auxílio.
Assim que se abeirou do cão (que por acaso até era cadela) viu que ela tinha, pelo menos, as patas dianteiras em péssimo estrado mas estava bem viva.
Enquanto tentava pegar na cadela, animal de porte grande, apareceu o condutor que a tinha atropelado a dizer que o meu irmão, como dono da cadela, tinha que pagar os danos do carro. Como lhe foi dito que não havia ali dono nenhum, que ali havia simplesmente um otário a fazer aquilo que ele (condutor) devia ter feito, o condutor chamou a polícia.
Vem a polícia, que volta a questionar o meu irmão como se ele fosse o faltoso.
Após longa toca de palavras e recolha da identificação do meu irmão, a polícia manda o condutor embora, condutor que tinha abandonado um animal ferido no meio da via pública sem lhe dispensar o mínimo dos cuidados, ou seja, PELO MENOS tirá-lo para a berma. O condutor não é penalizado (não pelo atropelamento, claro) pelo abandono, o que aconteceria em qualquer outro país da União Europeia.
Agora vem a parte ainda mais caricata: o meu irmão começa a pegar na cadela para a levar e a polícia não autoriza. Ele explica que vai levar o animal ao veterinário, que o bicho não pode ficar ali em agonia e a polícia responde que não o permite. A cadela tem que ir para o canil municipal de Lisboa, se o meu irmão quiser, pode ir lá reclamá-la ao fim de 8 dias.
Lá vai a cadela para o canil municipal e o meu irmão atrás de polícia e chegados ao canil confirma-se: o Senhor se quiser venha cá daqui por 8 dias e leve-a senão é abatida.
Ontem completaram-se os 8 dias. O meu irmão para trazer a cadela (que vinha com chip mas com as patas sem tratamento, só com ligaduras) ainda teve que pagar uma taxa. O estado da cadela é tão mau que o veterinário que a viu perguntou ao meu irmão se não a queria pôr a dormir, ao que ele respondeu: nem pensar, depois de tanto trabalho ela tem que ter uma chance.
Escusado será dizer que a cadela, que ainda não tem nome, que ainda mal consegue andar sobre as patas tão feridas e que entretanto até ganharam pus, que está magra com os ossos a furar a pele, JÁ TEM DONO – O “OTÁRIO” DO MEU IRMÃO.


