MARTIM: MY SPECIAL ONE

[Arguida]

A primeira vez que o vi foi em Fevereiro de 2007 atrás das grades do canil de Almada onde já estava há 4 meses. Senti o meu coração a disparar ao olhar para aquele canito com um olhar tão desprotegido e, ao mesmo tempo tão “taralhouco”. De imediato mandei um e-mail à pessoa que o estava a divulgar para saber mais sobre este miúdo balofito de olhos azuis.

Na altura nem me tinha passado pela cabeça adoptar mais nenhum canito pois já tinha a Maria e os meus pais tinham três.

De imediato imprimi a foto dele e, andei a mostrá-la a todos os meus conhecidos e amigos que eu sabia que amavam animais como eu. Todos os dias falava com a Martinha (a pessoa que o divulgou), e falava para o canil de Almada para saber notícias dele suplicando que não lhe fizessem nada pois eu iria arranjar uma solução.

Foram três semanas de angústia pois todas as portas se fechavam. Eu já nem dormia ... tinha de arranjar uma solução.

No fim-de-semana anterior a ir buscá-lo ... estava à espera duma resposta e disse à Martinha que, se a mesma fosse negativa, contra tudo e contra todos, eu iria buscá-lo e ele iria ficar comigo.

Assim foi ... no dia 14 de Março de 2007, meti um dia de férias e o meu marido e eu partimos rumo ao canil para irmos buscar o “nosso menino”.

Entretanto, e como quando recolhemos a Maria da rua, passado uma semana dela estar connosco, a íamos perdendo pois ela adoeceu com parvovirose, suspeita de esgana, tosse do canil e infecção pulmonar, já tinhamos assegurado com a nossa vet na altura, que o Paco (Martim) iria para lá, onde ficaria internado a fazer exames a tudo e mais alguma coisa pois tinhamos receio de que tivesse algum problema e pudesse contagiar a nossa maluquinha.

Assim foi. Levámo-lo ao hospital veterinário, onde fez as delícias de todas as pessoas pois ele realmente é um canito super afável e enquanto lá esteve, íamos sempre visitá-lo à hora das visitas.

Ao fim de dois dias pegámos na mana Maria e fomos buscá-lo para travarem conhecimento em terreno neutro. Rosnadela para aqui, rosnadela para acolá mas ... nada demais.

Viémos para casa e os primeiros dias foram um pouco complicados pois a Maria estava habituada a ser a rainha da casa. No entanto, o Martim é um bonacheirão e tudo aturou e ainda hoje atura. Ela faz-lhe a “vida negra”. Atira-se a ele, puxa-lhe as orelhas, agarra-lhe no cachaço, mordisca-lhe as patas, quando tem o peitoral posto chega a arrastá-lo atrás dela apesar dele ter mais 10 kg que ela ... e ele sempre na “onda dele”, com aquele olhar bonacheirão e taralhouco e só quando já está saturado mas mesmo muito saturado é que lá solta um “chega para lá que já me estás a melgar demais”.

Entre ele e mim existe algo de muito especial ... sou a ELEITA. Não sei ele sente que fui eu que o quis salvar ... não imagino o que vai naquela cabecinha mas, indubitavelmente, existe uma cumplicidade, uma ternura tão especial por este canito que um dia foi rejeitado por alguém, que ele se transformou na minha sombra.

Onde eu estou está ele. Para dormirmos ele tem de estar bem encostadinho a mim para sentir o calor do meu corpo e dá-me “marradinhas” para eu abraçar e ... lá adormecemos.

É um canito super sociável com as pessoas ... até chega a ser melga pois adora estar “colado”. Na rua faz um sucesso pois tem um andar super patusco, muito taralhouco e cativa todo o mundo. Infelizmente o mesmo não se pode dizer com outros animais pelo que, apesar de achar que existem alguns a quem ele não faria mal ... não arrisco. Para nossa protecção (minha e dele pois também tem muita força), de cada vez que vai comigo à rua, vai de açaime. Ele detesta ... eu também ... mas é por lhe ter tanto amor que não arrisco a que existam problemas.

Quando saíu do canil tinha uma feridita no nariz e outra numa orelhinha mas, disseram-nos que tinha sido lá e que iria passar. A realidade é que formava uma crostita, estava mesmo cicatrizado mas acabava por cair e aparecia nova feridita. Como a mana é doida e passa a vida a meter-se com ele, sempre pensámos que lá tinha a Maria novamente arrancado as crostas ao Martolas. Nunca nos passou pela cabeça que as ditas feridinhas pudessem ser indicadoras de mais qualquer coisa, tanto mais que, quando esteve internado, um dos exames que fez foi à leish e o mesmo tinha dado negativo.

Andava e ainda hoje anda sempre bem disposto, comia que nem uma “lontra” tendo engordado bastante, sempre bonacheirão ... nada nos tinha preparado para a notícia que recebemos um ano depois de o termos connosco.

Começou a coxear duma patinha ... passou. Passadas três semanas voltou a coxear da mesma patinha e apesar de atribuirmos às correrias cá em casa com a Maria ... como mãe galinha que sou, quis que ele fosse visto.

A querida Taro disponibilizou-se a levar-nos ao vet dela (bendita hora) e lá fomos. Este observou o Martim atentamente e após o exame disse-me que devia pedir ao meu vet para fazer o exame da leish pois ele suspeitava que o Martim era portador da mesma. O meu mundo ... ruíu. De imediato, contei a história toda do Martim desde que estava comigo e disse-lhe que ele não ía a lado nenhum e queria que o exame fosse feito ali.

Assim foi e passados três dias ... tive a confirmação. O Martim tinha leishmaniose e infelizmente os rins já estavam ligeiramente afectados. Durante 2 dias inteiros não conseguia parar de chorar. Li tudo quanto encontrei sobre leish ... passei horas a ler artigos e mais artigos e mais artigos.

Chegou a hora de arregaçar as mangas e partir para a luta, tendo como apoio ESPECTACULAR o vet que o passou a seguir ... o qual passou horas e horas e horas a falar comigo, a explicar, a fazer desenhos ... só lhe faltou mesmo foi fazer o pino.

Eu que tenho pavor de seringas ... tive de “engolir” o mesmo e chegada a hora de lhe dar as injecções, era o Martim escondido atrás dos cortinados ou a fugir pela casa fora e eu ... lavada em lágrimas e pedir desculpa por o estar a picar. Só Deus sabe a minha angústia. No fim de cada injecção abraçava-me a ele, eu a chorar e ele a tremer que nem uma vara.

O tratamento correu lindamente e o Martim passou a ser avaliado regularmente estando tudo sob controlo... até Setembro em que mais uma vez fomos ao vet para as análises habituais.

Nessa altura foi detectada uma descida de protéina e foram feitos mais exames (durante 3 semanas) em que levávamos urina dele e a mesma era analisada no vet e num laboratório para haver uma contra-prova. Por seu lado os marcadores da leish tinham pela 1ª vez descido. Ele que sempre tinha tido 320 tinha baixado para 160 e dava positivo fraco. Com as novas análises viu-se que a descida da protéina tinha sido uma situação pontual pelo que, ficou marcado irmos lá em Janeiro.

Assim o fizémos. Novas análises ... nova descida da protéina. Durante umas semanas lá íamos entregar urina e análises mais contra-provas. Confirmava-se que a protéina estava a descer ... o que não era favorável. Análises ao sangue mais marcadores da leish e, se em Setembro era positivo fraco ... agora era POSITIVO.

Pesando os prós e os contras, chegou-se à conclusão de que o Martim estava com o uma recidiva da leish pelo que havia de começar novo tratamento mas, devido à insuficiência renal dele, desta vez seria com o Milt**** juntamente com mais medicação e idas semanais para controlo.

Se o 1º tratamento para a leish correu bem ... este infelizmente não está a correr pois os rins dele estão a ressentir-se. Tivémos de parar com o gluc*** que estava a ser administrado em simultâneo pois apareceu com ureia, creatinina e fósforo. Pensava-se que com a paragem os valores melhorassem. Infelizmente tal não está a acontecer.

A creatinina e o fósforo continuam a aumentar ... pouco mas estão e, para “ajudar” ainda mais, apareceu glucose na urina. Soubémos disto na 6ª pelo que ontem lá fomos com ele para fazer análises pois havia que descartar a possibilidade dele estar a ficar diabético. Esta hipótese foi descartada pelo que, a glucose que lhe aparece na urina deve-se ao facto dos rins estarem a piorar.

Foi decidido parar o tratamento com Milt*** até 4ª altura em irá ser novamente avaliado.

Ele continua bem disposto ... apesar de estar talvez um pouco mais murchito. Começou a fazer fita para comer ... mas se lhe puser franguito marcha tudo ... pelo que não é falta de apetite. As fezes umas vezes são muito moles, outras são normais.

Sinto que, a cada dia que passa, estou a perder o meu Martim. Sinto que nada posso fazer para além de lhe providenciar todos os meios para o tentar tratar. Sinto-me impotente ... pois infelizmente a solução não está nas minhas mãos.

Se tal fosse possível, o que infelizmente não é, não teria qualquer tipo de problema em dar um rim ao meu querido menino.

Por ele daria a vida ... como sei que ele o faria por mim. ADORO este canito que desde o 1º minuto que o vi ... sabia que era ESPECIAL. O Martim é mesmo especial ... é o meu mais que tudo, é a luz dos meus olhos.

Tenho alturas em que tento ser optimista e pensar que tudo irá melhorar ... que agora com a paragem da medicação conseguiremos repôr os valores mas sei que me estou a enganar. Quero enganar-me, quero fingir que tudo irá ser como até agora ... quero acreditar que ainda terei o meu menino à minha espera durante ainda muito tempo mas ... sei que tal não irá acontecer. Sei que estamos em contagem decrescente ... tento “usufruir” da companhia dele ao máximo, enquanto está bem ... pelo menos aparentemente.

Durante praticamente toda a minha vida tive cães ... Adoro todos eles mas, o Martim ... o meu blue-eyes que um dia vi atrás dumas grades dum canil, tem e terá sempre, um cantinho especial no meu coração.

A minha cabeça é um turbilhão de emoções ... tão depressa olho para ele e me rio com o seu olhar, o seu andar trapalhão, o seu ar “taralhouco”, como as lágrimas me caem pela cara abaixo só de pensar que um dia ... bem mais próximo do que eu esperaria ... não o terei cá para o abraçar, para me deitar encostada a ele, para falar com ele.

[chinchilavis]

Arguida, tenho acompanhado as histórias dos seus vários canitos e das aventuras loucas que passa com eles.

Desejo, do fundo do coração, que tudo corra bem com o Martim, o seu blue eyes!

Muita força para si e tente pensar positivo. Por vezes eles vão buscar forças onde nenhum de nós poderia ir buscar.
Acima de tudo, lutam, lutam sempre!

[pituxa]

Arguida tenha muita força, vai correr tudo bem com o Martim.

[aisd]

É assim, com esta terrível doença...de vez em quando há recaídas.
Pelo menos é a experiência que tive com 2 cadelas que ajudei.
Mas recuperaram das recaídas...
Não desanime.O Martin também há-de recuperar.
E, vai ver, ainda vai ter que o aturar bastante tempo...

[Arguida]

Obrigada pelas vossas palavras. Deus vos oiça e o proteja. Adoro este canito e ainda estivémos tão pouco tempo juntos, ainda temos tanto para fazer e partilhar.

Enquanto ele aguentar ... TUDO farei para o ajudar. Espero nunca ter de decidir nada ... mas se assim tiver de ser, estarei ao lado dele na sua última "viagem".

[moslie]

Espero sinceramente que não passe de uma fase e que seja logo ultrapassada.
O que assusta é que um animal de casa, que está tão protegido e estabilizado, volte a ter recaidas, é sempre assim?
O meu ex vizinho falou comigo esta semana, o cão teve há uns meses uma fase muito má, mas fez uma medicação agressiva e agora parece estar muito bem.
Ele já gastou uma fortuna com o cão, mas sinceramente eu não percebo o protocolo daquele vet. pelo que o meu vizinho diz nada corresponde aos vossos, mas serão opções. Ele está numa zona sem grandes opções de escolha.
Eles gostam bastante dos cães, apesar de serem animais de exterior e ainda por cima tem crianças que ficaram tristissimas quando o cão esteve mal, tem sido complicado gerir aquela situação!

[marianamar]

O teu Martim é o meu Fivela. Só a lembrança... já me fez chorar. Mas tu ainda tens uma esperança! Muita força para ti, para a puderes dar ao Martim ^_^

[sofiaabreulopes]

Arguida, se precisares, tou aqui, ou melhor, sabes onde me encontrar!
O Martim vai superar esta fase - nem sequer coloco outra hipotese!
Bjs

[Arguida]

Obrigada pela v/forcinha.

Aparentemente ele está bem. Noto que está um pouquito mais molenga (sempre o foi). Noto também que antes mal me ouvia mexer no frigorífico vinha logo a correr, aos pulos e enquanto eu estava a fazer algo, lá estava ele sempre a "babar-se", assim como quando nós estávamos a comer também ficava histérico e "com água na boca" sempre a pingar, literalmente.

Antes ficava chateada pois ficava com o chão todo molhado e não raras vezes escorreguei. Agora ... tomara eu que ele me "babasse" a casa toda. Vem para pertinho de nós, fica a olhar e acaba por se deitar. De vez em quando lá se senta, olha ... mas sem estar histérico.

Acordo imensas vezes durante a noite para ver se ele está bem e se está ali comigo.

Antes de sair de casa dou-lhe sempre a medicação e o meu marido é que depois o vai passear assim como à mana e dá-lhes a ração que eu já deixo arranjada. Já lhe liguei ... comeu bem e fezes normais.

Quando saí de casa, ele e a Maria andavam na correria (é sempre assim quando saímos) e lá andava ele a fazer sprints com um boneco na boca.

Se não puder voltar ao que era, pelo menos que fique assim durante ainda bastante tempo, ou seja, com qualidade de vida.

[Tassebem]

(...)
Antes ficava chateada pois ficava com o chão todo molhado e não raras vezes escorreguei. Agora ... tomara eu que ele me "babasse" a casa toda.(...)

É mesmo assim. Tomara eu que os meus amigos que me deixaram recentemente continuassem por aqui, a fazer as asneiras do costume e mais todas as que quisessem.

Comadre, no caso do Martim há-de ser como naqueles que referiu a aisd: uma recaída que o Martim vai ultrapassar.

Cuidados, tratamento e mimos não faltam ao Martim, e a força a Arguida vai buscá-la a si própria e a ele, portanto... auguro e desejo muito que a recuperação seja segura e o mais rápida possível.

[mar72]

uma historia lindissima.... mta força a ambos...

[Arguida]

Mais uma vez muito obrigada pelo v/apoio.

Hoje o dia parecia que não chegava ao fim para vir para casa. Finalmente lá vim e encontrei-o muito bem disposto.

Fomos os 3 (Martim, Maria e eu) deitarmo-nos um bocadinho como eles tanto gostam e como o Martim ressona que nem um rinoceronte, ao princípio fiquei um pouco preocupada pois não o estava a fazer e dava a sensação de que estava a gemer baixinho. Ainda peguei no telefone mas ... resolvi pegar num pouquito de bolacha maria ... que marchou num abrir e fechar de olhos.

Tem estado bem disposto ... as fezes continuam mais ao menos normais e comeu bem ... com frango claro está.

Nunca fez fita para comer a ração ... agora é o que se vê mas, nesta altura do campeonato, quero lá saber.

À hora do nosso jantar ... voltei a ficar com o chão todo molhado ... do Martim a "babar-se". Que saudades que eu tinha ...

Um dia de cada vez ... amanhã logo se vê como é que ele está. Por agora, pelo menos aparentemente ... está bem e a ressonar.

[sofiaabreulopes]

Martim e que ressones e que te babes por muito tempo!!!!!!!

[Arguida]

É mesmo Sofia. Hoje de manhã enquanto tomava o pequeno-almoço fiquei com a cozinha "toda alagada" ... fartei-me de rir.

Enquanto lhes arranjava a paparoca ... voltei a ter o Martim aos pulos por causa do frango.

Oxalá continue assim durante muito tempo.

[pituxa]

Martim e que ressones e que te babes por muito tempo!!!!!!!

x2
(Aproveita para fazer tropelias, que a tua dona não te ralha!!! )