sexta nov 22, 2013 11:28 pm
Aqui está um desenterranço de tópico com quase 2 anos, mas vai-me servir como desabafo pois faz 7 meses que o meu boxer-não-boxer me deixou. Tivemos de tomar uma decisão que não foi difícil tendo em conta o diagnóstico, mas que foi a mais dura de sempre.
Foi o cão mais crónico que conheci em toda a minha vida, com otites, dermatites, conjuntivites, colites, grastrites e todo mais um rol de coisas acabadas em "ites". Foi também o cão mais vigiado medicamente falando que conheci, pois tendo em conta a sua "fragilidade" e porque algo me dizia que haveria de aparecer algo que eu não ia "ver", que eu não ia conseguir perceber, fazia análises ao sangue e ecografias pelo menos 2 vezes ao ano só para despiste, principalmente de tumores tendo em conta a propensão da raça para tal.
De nada me serviu, acabei por perder o cão da minha vida num espaço de 15 entre o primeiro sintoma e a eutanásia.
Resumindo e desabafando, o primeiro sintoma foi polidipsia, seguido de poliúria. Uma sede maluca que o fazia beber até água da chuva, e excesso de urina até chegar à incontinência. Começamos com análises ao sangue, à urina e antibiograma que não acusou nada. Uns dias depois seguiu-se a perda de apetite, onde começou a deixar de comer. Ecografia a todos os órgãos possíveis, tudo normal. Seguiu-se o aparecimento de dor articular nos membros direitos, repetimos as análises ao sangue e alguns valores já se apresentavam alterados. Já prevendo o tipo de cenário que se seguiria, fizemos uma punção lombar que se revelou inconclusiva. Aqui já estávamos numa fase de recusa total de alimento, já tinha perdido 5kg numa semana, e não conseguia ver nele vontade de lutar contra aquilo que se estava a passar. É verdade que estava a tomar medicação para as dores que o deixava meio drogado, mas não conseguia ver no meu cão, no meu Mike que sempre foi a alegria em forma de cão, a coragem necessária para ir contra aquilo que o estava a deixar doente e não conseguíamos descobrir o que era. Após duas semanas de o ver piorar de dia para dia, e já ao terceiro dia sem aceitar qualquer comida começamos a pensar em eutanásia mesmo sem diagnóstico porque ele estava a demonstrar mais desconforto do que aquilo que achava normal e aceitável e nunca o iria deixar sofrer. Decidimos repetir todos os exames, e fazer um raio-x à cabeça e caixa torácica (únicas zonas que faltavam ver) e foi-lhe diagnosticado um timoma, um tipo de linfoma pouco comum e com sintomatologia inespecifica. O resultado das análises ao sangue estavam já mostravam um descontrolo completo, onde revelavam realmente o seu estado e todos os restantes órgãos já afectados. Pedimos 2ª e 3ª opinião para um tratamento, mas tendo em conta o seu estado e conhecimento de patologias anteriores optamos por não o deixar sofrer. Sempre me prometi a mim mesma e ao meu Mike que não ia ser egoísta ao ponto de o ter cá só porque era o melhor para mim, nunca o iria deixar entrar em fase terminal. 15 dias depois do primeiro sintoma, o meu cão tinha perdido 8kg, estava com gastroenterite severa, tinha dor fortes e recusava qualquer comida. Doí-a só de olhar para ele. O meu caozarrão de 4 anos tinha voltado a estrutura corporal de cachorro. A medicação parecia não ajudar. Não era possível prever quanto tempo tínhamos. Recusei-me a forçar a alimentação por sonda, queria que ele partisse enquanto ainda estava bem, quis que ele partisse como sempre foi, um gigante querido e maluco e com toda a sua dignidade de cão. Pedimos mais um dia ao veterinário e demos-lhe o dia mais feliz que poderia ter tido. Sem choros, sem despedidas, com muitos mimos, brincadeiras e passeio na praia. No dia seguinte adormeceu no nosso colo, pensando ele que seria mas um recolha de sangue habitual. E com o último suspiro levou uma parte de nós com ele.
A razão porque reabri especificamente este tópico é porque passado este tempo todo ainda não consigo pensar apenas com saudade no meu Mike. Não me culpo a mim mas descarrego todo a minha frustração nos criadores de vão de escada que criam cães doentes sem fazerem ideia daquilo que estão a fazer.
Porque aquilo que eu continuo a sofrer e que o meu cão sofreu foi um tremendo azar, mas foi acima de tudo uma grande estupidez ter comprado um cão a um criadeiro.
Até pode ser irracional pensar desta forma, porque claro que não há certeza que não nos teria acontecido o mesmo caso fosse comprado num bom criador. Mas pela experiência que fui adquirindo com 2 animais comprados em criadores éticos e conscientes, que são super saudáveis, que vão menos vezes ao veterinário num ano do que o Mike ia num mês, tenho a certeza que a probabilidade deste desfecho seria muito menor.
Deixo aqui a minha história com o Mike, que foi sem dúvida alguma "O" cão da minha vida, o melhor que tive e terei, o que mais me marcou e que não voltarei a ver para quem ainda pensa em comprar cães oriundos de criações duvidosas.
Rest In Peace MIKE (02/06/2008-17/04/2013)