Aqui vai:
Apaixonei-me logo pela Mia e senti que ela me tinha escolhido. Levei-a para casa e tive de arranjar part-time para que nada lhe faltasse.
<P>Inicialmente, era estranho acordar com um animalzinho em cima das minhas costas e a ronronar enquanto trocava a pressão exercida pelas patas dianteiras de uma mão para a outra. Era estranho e ao mesmo tempo muito bom. Acordava logo bem-disposta!

A Mia morreu (custa tanto escrever/dizer/recordar isto) no dia 24 de Janeiro e desde então que sinto que falhei ao meu compromisso.
Ela começou por se esconder, por se isolar uma semana antes; depois começou a fazer totalmente o oposto e só queria estar ao pé de nós até que na quinta-feira ela não quis comer, não quis beber, não quis levantar-se da cama o dia todo e notei uma dificuldade tremenda no andar dela. Parecia não ter força. Levá-mo-la ao veterinário mas estava tudo, aparentemente, bem tanto que se suspeitou que fosse um mau jeito dado na coluna e voltámos para casa com analgésicos e antibióticos. Ela voltou melhor e até comeu mas vomitou e eu não ia dar-lhe comprimidos sem que ela comesse. Então voltámos ao veterinário. Desta vez, voltámos com xarope analgésico e uma pasta vitamínica e segunda-feira ela haveria de estar melhor.
Mas não foi assim. Na verdade as coisas só foram piorando até que, domingo à noite, a Mia me surpreende a comer o alimento húmido que lhe dava e a beber água sozinha. Nessa noite, uma lágrima deslizou do olho dela e eu reparei que não piscavam. Devia tê-la levado ao veterinário outra vez mas decidi que ia mesmo esperar por segunda-feira como a veterinária mo dissera. Às 9h50 do dia 24, eu e o meu namorado acordamos com a dificuldade da pequena ao respirar e, com essa dificuldade, uns soluços que não eram soluços nem era um ataque epilético.
Peguei na minha pequenina para a acalmar e encostei a cabeça dela ao meu ombro a dizer "já passa, já passa!" e foi quando, bem perto do meu ouvido, lhe ouvi um suspiro pouco depois dos soluços passarem e disse "Parou!" enquanto descia o corpo já morto até ao meu colo. Pus-lhe a mão no peito e senti o leve batimento do seu coração dissipar-se-me entre os dedos, entre o tempo e a falta dele. Pú-la, então, em cima da cama e foi ao levantá-la que não consegui segurar o choro, a loucura, o desespero, a tristeza profunda: do nariz e da boca saía sangue e não era com analgésicos que se tratava aquilo.
A veterinária tentou tudo o que podia e foi fantástica connosco: sempre a entender a nossa preocupação e a receber-nos sem marcação. Nunca pensámos que a minha bebé que era esterilizada e não tinha acesso à rua, morresse daquela maneira com um ano e meio. Ultimamente só me sinto bem dentro de uma clínica veterinária ou fora de casa mas tenho mais um gato, o Zeca, que também precisa de mim. O pior é que não sinto por ele o que sentia por ela. A melhor maneira de explicar o que sinto é dizer que ela era filha e ele é adoptado.
Ainda penso ouvi-la a miar, ainda adopto a mesma posição a dormir quando me dá a sensação de a ter deitada ao pé de mim, ainda a vejo pela casa e o Zeca chama por ela e corre pela casa toda num miar desesperante e, de manhã, parece-me ver-lhe as orelhinhas do outro lado da cama mas quando me levanto, muito acelerada, vejo que foi imaginação, que ainda não me habituei à ausência dela, ao vazio em mim.