Gostaria de vos dar a conhecer a história da minha mais recente aquisição aqui para casa, uma história que, mais uma vez, demonstra a crueldade dos seres humanos e a força dos animais que nunca pára de me surpreender.
Sexta-feira passada estava a regressar a casa ao fim da tarde e reparei numa bolinha preta agachada junto a um carro a comer restos de comida que as pessoas do bairro onde vivo costumam deixar aos gatos que por aqui andam. Aproximei-me para ver aquele bichinho novo na vizinhança e vi que era um bebé com pouco mais de dois meses, com um ar esfaimado e os olhos completamente infectados com coriza. Corri para casa para ir buscar uma lata de comida da minha fidalga e voltei para ao pé do gatinho.
Sofregamente, o gatinho comeu a lata quase inteira, sem mastigar e quase sem conseguir abrir os olhinhos. Quando acabou, começou a andar para se esconder debaixo do carro. Reparei que tinha uma das patinhas traseiras em péssimo estado, completamente inchada e toda esfolada. Não perdi mais tempo e regressei a casa para ir buscar a transportadora e tentar apanhar o bichano. Quando voltei, já se tinha escondido debaixo do carro e foram precisas grandes façanhas da minha parte para o conseguir apanhar. Meti-o na transportadora e corri para casa. O pobrezinho estava em pânico, tremia por todos os lados, mas não me tentou arranhar nem morder (a bem dizer, não tinha forças para isso). Imediatamente liguei à minha veterinária que me disse para lhe ir lavando os olhos com soro e o manter quentinho e bem alimentado.
Mal o coloquei nas mantinhas, o gatinho começou a ronronar como se se tivesse apercebido de que finalmente estava em segurança. Limpei-lhe os olhinhos o melhor que pude, dei-lhe comida e água e vi que a patinha dele estava mesmo em péssimas condições.
Na manhã seguinte, siga para a veterinária. Fiquei a saber que era uma menina. Desparasitámo-la, lavamos-lhe os olhinhos muito bem, desinfectámos-lhe a pata... estava bastante mal, cheia de tecido morto que teria de ser removido para a pele crescer de novo. A gatinha estava também com a barriga extremamente inchada, à custa dos parasitas e da má nutrição.
Os dias seguintes foram complicados. Reparei que a outra patinha de trás (a que não estava ferida) estava partida, a curar já torta, e ela mal a conseguia pousar. Demorou dois dias a conseguir fazer cocó, de tão presa que estava. Deitou parasitas do tamanho do meu dedo mindinho, que me deixaram à beira de me vomitar toda. Os olhinhos dela começaram a melhorar com o tratamento, e revelaram-se uns belos olhinhos amarelos.
Uma nova ida à vet confirmou o que já sabia: tem a patinha partida e já está a começar a calcificar, por isso não há muito a fazer, vai crescer torta. Provavelmente a pata ferida também estará partida, mas isso só poderemos ter a certeza quando a ferida estiver melhor. A bacia também dá sinais de estar partida... Só teremos a confirmação disto tudo quando fizermos raios-x, na próxima sexta, quando a ferida estiver mais sarada.
Dei-lhe o nome de Lilly. Tem andado muito bem disposta, apesar das dores e de odiar quando lhe tenho de dar medicação e fazer os curativos. Já brinca e come que nem uma leoa. Ainda tem uma longa recuperação pela frente, mas a vet diz que ela, apesar de nunca ficar a 100%, terá uma vida normal, dentro dos possíveis (pelo menos é o que achamos, mas isso só o tempo dirá... quando tivermos os raios-x haverá mais certezas).
Não sabemos ao certo o que lhe aconteceu, mas deve ter sido atropelada. Nem sei bem como é que um ser tão pequenino conseguiu resistir às rodas de um carro, não sei como é que tiveram coragem de a deixar assim, não sei como é que ela se aguentou com as dores de uma pata completamente ferida, outra partida e a bacia partida, e ainda conseguiu arrastar-se até à zona onde as pessoas deixam comida aos gatos da rua (uma zona onde não passam carros, por isso não foi atropelada ali perto).
Por agora está segura, com muita comida, mimos, brinquedos e mantinhas quentinhas. Peço todos os dias às entidades superiores (se as há) que permitam que a Lilly fique bem e tenha uma vida longa e boa.
Aqui está uma fotinha dela, tirada ao meu colinho hoje de manhã, enquanto se deliciava com festinhas e fazia ronrom como se não houvesse amanhã:

Alguma vez tiveram conhecimento da recuperação de gatos com as duas patas traseiras partidas? Como é que cresceram e em que condições viveram? Apreciaria muito que partilhassem casos semelhantes, se os souberem.
E outra coisa, a minha outra gata, a Chloe, tem oito meses e é uma mimada de primeira e está a ter muitas dificuldades em aceitar a Lilly. Por agora estão em divisões separadas, sem ter contacto uma com a outra, porque a Lilly ainda não está vacinada e está muito fraca e a Chloe é uma brutinha e bufa-lhe e rosna-lhe o tempo todo. Nos primeiros dias, andava a bufar a tudo o que se mexia cá em casa e só de cheirar as nossas mãos depois de termos mexido na Lilly desatava a rosnar. Ainda anda meio amuada com esta situação toda, mas já se acalmou um pouco.
Alguém tem dicas para socializar as duas, a seu devido tempo? Estou com receio que a Chloe decida não aceitar a Lilly. Gostava que, pelo menos, se aprendessem a tolerar uma à outra.
Peço-vos desculpa pelo comprimento deste post e obrigado desde já aos que tiveram paciência para ler e responder.
-Margarida