Tem de ser por amor, Lunabloom. "Aquele engano d'alma, ledo e cego, que a fortuna não deixa durar muito". Todas as coisas só têm o peso que lhes atribuimos, e ainda é escolha nossa tornarmo-nos maiores para que o esforço seja menor. Gostando imenso de cães, e tendo sido sempre uma "dogperson", entendo as lições dos gatos de forma mais intensa e profunda. É fácil gostar de um cão, por norma criatura simpática e submissa, transparente. Os gatos são outro mundo... Sabem gozar a vida e fazer-se respeitar. São criaturas da noite, misteriosas, subtis e cconhecê-los é quase um exercício de autoconhecimento. Foram os gatos que me ensinaram a aceitar a morte como parte da vida, presença constante como a espada de Démocles, e que me fizeram compreender o dito popular de que "para morrer basta estar vivo". Com tantos gatos, é mais do que compreensão, é evidência.

Nunca, nunca podemos descansar e fechar os olhos, mal o fazemos, a vida atira-nos baldes de água fria, de gelo, ou atira-nos mesmo à água, e ai de nós se não acordarmos!
Agora, por exemplo, tenho a minha pequena Kali internada com suspeita de meningite. Desde bebé que tem problemas, sempre constipada e com otites. Houve uma altura em que simplesmente parou de crescer e apresentou sérios problemas de equilíbrio, parecia bêbeda, devido a uma grande infecção num ouvido. Foi tratada durante imenso tempo, mas reagiu bastante bem, depressa voltou a correr e brincar, embora com a cabecita meio de lado e sempre pequenita, mas foi crescendo. De vez em quando lá ficava ranhosita, era tratada (com dificuldade, porque ela é terrível, daí o nome da deusa hindu

), mas sempre brincalhona, a comer bem. Domingo passado teve dois "ataques" com diferença de 3 horas: não conseguia firmar-se nas patas e sacudia a cabeça como se tivesse parkinson. Claro, tinha de ser a um domingo, e à noite. Telefonei ao veterinário e como houve aqui um grande susto com o cão do vizinho solto, atribuiu-se o "ataque" ao stress e alguma privação de oxigénio, uma vez que estava muito "ranhosa". De qualquer modo, pediu-me que a levasse segunda de manhã e ficasse uns dias em observação. Passadas duas horas, o "ataque" repetiu-se embora mais ligeiro. Ainda comecei a escrever uma sms, pois era quase meia noite e não se tratava de uma verdadeira emergência, mas nem acabei de escrever, pois passou. Depois de cada um dos ataques, em que lhe peguei ao colo, mal a pousei foi encantada da vida brincar, comer... Ontem de manhã levei-a e estive lá um bom bocado, ela sempre bem disposta e a miar os seus "uah!" (achamos que está com o cio), mas ao fim da tarde voltou a suceder. Já está com antibióticos e forte suspeita de meningite.
Depois também tenho o meu Gabriel, o "doente oficial" aqui do reino, que só se sabe o que não tem, mas está bem disposto e a comer bem, é o que importa. Que se lixem os resultados dos exames que dizem q ele devia estar moribundo, enjoado e ictérico.
Dois dos bebés da Pantufa voltaram a constipar-se, nada de grave, mas não tenho como os isolar dos manos. Três vão logo à noite para casa da "ambv", é a única solução. Mesmo que quisesse, neste momento não consigo tratar de 6 bebés, já voltei ao serviço.
Tenho uma cotinha que parece estar mal da boca, não anda a pegar na ração mas se lhe dou latas de patê, devora-as. Também tem de ver a boca e fazer check up geral, pois tem 11 anos e o último (e primeiro...) foi feito em Dezembro. É a Biryani, irmã do gato que me desapareceu.
E por falar em desaparecimentos, o meu Gastão está sumido. Dormiu em casa, estou certa disso, mas não está em parte nenhuma. Pode ter saido de manhã cedo, quando fui para escola, mas não dei conta (e costumo saber muito bem quem sai, e ele não está autorizado a sair quando me ausento) ou pode ter saído quando cheguei, na "molhada" que estava à porta e se atropelou para saudar o sol, como é costume e aí, confesso, não reparei, uma vez que era saída autorizada. Mas não me lembro de o ver. Já andei aqui à volta com os outros, chamei e nada... mas também não é a primeira vez que faz destas, adormece numa sombra e pode vir Deus à Terra chamá-lo, que ele não está nem aí. Claro que estou preocupada e com o coração nas mãos, e o sono que tinha da noite pouco e mal dormida foi-se. Vou esperar pelo fim da tarde para entrar em pânico, até lá tenho de me controlar e segurar o coração nas mãos.
Desanimar? Impensável. São muitos gatos, e ainda as cadelas, a precisarem da minha atenção! Além disso, quem consegue ir-se abaixo rodeada de criaturas que conseguem arrancar gargalhadas aos mais sisudos?

Como diziam os pinguins do filme Madagáscar: "Sorrir e acenar, sorrir e acenar!"

Acredito na Paciência, na Persistência, no Pai Natal e no Poder do Fiambre!