Ora bem, vou dar o meu testemunho.
Acho piada quando falam do campo que as pessoas não sei quê, e que aí sim, pode-se dar liberdade porque não há carros nem perigo, nem nada. Ora bem, estou-vos a falar directamente de uma aldeia no interior deste país à beira mar plantado, aldeia com 5 casas e em que na qual a média de idades deve rondar os 60 anos...

Ora bem, uma típica aldeia portuguesa, com carros de bois, pessoas que sobrevivem da agricultura, que não têm electricidade e/ou água canalizada no monte de tijolos a que chamam de casa. Feita a apresentação, vamos aos animais.
Desde miúda que tive animais em casa (rua), e nunca me lembro de algum morrer de velho. Pergunta-se aos meus pais e todos dizem adorar animais e que sempre os tiveram, mas, para mim, são tretas. O que durou mais tempo, acabou por morrer atropelado, mesmo só passando aqui um carro de duas em duas horas... Outro morreu envenenado por um vizinho, pois de vez em quando decidia ir lá roubar umas galinhas. Isto, claro, falando de cães, pois os gatos nem têm estatuto de animal doméstico por estas bandas.
O meu gato nunca pôs o pé fora de casa, uma vez que aqui nada é vedado e era-me impossível controla-lo. Como devem imaginar passo um tormento por pensar assim, mas tenho uma casa enorme e ele tem mais do que muito espaço para correr, saltar e brincar. Todos gozam comigo, dizem que os gatos não se podem domesticar, acham ridículo ele dormir comigo, os cuidados veterinários que tenho com ele e principalmente ter cometido a barbaridade de o ter castrado.
Portanto, com tanta coisa quero apenas dizer que as pessoas do verdadeiro campo, e não as fazendas do Alentejo e afins para passar o fim de semana, não "têm" gatos. Eles andam por aí, comem ratos enveneados e morrem também, são atropelados vezes sem conta e há ainda quem afogue as ninhadas, as ponha no meio da estrada dentro de um saco ou até esmague, um a um, cada gatinho contra uma parede.
Quem "tem" gatos, quem sabe o que eles são, o que eles gostam e precisam, não lhes pode dar uma vida de campo. Eles são felizes com o que conhecem. Qualquer adolescente era mais feliz saindo todos os dias até às 6h da manhã e enfrascando meia garrafa de vodka. É por isso que os deixam fazê-lo? Não, protegem-os. Os animais são crianças que precisam de nós. E cabe-nos a nós, donos, protege-los do que podemos e temos consciência que é mau. Isso sim é fazer um gato feliz. Quem os consegue limitar e proteger e, ao mesmo tempo, fazê-los felizes, é um bom dono.
Desculpem o testamento.
