a ideia do consumo directo de água é um ERRO, e a principal causa da doença que mais mata os gatos: a insuficiência renal crónica. E vou tentar explicar a razão da minha afirmação, que é frequente tema de discussão com o "meu" vet, e para mim faz todo o sentido:
A domesticação passa por várias fases, e só muito recentemente os gatos entraram nas nossas casas para não mais sairem. Mas enquanto foram animais livres, e originários de zonas semidesérticas, os gatos NÃO BEBIAM ÁGUA. Extraiam toda a água necessária do alimento, carne FRESCA, palpitante... muitos insectos também integravam a sua dieta, fornecendo proteinas adicionais. Como a maioria dos felinos, nem sequer eram necrófagos. São caçadores por excelência, e todo o seu corpo está preparado para a caça: aves, pequenos roedores, insectos. E isto não se alterou. Qualquer gato comum ou de raça (menos os persas) conserva as suas características de autonomia e independência.
Já em ambiente urbano, ficaram conhecidos pela excelência no extermínio de ratos, ratinhos e ratões. Toda a gente sabe o que sucedeu aos gatos durante a idade média, e as consequências da sua perseguição e morte; mas não muita gente sabe que os ratos são uma fonte de vitamina C, um poderoso antioxidante que evita o escorbuto e acidifica a urina, impedindo a proliferação de microorganismos que provocam as infecções urinárias, entre muitas outras "funções". Portanto, até aqui, tudo bem: os gatos continuaram a alimentar-se com ratos, mantendo os ambientes livres de pragas e satisfazendo as suas necessidades alimentares.
Mas subitamente, e já em meados do século XX, os gatos começam a ser vistos de outra forma. Capazes de uma lealdade e devoção idêntica à dos cães, surgem como os animais ideais para manter num apartamento: independentes e autónomos, relativamente silenciosos e limpos, e bastante económicos, rapidamente se tornaram um bom alvo do Mercado. Surge então a alimentação industrializada, para comodidade dos donos, e começam também a ser estudados nas faculdades de medicina veterinária. As rações tomaram o lugar da taça de leite e do peixe miúdo, a "labuta" pelo alimento e território foi substituida pelo sedentarismo do sofá. Mas, como disse antes, o corpo e metabolismo dos gatos não se alterou. E foi aqui que as coisas começaram a correr mal...
A ração seca, para além da adição de taurina, vitaminas, etc, comtém uma elevada percentagem de proteina e gordura vegetal, totalmente inútil ao organismo de um gato. E, dotada de pouca humidade, obriga os gatos a beber água, coisa que não gostam muito de fazer - justamente porque os seus rins não estão preparados para tal! O consumo de água obriga-os a um esforço excessivo; mas sem essa água, desidratam, o que também provoca lesões renais...
Felizmente, os americanos perceberam o problema. Muito mais estudados lá do que cá, compreenderam que os gatos são muuuiiito diferentes dos cães, e têm de ser tratados de acordo com essa diferença. E tornou-se óbvio que a comida seca era inadequada por fazer mais mal do que bem. Não só por prejudicar os rins, mas também responsável por problemas na boca. É que os bagos de ração, ao desfazerem-se, transformam-se em pó... e este pó, misturado com a saliva, forma uma "pasta" tipo cola, acumulando-se nos dentes e gengivas de uma forma ainda mais insidiosa que os patês, que já são previamente hidratados e por isso acabam por "deslizar" mais, embora também haja acumulação.
Por isso, concluiu-se que a comida enlatada, em pedaços, com uma textura semelhante à da carne, evitava não só a sobrecarga dos rins e a desidratação, como também as estomatites e outras doenças da boca. Melhor que isso, só mesmo a alimentação natural que, aliada aos cuidados de saúde e à maior segurança proporcionada pela esterilização, prolonga efectivamente a vida dos pequenos felinos.
É claro que os gatos, como nós, cada vez mais morrem das doenças "da civilização", como o cancro. Que eu saiba, só mesmo o ser humano está "programado" para continuar a viver após a idade reprodutiva (penso que é o único mamífero que tem meno e andropausa), e nos gatos o envelhecimento não é tão progressivo como, por exemplo, nos cães, e a longevidade é também maior, de um modo geral. Se aproveitarmos o "atraso" do nosso país, sobretudo no que respeita aos níveis de poluição, e aprendermos com os avanços científicos dos países mais evoluidos, podemos dar aos nossos gatos uma vida longa e saudável.

Acredito na Paciência, na Persistência, no Pai Natal e no Poder do Fiambre!