Informação sobre FeLV

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Moderador: mcerqueira

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IHaveADream
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terça ago 03, 2010 12:45 pm

Lembrei-me de que tinha guardado um texto sobre FeLV e resolvi partilhá-lo aqui com os restantes utilizadores, esperando que seja útil.


«Vírus da Leucemia Felina (FeLV)

O vírus da leucemia felina (FeLV) é, significativa e frequentemente, causa de doença e de morte nos gatos domésticos. Os gatos portadores deste vírus, isto é, com infecção persistente, correm o risco de desenvolver patologias graves, tais como anemia e tumores. A sobrevivência a partir do momento do diagnóstico não ultrapassa os três anos e meio para 80 a 90% dos gatos FeLV-positivos.
O efeito mais comum da infecção por FeLV é a imunossupressão. O vírus infecta as células do sistema imunitário (os glóbulos brancos) e danifica-as, chegando muitas vezes a destruí-las. Consequentemente, o gato fica vulnerável a uma série de doenças e infecções (infecções secundárias). O vírus da leucemia felina pertence à mesma família que o vírus da imunodeficiência felina (FIV).

O meu gato corre risco de infecção?
O FeLV é um vírus frágil que não consegue sobreviver muito tempo no ambiente, pelo que a disseminação viral entre gatos pressupõe um contacto estreito e prolongado. Assim, a infecção dá-se mais frequentemente em situações em que existe elevada densidade populacional de gatos. Estima-se que um a dois por cento dos gatos do Reino Unido sejam FeLV-positivos. Este cenário parece ser mais alarmante em gatos urbanos e mais brando em populações de gatos rurais. Em gatis ou lares onde coabitem muitos gatos em que a infecção por FeLV seja endémica (constantemente presente na população), mais de 30% dos gatos poderão estar infectados.
Os gatos jovens, particularmente aqueles com idade inferior a seis meses, são especialmente vulneráveis a infecção persistente por FeLV.

Como é que a infecção se dissemina?
A principal fonte de vírus é a saliva dos gatos com infecção persistente. O vírus dissemina-se em actividades em que os gatos contactem com a saliva de outros gatos, tais como o grooming mútuo ou a partilha de comedouros ou bebedouros. Alternativamente, a transmissão poderá ser consequência de lutas com mordedura ou do contacto com urina ou fezes que contenham o vírus. Pode também ocorrer infecção viral da ninhada de uma progenitora FeLV-positiva por via intra-uterina ou via leite materno. Contudo, isto é raro, uma vez que a infecção viral intra-uterina causa morte pré-natal, culminando em reabsorção fetal ou aborto.
Nem todos os gatos expostos ao FeLV ficam com infecção persistente, o que pode ser explicado por não haver exposição a uma carga viral suficiente ou por o sistema imunitário do gato ser capaz de debelar a infecção. A infecção da maior parte dos gatos ocorre por via oronasal, isto é, o vírus entra no organismo pela boca ou pelo nariz do gato. O vírus multiplica-se nestes locais antes de se disseminar, via corrente sanguínea, para o resto do organismo, particularmente para a medula óssea. Se o gato for capaz de eliminar o vírus, isto ocorrerá durante os estágios iniciais (4 a 12 semanas) da infecção. Uma vez ocorrida infecção significativa da medula óssea, o gato permanecerá infectado para o resto da vida.
Muito raramente, a infecção por FeLV poderá limitar-se a determinadas partes do corpo do gato, como por exemplo as glândulas mamárias. Este fenómeno é conhecido como “infecção localizada”.

Sinais e sintomas
Em gatos com infecção persistente por FeLV desenvolve-se uma espécie de doença crónica e/ou recorrente. Há deterioração progressiva do estado de saúde do gato ao longo do tempo. Os sinais clínicos que podem surgir são diversos, incluindo febre, letargia, perda parcial ou total do apetite e perda de peso. São também comuns os sintomas do foro respiratório, cutâneo e gastrointestinal. Os gatos poderão ser afectados por várias doenças simultaneamente. Em aproximadamente um quarto dos gatos infectados por FeLV surge anemia. O vírus pode infectar os glóbulos vermelhos existentes na medula óssea, resultando na sua depleção ou na produção de glóbulos vermelhos disfuncionais. Noutros casos, o FeLV poderá resultar na destruição dos glóbulos vermelhos pelo próprio sistema imunitário do gato. Os gatos anémicos demonstram sintomas em que se incluem fraqueza e letargia.
Em cerca de 15 por cento dos gatos infectados por FeLV desenvolvem-se tumores. O mais comum é o linfoma, uma neoplasia dos linfócitos (um dos tipos de glóbulo branco) que tem como consequência o desenvolvimento de tumores sólidos (“massas”) ou a leucemia (presença de células tumorais na corrente sanguínea). Os tumores sólidos podem desenvolver-se em inúmeros órgãos, como o intestino, os rins, os olhos ou as câmaras nasais. No linfoma multicêntrico, o tumor envolve múltiplos linfonodos, para além de outras localizações.

Tratamento da infecção por FeLV
Actualmente não existe tratamento para eliminar a infecção. O objectivo do tratamento deverá ser então a manutenção da qualidade de vida e o controlo das consequências da infecção, tais como a imunossupressão, a anemia e os tumores.
Os cuidados de suporte e um controlo eficaz das infecções secundárias, estabelecidos de forma pronta, são essenciais no gato FeLV-positivo doente. Devido à falência do sistema imunitário, são necessários cursos de antibioterapia muito mais longos que o habitual. A resposta ao tratamento é geralmente muito mais lenta e, frequentemente, menos bem sucedida. O alívio sintomático poderá ser conseguido com tratamentos inespecíficos, tais como a administração de corticosteróides, de esteróides anabolisantes e de complexos multivitamínicos (que encorajem o apetite). Os agentes antivirais, tais como o AZT (azidotimidina), que têm vindo a ser usados em pessoas com HIV, não parecem trazer qualquer benefício ao gato FeLV-positivo. Foi recentemente licenciado um outro agente terapêutico denominado interferão recombinante felino; contudo, ainda não se conseguiu comprovar de forma objectiva e rigorosa que a sua administração é vantajosa em casos de leucemia felina. Neste momento, o valor da administração deste medicamento é controverso, pelo menos até que se demonstre cientificamente a sua eficácia. Alguns gatos com linfoma poderão melhorar de forma temporária se tratados com agentes quimioterápicos. Normalmente, a quimioterapia implica a administração de mais do que um medicamento por via oral ou injectável.

Ajudar a manter o gato saudável
Os gatos com infecção por FeLV não deverão ser alimentados com carne crua, devido ao risco aumentado de toxoplasmose (infecção por Toxoplasma gondii). Normalmente, este parasita só tem a capacidade de causar doença em gatos imunossuprimidos, nos quais causa uveíte (inflamação das estruturas internas do olho) e sintomas de foro neurológico tais como convulsões e ataxia (movimentos descoordenados).
Para gatos FeLV-positivos que se encontrem em situação de risco (locais com elevada densidade populacional de gatos, gatis, hospitais veterinários) recomenda-se a administração de vacinas, particularmennte as da “coriza” (herpesvirose e calicivirose) e da “enterite infecciosa” (panleucopénia). Recomenda-se igualmente a administração regular de tratamentos preventivos de pulgas, de forma a minimizar o risco de infecção por Mycoplasma haemofelis (um parasita sanguíneo que pode causar anemia severa), e de desparasitantes internos (eliminação de lombrigas e de ténias).

Vacinação
Existem diversas vacinas contra a leucemia felina. O seu objectivo é evitar que o gato exposto ao vírus fique com infecção persistente. Todas as vacinas para FeLV vão ao encontro deste objectivo, estimulando o desenvolvimento de uma resposta imunitária eficaz face à infecção pelo vírus da leucemia felina. Infelizmente, não existe nenhuma vacina que consiga garantir 100% de eficácia no combate à infecção. A vacinação é recomendada para gatos em situação de risco elevado de exposição ao vírus. Assim, os gatos com acesso/que vivem no exterior e aqueles que possam contactar com indivíduos potencialmente infectados deverão ser vacinados.
Será um pouco imprudente assumir que um gato vacinado para FeLV esteja completamente livre do risco de contrair a infecção, pelo que, em situações em que seja importante conhecer o “estatuto” FeLV de um gato (por exemplo, a introdução de um novo gato num gatil de um criador), é fundamental que um certificado de vacinação não seja aceite em substituição de um teste de FeLV negativo. A vacinação não interfere com os resultados dos testes usados para o diagnóstico da infecção.
A inexistência de uma vacina totalmente eficaz significa também que não é de todo aconselhável juntar um gato FeLV-positivo a um gato vacinado e de estatuto FeLV-negativo.

Controlar a doença
Uma vez que o vírus tem elevada capacidade de infecção e que se transmite rapidamente por contacto estreito e prolongado, os gatos que coabitem com um gato FeLV positivo correm risco de infecção através do grooming mútuo e da partilha de comedouros e bebedouros. Sempre que possível, os gatos FeLV-negativos deverão ser separados do gato com infecção persistente. Recomenda-se igualmente que o gato FeLV-positivo não tenha acesso ao exterior, de forma a minimizar a disseminação da infecção a outros gatos. Isto poderá ser difícil para gatos que não tolerem permanecer permanentemente dentro de casa. É muito importante ponderar o risco (para o próprio gato e para os outros com que venha a contactar) face às considerações do bem-estar. Desde que seja possível, a colocação de uma vedação no jardim ou a construção de um corredor exterior vedado permitirão que o gato saia de casa sem que isso implique risco para ele ou para os outros gatos.
Nos gatis que se dedicam à criação, o sistema de “teste e exclusão” tem vindo a ser extremamente eficaz na erradicação da infecção por FeLV. Este sistema baseia-se na execução do teste a todos os gatos candidatos a entrar no gatil, que permanecem sem contactar com os residentes. Após um período de 12 a 16 semanas, o teste é repetido, uma vez que alguns animais inicialmente negativos para FeLV poderão estar em período de incubação da doença e vir depois a revelar-se positivos e que alguns dos gatos inicialmente positivos para FeLV poderão ter apenas uma infecção transitória com subsequente eliminação do vírus (vindo depois a ter resultados negativos).
Os gatos que apresentem resultados repetidamente positivos não deverão dar entrada no gatil; aqueles que tenham dois testes consecutivos negativos podem ser admitidos. Qualquer gato novo a introduzir no gatil, mesmo que vacinado contra FeLV, deverá ser testado antes de ser colocado junto à colónia residente. Todos os gatos de um gatil destinado à criação deverão ser testados a cada 6 a 12 meses com o objectivo de manter o estatuto FeLV-negativo da colónia.
Na prática, um único gato mantido apenas dentro de casa (sem acesso ao exterior e, assim, a outros gatos) não deverá estar em risco de exposição ao FeLV. Contudo, é possível que um gato adulto possa sucumbir à infecção por FeLV apesar de ter permanecido toda a sua vida, desde “gatinho”, isolado de outros gatos. Isto pode ocorrer uma vez que, muitas vezes, o curso da infecção por FeLV é prolongado; se um gatinho foi infectado pelo seu progenitor previamente à entrada no novo lar, os sinais de infecção por FeLV poderão desenvolver-se apenas meses a anos após o contacto inicial com o vírus. O risco de disseminação de FeLV nas exposições felinas é mínimo.

Testes para diagnóstico do FeLV
Os veterinários usam “kits” de diagnóstico que detectam uma das proteínas virais (p27) presente no sangue dos gatos infectados por FeLV. Normalmente, estes testes testam o sangue simultaneamente para FIV, uma vez que muitos dos sintomas da infecção por este vírus são similares aos da infecção por FeLV. Podem ocorrer ocasionalmente resultados falso-positivos e falso-negativos, pelo que é vital que se faça um novo teste de confirmação sempre que se obtenha um resultado inesperado. Isto é especialmente importante se se obtiver um resultado positivo num gato saudável e, inversamente, um resultado negativo num gato doente com sinais compatíveis com infecção por FeLV.

Os testes para confirmação do resultado incluem:
1. Isolamento do vírus – detecta e identifica o vírus no plasma sanguíneo
2. Imunofluorescência – identifica os antigénios virais (proteínas) nos glóbulos brancos
3. PCR (reacção em cadeia da polimerase) – detecta o material genético do vírus (só alguns laboratórios disponibilizam este teste)

Enquanto se aguardam os resultados do teste de confirmação, o gato deverá ser isolado de forma a evitar qualquer possibilidade de transmissão da infecção a outros gatos.

Normalmente, os veterinários seguem o seguinte protocolo:
• Se o resultado do teste rápido for negativo, é muito provável que o gato seja genuinamente negativo para FeLV.
• Se um gato saudável apresentar um resultado positivo no teste rápido, deverá ser feito um teste adicional para confirmação do resultado.
• Se o gato positivo no teste rápido for negativo no teste de confirmação, deverá ser novamente testado após 12 semanas para confirmação do seu estatuto FeLV.

Testar gatos residentes em abrigos/associações
Idealmente, todos os gatos que dêem entrada num centro de abrigo deverão ser testados para FeLV, embora nem sempre isso seja possível devido aos custos envolvidos. Recomenda-se assim que, antes de se adoptar um gato, se pergunte se ele foi ou não testado. Se o gato for positivo, todos os riscos da sua adopção deverão ser explicados ao potencial dono.

Prognóstico do gato FeLV-positivo
O prognóstico para um gato FeLV-positivo já doente é mau; normalmente, as doenças associadas são bastante graves. O prognóstico é reservado para os gatos FeLV-positivos que se encontrem na fase assintomática aquando do diagnóstico. A maioria destes gatos desenvolve subsequentemente uma patologia fatal associada a FeLV; o período em que tal patologia de desenvolve é, contudo, variável (meses a anos). É, portanto, vital que os gatos FeLV-positivos sejam mantidos em isolamento, de forma a prevenir a transmissão de FeLV a outros e a minorar o risco de contraírem outras infecções; se não se puder garantir o isolamento do gato FeLV-positivo, deverá ponderar-se a eutanásia.


Última actualização em Novembro 2008

Este folheto informativo foi elaborado pelo Feline Advisory Bureau (www.fabcats.org) e adaptado para português nesta clínica.

Clínica Veterinária Unicórnio Azul, Boliqueime»
Última edição por IHaveADream em quarta ago 18, 2010 6:29 pm, editado 1 vez no total.
KittensLover
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Registado: segunda set 14, 2009 1:15 pm
Localização: Kitty, Zara, Wallee, Mia & Micas

terça ago 10, 2010 2:11 pm

Excelente tópico! :wink:

Já cá está nas minhas mensagens para o recomendar sempre que seja necessário. Ainda há pouco tempo vieram questionar acerca do assunto.
NuriaAN
Membro
Mensagens: 149
Registado: domingo mar 21, 2010 12:08 pm

sexta ago 13, 2010 3:57 pm

KittensLover Escreveu:Excelente tópico! :wink:

Já cá está nas minhas mensagens para o recomendar sempre que seja necessário. Ainda há pouco tempo vieram questionar acerca do assunto.
Nem mais!! :)

editado: espero que se torne um dos inamovivéis!
VascoMV
Membro Veterano
Mensagens: 763
Registado: sexta jul 09, 2010 7:34 pm

sexta ago 13, 2010 4:38 pm

Desde que tenha os créditos da clinica que fez a adaptação e que não está aqui.
IHaveADream
Membro Veterano
Mensagens: 737
Registado: segunda jul 12, 2010 2:39 pm

quarta ago 18, 2010 6:28 pm

Não foi colocado por modéstia da veterinária que fez a adaptação, mas que não seja por isso, já vou editar.
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