quarta out 26, 2005 9:09 pm
Pat,
A questão não está na falta de noção da gravidade da "coisa". Apesar de toda a desinformação que circula na comunicação social (obviamente quanto mais negro o cenário mais vende...).
Sinceramente eu não tenho nada contra a proibição das feiras, exposições e afins, nada mesmo e sou criador, expositor, juiz, dirigente associativo, tenho a exposição do meu clube cancelada (logo no 1º ano). E profissionalmente não sou nada beneficiado com a situação. Mesmo assim não sou contra, porque tenho noção que estas medidas são necessárias.
O que sou contra, eu e muitos outros criadores é que, como o Paulo disse, se esteja a fazer as coisas pelo elo mais fraco quando existem situações MUITO mais graves para a saúde pública e que fazia muito mais sentido já estarem proibidas e não estão, nem vão estar. O que sou contra é que se esteja a fazer uma autêntica perseguição aos criadores de aves metendo tudo no mesmo saco. Lá porque se vendem aves em feiras ao ar livre e se têm capoeiras abertas a criar pardais, galinhas e ratos juntos, isso nada tem a ver com a criação séria de aves.
Em locais confinados, isoladas de todo o meio exterior. Se a opinião pública conhecesse algumas salas de criação de muitos criadores nacionais não acreditava que criavam passarinhos. Se quiserem exemplos desde construção isolada a climatização total a aspiração central é fácil...
A grande maioria das aves que participam numa exposição não vêm o espaço exterior de uma sala de criação faz muitas gerações, nem são postas ao ar livre, afinal qual é o risco exacto que comportam para a transmissão da gripe das aves ???
É contra isso que sou contra. Que fechem a importação de aves selvagens, já devia ter sido feito antes, que controlem a venda de aves ao ar livre e os mercados, bem os problemas que isso traz de saúde pública não são só da gripe das aves. Que andem em cima de todo o tráfico ilegal que todos sabem que existe, fabuloso, que exijam condições de biosegurança tudo bem. O que sou contra é ver responsáveis a dizer que é muito importante evitar o contacto das aves de capoeira com pessoas e por isso são proibidas nos mercados, num mercado com centenas de pombos a voar lá DENTRO, por cima de tudo e todos...
A única objecção está na falta de bom senso. É que numa situação grave existem prioridades, pontos criticos, e esses são atacados primeiro. Essa é a lógica certa, não perder tempo com operações de charme para mostrar alguma coisa ao público.
E nisso, não me convencem que as exposições de aves sejam um desses pontos mais criticos, postas lado a lado nas mesmas condições que os mercados??? Alguma vez visitaram uma exposição?? Tem alguma coisa a ver?? Mas enfim, aceitamos tudo isso e como tal foi decidido cancelar as exposições previstas. Agora a vontade é feita, mas não me façam dizer que acredito que são um perigo para facilitar a propagação da gripe das aves. Nem que andarem as autoridades numa exposição a chatear com faltarem 5cm no tamanho duma gaiola ou que o poleiro é mais curto do que devia para cumprir um DL que existe faz SEIS anos e NUNCA ninguém se lembrou de aplicar, ou que um periquito inglês precisa de CITES mas o periquito normal não... Ou que para criar qualquer ave não indigena é preciso uma licença especial porque nem sequer ler o DL conseguem fazer como deve ser... porque carga de água é que de repente veio à tona toda esta preocupação com os passarinhos?? Quando desde 2001 que se anda a tentar que as autoridades saibam que existem tipos a criar passarinhos e que até gostavam de ter uma coisa como um estatuto legal do criador? Mas até aqui alguém ouviu?
Contra isto tenho que estar contra, porque não tem outro nome senão "palhaçada".
Não ponho em causa que a situação possa vir a ser grave, mas não posso deixar de dizer que todos sabem que é inevitável que aconteça, ninguém sabe nem quando e onde, mas que a conjungação do virus da gripe normal pode acontecer é mais que sabido e que havendo contágio homem-homem haverá um caso grave. Mas também ninguém sabe em que sentido essa conjugação ou eventual mutação vai acontecer, obviamente que nos devemos preparar para o pior cenário, sem dúvida, agora dai até estarmos a perseguir os criadores de aves e tudo o que tem penas... É nisso que o alarmismo resultou e contra isso claramente todos estarão contra, o que não quer dizer que sejam irresponsáveis.
Ou será que depois de passada a pandemia, volta a ser possivel vender aves criadas à margem da lei, ao ar livre, sem quaisquer condições sanitárias, sem controlo veterinário, como sempre foi até aqui? Não deviam esses principios ser sempre aplicados? Ou só existem quando há receio de pandemias e planos de contingência????
E já agora olhem para a realidade na ásia, vejam que tipo de ambiente tornou possivel o contagio aves-homem, que maravilhosas condições sanitárias existem por lá... E não comparem directamente o que não é comparável.
É que eu infelizmente tenho pena que só agora se lembrem de muita coisa que, tem estado na gaveta e devia ser aplicada, parece que afinal não há tanta falta de meios assim para ter agentes da autoridade a contar poleiros numa exposição de aves, ou as autoridades veterinárias a avaliar as condições das exposições, apareceram foi de repente porque até hoje nunca tinham estado disponíveis.
Portanto quando ficamos incomodados com a situação não tem nada a ver com falta de preocupação com a gripe das aves, eu moro a menos de 15km de 6 aviários, se houver algum problema estou lixado, e prezo muito a saúde da minha familia acima de tudo. Agora fazer passar a ideia subvertida que somos nós, criadores amadores de aves ornamentais, o perigo, o grupo de risco, não posso aceitar e acho que facilmente se percebe porquê não??
Ricardo M.