sexta jul 02, 2010 2:32 pm
Estimado Paulo,
É bom que existam opiniões divergentes para que os fóruns possam manter o interesse. Eu não posso concordar mais consigo quando diz que é bom haver criadores em larga escala em Portugal, pois assim pode ser que daqui a algum tempo, um papagaio não seja um luxo caro, pois o preço a que os criadores os vendem é muito elevado a meu ver.
Não concordo é que por se ter muitas crias, se tenha de industrializar a criação. Se não se tem capacidade para ter mais crias, tem-se menos casais. Eu não uso uma colher, uso uma seringa também, mas sem sonda e dou à velocidade que os pais dariam, segurando o bico de lado para recriar o bico dos pais, e não é que demore assim tanto mais tempo, é mesmo o efeito que isso cria no cérebro das pequenas aves. A sonda não reproduz em nada o que é natural, apenas os enche rápido e evita assim que se gaste mais tempo nesse momento.
Se queremos ter aves selvagens em nossa casa, devemos pelo menos tentar reproduzir aquilo para que estão geneticamente programados, de uma forma humanizada, pois não nos vamos mudar para a floresta para ter aves...
O ideal, e não sou eu que o digo, são especialistas internacionais, é que a ave vá para a casa do dono, por volta dos 35 a 40 dias, quando começam a ganhar as primeiras penas e por já se aguentarem em pé, começam a descobrir o que é o mundo.
Como acontece na natureza, nesta fase, o cérebro deles está preparado para começar a gravar as memórias que lhe vão ensinar o que é a vida. Se for nesta altura que eles vão para a casa dos novos donos, a realidade em que vão viver, ou seja, o ambiente, os horários, a familia toda, os hábitos, etc. são aquilo que eles vão gravar como sendo o que é normal no mundo deles. Isto dava para escrever bastante mais....
Se eles ficam na casa do criador até ao desmame, o ambiente onde vivem é muito diferente, ficam numa caixa com mais uns quantos, irmãos, primos e os que tiverem de lá estar, pois o criador tem 150 para criar ao mesmo tempo e não tem tanta incubadora, vão 10 para cada uma. Depois o que ele vai aprender quando se começa a colocar em pé e a ver o mundo, são imensas aves de volta dele e umas mãos que de vez em quando chegam, agarram e enchem de comida através de uma sonda e os recoloca de volta na caixa deles, e isto repete-se 4 ou 5 vezes por dia........ Será que isto enriquece a cabeça deles? Ou os deixa cheios de traumas? Claro que depois as aves conseguem recuperar, mas são bastante assustadiças, qualquer barulho estranho lhes mete medo, etc. Isto dependendo da espécie.
Criar um papagaio desde bem cedo é fácil? NÃO mas também não é nenhum bicho de sete cabeças. Existem muitas regras que são obrigatórias de ser cumpridas e depois tem de haver algum "jeito" para isso, mas quem não sabe, aprende.
Quando criamos nós o papagaio em nossa casa, temos apenas aquele e estamos radiantes do nosso amiguinho novo e como tal, damos-lhe imensa atenção e tentamos sempre interagir com ele, o que faz com que se crie uma relação totalmente diferente entre dono e papagaio. Se formos nós a mostrar-lhe e ensinar-lhe o que é o mundo em volta e como se fazem as coisas, a ave vai ter uma confiança absoluta em nós, se essa confiança é adquirida depois do desmame, nunca é igual, por mais que confie, nunca é igual.
Se vão buscar os papagaios, vão já, quanto mais tempo passa, menos aproveitam essa fase tão agradável que é o seu desenvolvimento e o inicio da aprendizagem. Para voo livre, por exemplo, eu considero quase obrigatório sermos nós a criar e desmamar a ave. Claro que existem casos de aves adultas que foram para casa de excelentes treinadores e que acabaram por fazer voo livre e ter uma vida mais feliz, mas nunca são aves tão "consistentes" como as que criamos nós.
Existe de tudo, no zoo de Lisboa por exemplo, há um espectáculo de voo livre com duas araras e elas voam e voltam para qualquer um dos treinadores que esteja a fazer o show, mas se forem ver, reparem na sofreguidão com que as araras comem a ração que eles dão como recompensa. Este método funciona, e está ali a prova disso, agora peça lá que eles façam a apresentação com as araras de papo cheio. Vão passear e voltam quando lhes apetecer. Ali não há um dono, há vários treinadores que trabalham com elas, esta semana um, para a semana o outro....
Mas isto é assunto para muitas horas de seminários e leituras, espero ter sido compreensível.