Os actos a que me referia são completamente legais, não há como apontar o dedo!
Posso matar cem sapos com o meu carro, mas não posso levar nenhum para casa, vivo ou morto!
Vou só dar outro exemplo:
No local onde está a ser construído o centro de estágio do Benfica (não vejam qualquer clubismo nisto, pois até sou benfiquista), existe (existia) uma grande população de sardão ( Timon lepidus ), que é uma espécie protegida, quem os protege das máquinas de terraplanagem?
Naquele local identifiquei nove espécies de répteis e anfíbios, Timon lepidus, Podarcis hispanica, Psammodromus algirus, Psammodromus hispanicus, Tarentola mauritanica, Chalcides striatus, Malpolon monspessulanus, Coluber hippocrepis e Rana perezi , todas elas “protegidas”.
É obvio que não defendo que se deixe de construir habitações ou qualquer outro tipo de equipamentos só porque Há um bicharoco nas redondezas, os centros urbanos tem que se expandir para algum lado, Mas tem que concordar que nisto tudo Há uma grande dose de hipocrisia.
Não se trata de hipocrisia. Trata-se de falta de informação e sensibilização.
Sejamos realistas: Ninguém está minimamente preocupado com espécies não prioritárias quando se trata de investimentos. É uma triste realidade!
Mas não é por isso que vamos desatar a levar todos esses animais para casa, ou é?
Ás vezes dou comigo a pensar: Temos centros de recuperação especializados em aves e mamíferos. Mesmo animais marinhos têm apoio de entidades privadas para a sua recuperação.
Mas não existe um único centro de recuperação de répteis (terestres) e anfíbios. Cada funcionário que os recolhe faz o melhor que sabe, a maioria das vezes á sua conta.
Parece-me que a herpetofauna ainda é vista como “inferior”....
PS: Não é apenas o “desenvolvimento” que é ameaça á herpetofauna. Estes animais são tradicionalmente vistos no meio rural (e não só) como indesejáveis ou sujeitos a actos supersticiosos.
As cabeças de víbora *** (Vipera latastei) chegam a valer mais que 50 euros em práticas de feitiçaria.
Quem, na maioria, não mata uma cobra sempre que a vê?
Quem tolera uma Osga (Tarentola mauritanica) em sua casa?
Quem não acha “peçonhento” uma Salamandra de pintas (salamandra salamandra) esborrachando-a?
Quantos milhares de anuros e urodelos são esmagados na época nupcial e após o término da metamorfose nas nossas estradas? Onde estão as passagens desniveladas para minimizar a sua dispersão?
Talvez devêssemos começar por aí...
Não é a proibição da detenção destes animais que está errada. Falta é o resto!!