Bianca Menina
Bianca menina
Assim apareceu
E minha vida
Meninou
Fez-me rir,
Ansiar,
Brincar e cuidar,
Desesperar e amar
Correu,
Pulou,
Saltou e caiu,
Choramingou e dormiu...





Cleopatre Escreveu: Papoila
Como as palavras brotam com destreza dessa alma infinita! Quantas vezes não senti a dor das emoções aprisionadas pela limitação do vocabulário ou pela própria incapacidade de as exprimir e partilhar de forma condigna?! Em tempos idos tentei, mas o resultado foi sempre uma esvaída miragem da realidade interior. Hoje, o meu coração transborda de emoção e dilata o peito provocando uma sensação de angústia sufocante por não conseguir descrever o que sinto. As lágrimas são o último recurso desse meu desespero e a única forma de expressão que de mim sai...
No entanto, apenas num acto de reciprocidade despido de qualquer pretenção, aqui deixo algo que há 10 anos escrevi sobre a perda do meu cão, o Nice
«Ainda lembro com clareza o dia em que peguei na enxada para romper a terra em sangue… Abri uma cova por entre as raízes do pessegueiro e lancei o seu corpo no fundo escuro.
Ajoelhei-me então na relva e, pela última vez, toquei o pêlo, senti ainda o calor da carne já inanimada, as veias duras por debaixo da pele macia, os músculos fortes, os membros firmes e hirtos…
Recordei o medo sentido nas noites que ele rompia com uivos de dor! Ambos pressentiamos o fim. Restava-nos esperar.
Acabou por morrer na Primavera...
Agora, no pessegueiro brotam flores que brilham como os olhos dele quando eu lhe cantava a nossa canção durante as longas caminhadas…»
P.S. O Nice morreu com Leichmaniose, doença que na altura era ainda desconhecida e para a qual continua a não haver cura.
Não vos queria entristecer, mas foi dolorosa a experiência para mim... Encontrei-o sem vida numa tarde quente de Primavera, tão brilhante e tão intensa que exigiu demasiado daquele ser já debilitado. Sabem quando rebentam os primeiros botões de flor nas àrvores, quando o pólen se lança no vento morno e o sol nos cega? Parece que a Natureza em renovação testa a capacidade do corpo dos seres vivos e dá um golpe de misericórdia nos fracos... Julgo que foi isso que aconteceu... O Nice já não ladrava de júbilo quando ouvia os meus passos na calçada; já não se lançava à minha cintura quando me aproximava para o afagar; já não corria ensandecido para o portão quando eu perguntava "Vamos à rua?!"; já nem chegara a tocar nas aparas de fiambre que lhe tinha dado no dia anterior... Nunca teria passado no teste rigoroso da Primavera.sac Escreveu: Li e chorei...
Minha querida, não me entristeceste.Cleopatre Escreveu:Não vos queria entristecer, mas foi dolorosa a experiência para mim... Encontrei-o sem vida numa tarde quente de Primavera, tão brilhante e tão intensa que exigiu demasiado daquele ser já debilitado. Sabem quando rebentam os primeiros botões de flor nas àrvores, quando o pólen se lança no vento morno e o sol nos cega? Parece que a Natureza em renovação testa a capacidade do corpo dos seres vivos e dá um golpe de misericórdia nos fracos... Julgo que foi isso que aconteceu... O Nice já não ladrava de júbilo quando ouvia os meus passos na calçada; já não se lançava à minha cintura quando me aproximava para o afagar; já não corria ensandecido para o portão quando eu perguntava "Vamos à rua?!"; já nem chegara a tocar nas aparas de fiambre que lhe tinha dado no dia anterior... Nunca teria passado no teste rigoroso da Primavera.sac Escreveu: Li e chorei...
Pressenti algo estranho logo quando levei a chave ao portão de casa. Parei em frente à porta e recusei olhar para trás onde ele estaria. Senti-me invadida pelo horror! Mas tive de encarar a realidade. Olhei. Deitado na casota que eu havia pintado uns anos antes, ele tinha uma expressão serena, como se tivesse partido em sossego, finalmente liberto do padecimento que o torturara nas últimas semanas. As dores dele ficaram no corpo inanimado e as minhas começavam a dilacerar-me a alma. Eu estava sozinha, sem ninguém com quem partilhar a dor da primeira perda na minha vida. Não chorei. Peguei nele e preparei-me para o enterrar. Só então chegaram os meus pais que viram a incredulidade nos meus olhos. Chamaram o meu avô e, em família, abrimos a terra do nosso jardim. Sabíamos que não era legal, mas não poderíamos entregá-lo a outras mãos! Ficaria connosco para sempre! E assim foi.
Não me recordo de, antes ou depois, o nosso jardim ter florido como naquele ano... Apercebi-me que afinal o meu Nice não tinha morrido apenas com a Primavera, mas também para ela. A energia que lhe restava transformou-se em seiva e alimentou flores, àrvores e frutos que ele nos ofereceu como um bouquet...
A memória dele ficará sempre comigo e, no fundo, ele morrerá apenas quando eu também morrer!