Abandono no Verão

Histórias, sugestões e opiniões sobre a temática dos direitos animais em Portugal e no mundo...

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MFR
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sábado jun 14, 2003 4:41 pm

Abandono no Verão
Diga NÃO !
Abandono dos Animais: Diga NÃO!
De início tudo parece correr bem. Procuramos algo que nos faça companhia ou algo que satisfaça as vontades de uma criança irrequieta. Procuramos um animal de estimação.
Donos de uma beleza natural e de uma fidelidade que por vezes nos surpreende, a escolha de um cão ou de um gato é a mais frequente. Com tanta diversidade a nossa decisão baseia-se, quase sempre em critérios estéticos: queremos o mais peludo, o mais gordinho e o que possui o olhar mais encantador. São muitas as vezes em que a nossa atenção é captada pelo carácter do animal, queremos ter em casa o mais divertido, o que nos pareceu mais “espevitado”. E assim é.
Mal podemos esperar para mostrar a toda a gente o belo animal que acabamos de adquirir. O nosso entusiasmo cresce com a aventura que é o primeiro banho, a primeira refeição, o primeiro passeio na rua. É o nosso animal. Aquele no qual aprendemos a confiar e com o qual partilhamos bons e maus momentos.
É bom não esquecer que são os nossos animais de estimação que muitas vezes marcam a primeira e a última ligação que temos com o mundo. A primeira ocorre quando somos crianças. Ainda não estamos integrados no “mundo real”, vivemos num mundo à parte, longe da compreensão dos adultos. Achamos que estamos sós e queremos alguém que partilhe sempre connosco as nossas brincadeiras com a mesma forma entusiasta. O cão é normalmente a nossa escolha.
A nossa última ligação com o mundo verifica-se na velhice. Voltamos a sentir a solidão. Os filhos cresceram, casaram, mudaram de casa. Abandonamos a vida activa que um dia tivemos. Voltamos a ter uma liberdade que não sabemos utilizar e a não ter nada nem ninguém que nos faça companhia. Um animal de estimação preenche-nos. ajuda a passar as horas de solidão, faz com que os dias passem mais rápido e com que nos sintamos de alguma forma úteis. Finalmente, temos de novo alguém de quem cuidar, alguém com quem partilhar a nossa vida. Falamos com ele enquanto os outros riem com esta relação tão forte que conseguimos estabelecer com um simples animal.

O porquê do abandono
Será estranho então que apesar de todas as vantagens de ter um animal de estimação, não hesitemos em abandoná-lo sempre que as férias chegam. Depressa se desfaz o sonho. O nosso animal outrora pequeno e fofinho deixa de o ser. Torna-se um “bicho” robusto, de grandes dimensões, precisa de atenção e principalmente de espaço. Gastamos mais dinheiro e o tempo que temos para lhe dedicar torna-se mais escasso. Nas férias torna-se mesmo “incómodo”. Não temos como o levar connosco e não conseguimos encontrar um amigo que cuide dele na nossa ausência. A verdade é que também não nos esforçamos muito. Temos uma solução fácil à vista: o abandono.
O animal que um dia exibimos como um troféu deixa de o ser. Abandonado num qualquer canil ou simplesmente na berma de uma estrada, tem ainda esperança que o seu dono se revele tão fiel como um dia ele o foi. Mas cedo se apercebe que terá que ser ele a encontrar o caminho de volta ao seu lar. Vagueia pelas ruas tentando a todo o custo sobreviver. A longa espera termina com a inevitável morte. É este o triste panorama do abandono dos animais que todos os anos invade as nossas ruas, com especial intensidade no Verão, quando chegam as férias. É este o retrato da nossa sociedade. Dotados de razão, agimos irracionalmente sem nos lembrarmos se-quer que foi aquele animal o nosso companheiro de longas horas de solidão.
Este é o resultado de uma massa uniforme de pessoas que vivem sem qualquer apreço pelos seus semelhantes. O trabalho ocupa todo o nosso tempo e, no fim do dia, só temos espaço para nós. Tornámo-nos egoístas e, mais grave, insensíveis.

Egoísmo humano
O abandono é também uma grande falta de cultura e de respeito para com seres que alguém, um dia, resolveu chamar de “inferiores”. Da nossa inocência e pureza, que nos acompanha quando somos crianças, já nada resta, atingida agora a idade adulta. Somos como que mecanizados, agimos automaticamente e desumanamente!
Sabemos que o animal que abandonamos numa estrada ou num qualquer canil cedo morrerá. Mas a verdade é que a poucos essa situação importa. Pergunto-me o que terá acontecido para que nos tornássemos tão meticulosamente egoístas.
Gostava de ter orgulho na raça a que pertenço. Melhor, gostava que os ditos seres inferiores nos admirassem, que convivêssemos de forma harmoniosa e, principalmente, respeitosa.
Não gosto de saber que, ao virar da esquina, corro sempre o risco de ver um cão abandonado a vasculhar nos sacos do lixo. Não gosto de andar de carro e ter que estar sempre atenta ao animal que, subitamente, pode atravessar a estrada. Posso ser culpada de uma morte da qual não tenho a culpa.
Mas, acima de tudo, o abandono entristece-me porque é feito por humanos. Seres supostamente inteligentes e responsáveis. Seres que tentam a todo o custo ter uma vida cómoda, mas que não hesitam prejudicar a vida de outros seres pelos quais aceitaram ser responsáveis. É preciso dizer que há opções. Há maneiras de não abandonar os animais, mas é também preciso que os responsáveis, que as pessoas que podem legalmente fazer algo, o façam. As leis de protecção dos animais são completamente ineficazes no nosso país. Os seus donos nunca são punidos pelo mal que lhes fazem. Parece até ridículo, mas a verdade é que se maltratar o seu animal de estimação, a multa mais elevada que poderá pagar é de dois escudos!!
Seria bom também que os complexos turísticos criassem condições para que fosse possível levarmos os nossos animais connosco quando fossemos de férias. Penso que seria uma medida razoável a praticar, em vez da habitual proibição a que normalmente estão sujeitos. Seria bom que o sistema RID (um identificador subcutâneo que possui dados sobre o dono do animal) estivesse a funcionar na perfeição, acompanhado por leis eficazes que punam os seus donos severamente.


Mudança de Atitude
Isto seria como tudo deveria funcionar. Na perfeição. Para que eu deixasse de andar na rua com medo daquilo que posso ver, de imagens tristes e cruéis que dia a dia temos que suportar.
Gostava de, finalmente, poder orgulhar-me de pertencer aos humanos, à raça à qual pertenço. Temos, acima de tudo, que ter respeito pelos nossos semelhantes, por nós próprios. Assim, penso que as coisas, um dia, vão mudar. Aprendamos a dividir o nosso espaço e a partilhar a nossa vida com os ditos “seres inferiores” que nos acompanham nas boas e nas más horas. Como os nossos amigos mais fiéis. Há que ser consciente e pensar antes de comprar um animal de estimação. Pensar que vamos perder tempo, dinheiro e energia com ele, mas também vamos ganhar um amigo para o resto da vida. Um amigo alegre, um companheiro que vamos respeitar e amar como se de nós próprios se tratasse.Vamos então acabar com o abandono e mostrar aos animais e a nós próprios que afinal, sempre nos podemos orgulhar da nossa raça
NOTA:Se acha que não tem tempo nem condições para dar a um animal tudo o que ele merece, não o tenha e saberá que está a poupá-lo de passar por um sofrimento inútil.




Este artigo é da responsabilidade de: Animal
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