Bom dia,
Eu não percebo nada de touradas nem de aficcion. Não ligo, nunca liguei e não simpatizo com o espectáculo.
O que fui contatando durante o meu trabalho no campo (in loco) foi que:
1- Os montados semi-naturais não cultivados onde existe touro estão em melhores condições do que aqueles onde existe gado para produção de carne e do que aqueles que estão sem nada.
2- Ninguem entra em zonas com touros de ânimo leve, minimizando os abates, pilhagens e outros vandalismos sobre fauna protegida.
Portanto, o que fui notando foi que a forma de pastoreio de touros era benéfica na manutenção do habitat fundamental para muitas das espécies selvagens em risco no nosso país. O factor "dissuasão" potencia essas zonas contra perturbação e vandalismo, tornando-as em alguns casos em verdadeiros "oásis" para determinadas espécies.
Quanta a isto, já tinha referido algo do género aqui:
http://pt.vivapets.com/forum/viewtopic. ... &start=150
bita322 Escreveu: Quanto aos ecossistemas, vou aqui fazer uma pergunta que para os entendidos ate pode ser uma coisa muito parva, mas eu que admito nao entender nada, e é uma coisa que me tem feito pensar cá vai:
Antes do touro , o ecossistema que dele depende não existia, podemos dizer que esse ecossistemá foi criado a partir da existencia do touro?
Esse ecossistema (habitat) sempre existiu. Não à conta de touros, mas de outros ungulados selvagens que o homem veio progressivamente a extinguir e a substituir por animais domésticos.
...com o desaparecimento do touro bravo de certeza que esse ecossistema desapareceria ou ha alguma possibilidade de ele se manter?
Haver há. Não me parece é haver vontade política para proibir encabeçamentos excessivos de outras raças de gado. Medidas compensatórias são unicamente dinheiro deitado fora (enfim... ao bolso dos produtores) e que tanta falta faz para investir na conservação de espécies em perigo.
Explico: qual é a possibilidade de em vez de touros esse ecossistema se manter com outro tipo de gado que também vive em liberdade?
Tratam-se de tipos de pastoreio diferentes e consequentemente encabeçamentos diferentes. O montado gerido de forma "natural" não suporta muitos efectivos por hectar. Encabeçamentos excessivos estão a dar cabo de zonas de montado em portugal.
É que quando se fala em gado bovino ha mais especies que vivem anos em liberdade, sei la tipo gado barrosão que também vive a pastar pelos campos e não confinado a vacarias ou coisas do genero.
Estamos a falar de realidades e habitats diferentes. No norte temos ecossistemas (ou o que resta deles) de influência atlantica ou continental e não mediterrânica como no sul.
O ecossitema é mantido pelo animal touro, ou pelo facto de ser uma especie bovina que vive em semi liberdade, afinal o que faz o touro tão unico e insubstituivel no ecossistema, mas não estamos "apenas" a falar em gado?
Sim estamos a falar em gado,mas em gado algo diferente e com criação algo diferente como referi no início.
Qualquer outro ungulado pode fazer o papel de "gestor" de habitat (desde que com encabeçamento compatível com a área em questão). Agora como "dissuasor", não estou a ver o pessoal a ter medo de entrar numa zona com veados ou com vacas alentejanas...
Agora outro pensamento:
A carne de touro é comestivel e por aquilo que andei a ver na net em algumas pesquisas parece que é inclusivé bastante apreciada, será que manter o touro com um objectivo apenas de consumo é assim tão inviavel?
Nunca comi... e pelo que me têm dito, não é nada de especial...
De qualquer modo criar touros apenas com objectivos de consumo é estourar com o resto dos bons montados que ainda restam... a qualidade e quantidade são opostos...
É que a crise neste tipo de gado parece-me geral, afinal nao comemos uma posta mirandesa diariamente , mas aquilo que vamos comendo aínda vai fazendo com que certas raças bovinas se mantenham.
Resumindo se a carne do touro fosse mais trabalhada e divulgada na nossa gastronomia estaria o touro realmente em risco de extinção?
O problema da extinção do touro até seria um mal menor. O problema é que não vejo substitudo (pelo menos a curto prazo...) na manutenção de habitat devido á característica peculiar de criação desta raça.
Se tiver dito muita asneira junta, em vez de baterem agradeço que me expliquem.
Cumps
PS: Creio que me parece haver por vezes confusão nesta estória do touro versus manutenção de habitat.
Eu quando me refiro a este tema, tenho em conta os touros criados em montado semi-natural (sobretudo no sul interior do país), não aos touros criados em leziria como por vezes acontece nalgumas zonas do ribatejo. Estes ultimos não aquecem nem arrefecem...