GNR trava luta de cães
Belém, um pit bull preto, com apenas sete meses, foi salvo, ao início da noite de anteontem, de uma morte prematura. Participava numa luta ilegal de cães, assistida por cerca de 50 pessoas, quando três militares da GNR alertados para o sucedido pelo telefone, acorreram ao local, perto do ‘Campo da Bola’, na Trafaria, concelho de Almada.
Belém foi apreendido, o seu dono e outras quatro pessoas identificadas. A luta acabou, os espectadores fugiram, mas nas mãos das autoridades está uma cassete com o que aconteceu. No filme, a assistência, com gritos de “força, Belém, vai, vai”, incita os cães, que ganem de dor. Sete no total, mas só quatro estariam na ‘arena’. Pretos, castanhos e brancos, são todos de raça pit bull.
Um dos animais foi visto ainda dentro de um carro, pois esperaria a sua vez para ser exibido.
Também na fita é identificado um polícia florestal, com a carrinha de serviço estacionada, a assistir ao ‘espectáculo’. E dezenas de pessoas podem ser reconhecidas: algumas, como os proprietários dos cães sacrificados, serão, mais tarde, chamadas às autoridades.
O dono de Belém já foi identificado. Tem cerca de 20 anos e mora no Bairro da Boavista, em Lisboa.
Aliás, são deste bairro todos os indivíduos identificados no local pelos militares da GNR da Trafaria: o que realizou o filme e dois que assistiam ao ‘espectáculo’ têm cerca de 20 anos; já o condutor de uma carrinha de sete lugares, apreendida pelas autoridades, pois pensa-se que terá servido de transporte aos cães, conta mais de 30.
Todos serão participantes assíduos deste tipo de actividade ilegal, onde as apostas a dinheiro são uma constante. Anteontem não foi excepção.
Apreendida foi ainda a câmara que serviu para filmar toda a luta realizada no meio do mato, atrás do ‘Campo da Bola’ da Trafaria.
Perto deste terreno está o bairro ‘Segundo Torrão’, onde, de acordo com as autoridades, há muitos moradores que frequentam espectáculos deste tipo, inclusive, muitos criam cães para as lutas sangrentas. Mas difícil é apanhá-los, como aconteceu na noite de terça-feira.
Belém está magoado. Coxeia da pata esquerda, inchada, e tem o peito perfurado. No corpo, muitas cicatrizes do passado.
Apreendido, o cachorro pernoitou no posto da GNR da Trafaria. Ganiu muito, comeu e bebeu água.
“Está triste”, dizem os guardas, reservando-lhe um melhor futuro; Belém vai ser entregue à Liga Portuguesa dos Direitos do Animal, que manifestou, ontem, desejo em acolhê-lo.
OS ANIMAIS SÓ QUEREM É PORRADA
Diz que tem 15 anos e recusa adiantar o nome. ‘João’, chamemos-lhe assim, participa nas lutas de cães, “mais frequentes” e realizadas preferencialmente de manhã “porque o cão está mais fresco”.
Hoje são mais frequentes, pois há mais cães. “Um pit bull custa agora uns 250 euros quando há dois anos custava uns mil”, justifica ao CM, acrescentando que quem quer participar nas lutas compra um macho e uma fêmea pit bull e põe-nos a criar.
Depois, quando nascem os cachorros, inicia-se o treino. “Atiçam--se uns contra os outros. Metem-se à porrada dentro da mesma ninhada e o que se virar primeiro é o escolhido.” Neste investem tudo.
Treinam-no. “Como? Pondo-o a correr na praia, durante três horas, atrás de uma bicicleta, sem parar. Nas calmas. Eu só faço isso”, diz, olhando a cadela, ainda cachorra, ofegante. Uma pit bull preta sem cicatrizes visíveis no corpo. Ao lado está a bicicleta.
“Mas há quem os desafie com trapos ou os lance a outros cães ou, ainda, os faça correr atrás de galinhas vivas...” Desse modo, “com cinco meses já estão prontos”, aptos a participar num ‘espectáculo’ que pode render fortunas.
“Aposta-se o que se quiser e tiver. Pode ir de 50 euros a 1500”, especifica. “Aposta-se num dos animais. Por exemplo, eu aposto consigo 1500 euros em como o meu cão ganha a luta e você aposta 200 em como não. Cada um aposta com quem quiser e todos podem fazê-lo, sejam donos dos cães ou só assistentes. Mas são os donos que costumam fazer as maiores apostas.”
As lutas duram segundo a resistência dos animais. “Podem demorar cinco minutos ou duas horas”, refere, adiantando que os animais para ficarem mais ferozes passam fome.
“Se o cão que vai enfrentar for muito forte fica dois dias sem comer. Se for de robustez média fica um dia. Quanto mais fome, mais raiva tem. Já água podem beber, mas não antes das lutas”, frisa.
João garante que os cães não morrem no recinto da luta. “Se vimos que o animal está muito mal tiramo-lo”, refere, salientando que quem os lança nas lutas gosta deles como de filhos. “Põem-nos é a testar. É que eles gostam disto. Os cães não sentem. Mesmo quando estão todos ‘abertos’ só querem é porrada.”
As lutas realizam-se periodicamente mas nunca no bairro onde moram os participantes: “Por exemplo, aqui vêm os da Boavista [Lisboa] e nós [Segundo Torrão, Trafaria] vamos lá.”
Palavra passa palavra, o ‘espectáculo’ ganha visitantes que se deslocam propositadamente para assistir à luta. Os cães, esses, são dóceis com as pessoas. “Não gostam é de outros cães. Mal os vêem podem atiçar-se.”
COIMA ATÉ 3.740 EUROS MAS POUCO CONTROLO
A legislação sobre os denominados ‘animais potencialmente perigosos’ é génerica e muito pouco fiscalizada, mas prevê a aplicação de uma coima até 3.740 euros para quem proceda “ao seu treino visando a participação em combates ou o aumento ou reforço da sua agressividade para pessoas, outros animais e bens".
O Decreto-Lei 276/2001, de 17 de Outubro, exige uma licença especial aos donos de animais como o pit bull, mas a realidade é que a esmagadora maioria das autarquias pede o mesmo tipo de requisitos do que aos donos de um caniche.
Isto quando a legislação impõe que o proprietário de um daqueles cães seja maior de idade, não tenha sido condenado por crime contra a vida e a integridade física e possua seguro de responsabilidade civil.
Sofia Rêgo/Carlos Varela
in Correio da Manha, 24 de Julho de 2003
»»»REPUGNANTE!!!! REVOLTANTE!!!!!
Luta de cães...divertimento????? Repugnante e revoltante!!!
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É deveras triste falarmos tanto de direitos e cumprirmos tão pouco os nossos deveres... É claro que todas estas situações revelam um país de «brandos costumes», em que a lei é (infelizmente) é para «se ir aplicando» e os meios de a fazer cumprir perdem-se no tempo e no espaço... É tudo uma questão de princípios e valores base de respeito e compreensão. Afinal, as leis existem para quem não os tem! 

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Deviam era prender essa gente toda...