quinta nov 26, 2009 1:02 pm
Não sei se entendi bem. Vejamos:
Eu, fulana de tal, entidade privada, não contribuindo para, nem fazendo parte de nenhuma associação, tenho vários cães e gatos que são, digamos assim, os meus animais de estimação.
Embora não goste da palavra, sou a “dona” deles. Antigos ou recentes, portas adentro, são todos tratados do mesmo modo.
Uns, estão comigo desde sempre, outros foram adoptados (adoptados, não acolhidos) mais recentemente. Com excepção de dois, que me foram dados ainda em bebés, todos eles são animais abandonados que me vieram parar às mãos, uns tantos através das tais associações de que não faço parte nem contribuo para. Todos esterilizados, castrados, etc e tal.
Eu, fulana de tal, entidade privada, com o produto do meu trabalho profissional (o meu ordenado, portanto) e com a ajuda do meu marido, batalho (batalhamos) horas e horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias (ou 366, se for bissexto) por ano, para sustentar os nossos animais, dar-lhes conforto, carinho, alimentação adequada, passeios, cuidados veterinários. Não consideramos sacrifício, porque se trata de uma opção de vida, mas, decerto, muitas coisas importantes para outras pessoas como férias, viagens, e outros bens móveis e imóveis, e dos quais poderíamos usufruir se não tivéssemos essa responsabilidade, nos passam ao lado. Ao lado? A luas de distância.
Os nossos animais partilham o nosso espaço, os bons e os maus momentos, os altos e baixos da nossa vida. Neste momento, têm todos para cima de 6 anos, alguns estão perto dos 13/14 anos. Estão, portanto, para lá da meia idade, uns, e velhos, os outros. Começam a surgir as doenças, os achaques. Alguns até já os têm.
Mas não nos preocupemos com detalhes, pormenores de somenos importância. Os nossos companheiros, que tanto nos deram, que pousaram as cabeças peludas nos nossos colos, que nos olharam com olhos leais, não vão ser tratados das suas maleitas, e vamos deixá-los morrer sem assistência médica, porque é nosso dever doar o dinheiro que gastaríamos com esses velhadas, já sem préstimo, a uma associação que, com esses maravedis, vai salvar 10, 20, 30 cães jovens e saudáveis que, provavelmente, nunca serão adoptados ou, caso o sejam, até poderão ser devolvidos, ou abandonados na esquina mais próxima, no minuto seguinte. E nunca se sabe: algum deles até poderá vir parar, um dia mais tarde, cego e podre de carraças à casa de “eu, fulana de tal, entidade privada, que não contribuo para, nem faço parte de nenhuma associação”. Nem nunca farei, porque a minha caridade começa e acaba em casa.
<p>Au début, Dieu créa l'homme. Mais en le voyant si faible, il lui fit don du chien. (Toussenel)</p>