“Querido amigo Obama,
Eu não conhecia nada disto de computadores e de internets (pois se eu já nem me lembro bem do que era estar numa casinha com gente), mas vou-te dizer que estou maravilhado.

Permite-me comunicar e desabafar, permite que os e as santanetes torçam por mim e vão tornando o meu tópico mais visível, permite que vamos tendo notícias uns dos outros e até nos permite desabafar e encontrar ou reencontrar amigos. E oxalá permita, sobretudo, aquilo que mais desejo: encontrar o meu dono definitivo, que me vai dar muitos miminhos, que nunca me abandonará, mesmo nos momentos difíceis, e a quem eu vou dar em troca todo o meu carinho e dedicação.
Pois já tinha ouvido falar em ti, sim senhor, e fico muito feliz por seres meu amigo. Sabes, aqui em casa há mais como nós, mas são muitos e eu não os conheço pessoalmente, por isso ainda não pude fazer amizades por aqui.
E temos muita coisa em comum: a nossa vida na rua e a nossa grande amiga Leonilde. Eu também gostei muito, muito dela. Tanto que deixei que ela me pegasse ao colo e me metesse naquela caixa a que chamam transportadora. Confiei nela instintivamente (e sabes que o nosso instinto não falha) e deixei-me ir com ela, acreditando que seria para o meu bem. É bem verdade, se não fosse a Leonilde, quem sabe onde estaríamos a esta hora… Também lhe hei-de escrever, para lhe agradecer o que fez por mim, mas a excitação de ter um novo amigo como eu fez-me querer responder-te já.
Sabes, eu tenho os meus momentos… Às vezes acredito que em breve vou encontrar uns donos e uma casinha como tu tens, mas como está a demorar um bocadinho, às vezes não consigo evitar ficar um bocadinho triste. Mas a tua carta deu-me conforto e coragem para continuar a acreditar.
Falas no Natal… eu não sei o que isso é, mas se me dizes que envolve uma árvore (que a Tássebem me está a dizer que fica enfeitada com luzinhas e fitas brilhantes), quentinho, paparocas boas e presentinhos, eu fico cheio de vontade e curiosidade de saber como será. Eu não vou precisar de muitos brinquedos, pelo menos ao princípio, porque não sei ainda brincar, mas se esse tal Natal me trouxer um dono já será o maior presente que eu poderei ter na minha vida.
A Tássebem até que não é má pessoa, só que… eu gostava que ela estivesse mais tempo ao pé de mim, mas ela diz que não pode. Vem tratar de mim e fazer-me festinhas e companhia assim aos bocadinhos, ao longo do dia, mas eu queria mais…
Pois é, dizem-me que sou bonito, que tenho uns olhos lindos e um pêlo muito macio e lustroso, e uma manchinha no focinho que me dá muita graça, mas por enquanto ainda não me serviu de nada. Devo dizer-te que também és muito bem "agatado"...
Bem, vou terminar, a Tássebem já está a dizer que precisa de ir fazer outra coisa… Olha, gostei muito que me tivesses escrito. Fez-me bem sentir que um primo está por aí a torcer por mim e é meu amigo, em suma, estou mais confiante.
Sempre que puderes, dá notícias. Gostava que pudéssemos manter esta correspondência e aprofundar a nossa amizade.
Turrinhas e lambidelas deste teu amigo (dá por mim também umas turrinhas aos teus donos),
Santana”
«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke