A "transferência" de casa das meninas foi mais simples do que o que tinha antecipado.
De manhã, antes de começarem as mudanças, pus as coisas delas na cozinha, e fechei-as lá. A Eva ficou magoada, tristíssima: voltou a refugiar-se no cantinho onde se escondia quando veio para junto de nós, de orelhas baixas, a tremer muito. O dono foi lá várias vezes fazer festas (quando ela está nesse estado de medo deixa tocar e até fica feliz com as festas), mas ela continuou na mesma. A dona teve de ficar logo de manhã cedo na casa nova, para orientar as coisas e receber os móveis, por isso não as pôde acompanhar.
Ao final da tarde, depois da mudança feita, fomos buscá-las e a mais algumas tralhas que não tinham ido na mudança. Carregámos o carro, e depois foi o filme de meter a Eva na transportadora. Não quisemos pegar-lhe, porque ela bufa e morde e ficaria ainda mais nervosa. Como ela estava num espaço pequeno, encurralámo-la e com jeitinho e palavras meigas, e empurrando um pouco, conseguimos que ela entrasse na transportadora sozinha, sem bufar nem se stressar.
Chegados à nova casa, e como não as queria deixar no carro, fui pô-las a casa antes de descarregar o carro. Pus as coisas delas na marquise, e fechei-as lá, porque ainda tinha esferovite na cozinha e não queria que elas lá andassem a comer. Não imaginam o ar de pânico da Lira quando fechei a porta da marquise, partiu-me o coração. A Eva fica totalmente prostrada, conformada, mas a Lira ficou em pânico mesmo. Pensaram ambas que as ia deixar ali fechadas naquele espaço minúsculo
Descarreguei o carro, aspirei a cozinha, limpei o chão, e lá lhes abri a porta. Não imaginam o alívio, por demais evidente, nos olhares de ambas. Andaram a explorar, a Eva de início ainda prostrada e sem comer, mas fartei-me de lhe dar mimos e até beijinhos (ela fechava os olhinhos e ronronava baixinho) para as consolar. Não me cansava de lhes dizer que a dona nunca nunca as vai deixar, que vamos estar sempre juntinhos os quatro.. Pode parecer parvoíce, mas a verdade é que me partiu o coração vê-las assim. Gatos que não tenham passado pelo drama do abandono e da negligência, por muito que estranhem uma mudança, não reagem assim!
A "boa" notícia, é que com mais esta etapa, a Eva passou a deixar fazer festas e dar miminhos sem demonstrar qualquer receio, mas apenas quando está deitada. Quando anda de um lado para o outro, já nos deixa chegar mais perto, mas ainda foge se nos curvarmos para lhe fazer uma festa. Com o tempo lá chegaremos.. Ela comeu logo na primeira noite, o que me tranquilizou (a Lira foi direita ao prato quando lá chegou

).
Já tenho fotos, venho mais logo pô-las aqui.
Para já, e como no tempo em que estamos em casa andamos em arrumações, as meninas estão confinadas à cozinha e marquise (ainda assim têm mais espaço do que tinham antes quando ficavam sozinhas durante o dia). Logo que esteja tudo no sítio, terão ordem de "soltura" quando estivermos em casa.
Por favor, POR FAVOR, não abandonem os vossos animais. Eu sei que há situações dramáticas, mas há sempre outras soluções. Ver o olhar de pânico absoluto da Lira, e de resignação deprimida da Eva, e ver-lhes o alívio estampado nos olhos quando constataram que afinal os donos não iam a lado nenhum, marcou-me profundamente. Dou graças por ter conseguido fazer isto com calma, e sem causar traumas a nenhuma das duas.