No seu caso, tenho a louvar a sua dedicação, a vontade de aprender e de compreender o Óscar. Se já há tanto dono irresponsável a negligenciar e abandonar animais que são meigos e bem comportados, que fará com um animal que aparentemente não se apega a nós e se mostra agressivo. A solução mais fácil seria tentar "despachar" o animal, e felizmente não foi por aí que optou. Tomara que todos os gatos tivessem a sorte que o Óscar teve e tem. Sabe, eu acredito que as coisas acontecem todas por uma razão, e penso que o Óscar vos escolheu acertadamente, pois demonstram todos (inclusive as duas crianças) ter a maturidade e a vontade de adaptar o vosso comportamento e de procurar solução para o problema, para que todos possam ser felizes em conjunto, e o Óscar possa ter um Lar.
Obviamente que agora é prematuro adoptar outro gato, tal como já referiu. E é sempre preciso ter em mente que os animais, tal como as pessoas, são todos diferentes e que nem sempre dois animais se dão pacíficamente. Contudo, regra geral, e passado o stress inicial, geralmente os felinos dão-se bem entre si. Sobretudo pelo facto de o Óscar estar habituado a outros gatos, isso é um bom prenúncio de que poderá correr bem, mais tarde, a introdução de outro gato ou gata aí em casa.
É indiscutível o bem que faz a qualquer animal ter um companheiro. A minha Lira melhorou a olhos vistos desde que a Eva se juntou a nós. Perde menos pêlo, nas brincadeiras connosco é menos agressiva e cansativa, visto que pode dar vazão à energia e ao tal "instinto de caça" nas suas brincadeiras com a Eva, e é visivelmente mais feliz e menos carente, apesar de continuar a apreciar a nossa companhia e os mimos tanto como antes. Até faz menos "asneiras", como atirar bibelots ao chão, arranhar ou morder objectos nossos, etc, porque tem com quem se entreter!
Quanto à Eva, é espantoso o muito que aprendeu com a Lira. Por mais dedicação e empenho que nós tivessemos, somos "apenas humanos". Quando a Lira, que também era gata de rua mas meiga e sociável, veio para nossa casa, vimo-nos gregos para lhe ensinar como se usava o WC fechado. A Eva, igualmente gata de rua e muitíssimo mais selvagem que a Lira, aprendeu à primeira, porque a Lira lhe mostrou como funcionava. A Eva também não "sabia" brincar, e aprendeu com a Lira, vendo como ela brincava com bolinhas, fios etc que nós lhe dávamos. A Eva vai imitando os comportamentos da Lira, vai seguindo o exemplo dela até em relação aqueles comportamentos que a Lira já sabe que são reprovados pelos donos (como roer fios eléctricos

O facto é que a Lira tem "ensinado" a Eva, e tem sido fundamental na sua integração, brincando com ela, dando-lhe mimo, e incentivando-a a vir para junto de nós. A Eva vê a Lira ao colo a receber mimo, e apesar do receio enormíssimo que tem, vê-se na atitude dela que também quer aqueles carinhos. Quando a Lira se aproxima a pedir festas, a Eva segue-a. Não deixa ainda fazer festas, mas vem para junto de nós, cheira as mãos, às vezes brinca com patadinhas e mordidelas suaves (ainda é mais bruta que a Lira a brincar, mas é nitidamente brincadeira), e até já vem para cima do sofá ou fica a olhar para nós de cima da mesinha.
Não quer dizer que isto aconteça automaticamente em todos os casos, mas acredito que na esmagadora maioria dos casos, um novo gato ajuda, mais não seja será uma companhia de brincadeiras e carinhos para o Óscar, mesmo que não influa no comportamento dele para convosco. Mas antes disso, é essencial que ultrapassem a questão da agressividade dele, que lhe dêem tempo para se habituar, e eventualmente que o consigam conquistar, ou pelo menos, que cheguem a um ponto em que nitidamente conseguem cohabitar em paz e com tranquilidade para vocês e para o Óscar.
Com a Lira, apesar de ela ser uma gata tão meiga e dada, e apesar de sempre termos sabido que teríamos de lhe arranjar uma companhia felina, esperámos oito meses antes de adoptar a Eva. A Lira de início não sabia que este ia ser o seu Lar. Não sabia que não ia ser abandonada novamente. Teve que ganhar confiança em nós, que conquistar o seu espaço, criar as suas rotinas, passar pela experiência de os donos irem de férias e verificar que regressamos, que sempre regressaremos para ela.. Isso é tudo muito importante. A Lira hoje sabe que nós somos os seus donos, que aquela é a sua casa, e que nunca nada irá mudar isso.
O Óscar também terá de aprender que vocês são a sua família, e nunca lhe vão fazer mal ou abandoná-lo, e que terá de se moldar um pouco a vocês, da mesma forma que vocês não irão desrespeitá-lo ou forçá-lo a coisas que não queira.. E aí sim, tentar introduzir outro gato, que pode (ou não) operar maravilhas. E que terá de ser um gato sociável com os seus pares.. E os donos terão que estar plenamente mentalizados que as apresentações de dois felinos podem ser complicadas e "espectaculares" (em termos de rosnados, bufadelas e patadas), e demorar o seu tempo. E que são os gatos que criam a sua hierarquia, e os donos não poderão intervir a esse nível.
Sem que isso signifique que exista uma "culpa" (apenas incompreensão de parte a parte, natural), começaram com o pé esquerdo. Isso pode ser corrigido, e pelo que conta dos novos desenvolvimentos no comportamento do Óscar, tudo indica que assim seja. Mas é preciso que estejam cientes de que demorará o seu tempo. De facto, quatro ou cinco meses não são muito. Quando as coisas correm bem de início, são mais rápidas. Assim, demorará mais tempo, até que todos tenham confiança uns nos outros, e tanto o Óscar como os seus filhos saibam que existe respeito mútuo e que não se vão agredir mutuamente. Mas lá chegarão, com toda a certeza

Agora é a minha vez de pedir desculpa pelo testamento
