Vítimas do tempo: Pesquisas aperfeiçoam tratamentos de câncer em cães, cada vez mais longevos
Mais bem tratados que nunca, com rações especiais, vacinas, fisioterapia e até acompanhamento psicológico, os cães estão vivendo mais. Pode ser bom para os seus donos, mas a longevidade trás um problema: amplia o risco de câncer, hoje visto como uma das principais causas de morte entre os animais domésticos, que mata mais de metade dos cachorros e um terço dos gatos criados nos lares norte-americanos. É um problema também no Brasil, onde vivem cerca de 28 milhões de cães (quase metade da população canina dos Estados Unidos) e 12 milhões de gatos, considerados idosos - e mais sujeitos ao câncer - a partir dos 7 ou 8 anos de idade.
Atentos a essa situação, pesquisadores da Faculdade de Ciências agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal, criam alternativas para, de acordo com a tendência mundial, tratar e, se possível, curar os animais domésticos acomentidos pela doença, para os quais há alguns anos só havia uma saída: eram sacrificados. Em vez de amputação, procedimento normal em caso de osteossarcoma, tumor responsável por cerca de 85% das ocorrências de câncer ósseo canino, a equipe da Unesp demonstra a viabilidade, em muitos casos, de implante de ossos, cuja eficiência tende a aumentar com o uso de novos materiais. Em um estudo publicado em Março na Acta Cirurgica brasileira, um grupo de 6 veterinários da Unesp atesta do uso no Brasil da resina poliuterana de mamona como cimento para o implante de fragmentos ósseos retirados de doadores saudáveis e conservados em glicerina à temperatura ambiente. Esse material substitui outra resina, o polimetil metacrilato, que libera gases tóxicos, desprende calor (chega a 70º) e pode provocar arritmias cardíacas.
Cimento de ossos- Os resultados se apoiam em um experimento com 6 cães (quatro machos e duas femeas) sem raça definida, em cujas tíbias se fez o implante. Cinco dos seis animais tratados apoiaram a pata no primenro dia após o implante e corriam normalmente em média após um mês e meio. Nesse etudo, a resina de mamona - uma massa esbranquçada usada para rechear o enxerto, no lugar da medula óssea retirada - deu maior resis tência na fixação da placa metálica que fez o implante aderir ao osso original. E não desencadeou processos infecciosos, um resultado atribuído ao bom estado de saúde dos animais. Em outros estudops em que se utilizaram os mesmos procvedimentos cirúrgicos, excepto o cimento ósseo adoptado experimetalmente há cerca de 6 anos nos Estados unidos, um terço dos animais tratados, em média, apresentou infeccção. No experimento feito na Unesp também não se notou a absorção da resina nem sua substituição por tecido ósseo novo. Po actuar como bactericida, dispensou o uso de antibióticos, inprescindíveis com a resina anterior, o polimetil matacrilato.
Tais evidências representam indicadores positivos para que a resina de mamona seja utilizada como cimento ósseo em uma escala mais ampla, no futuro, pelas clínicas veterinárias. Mas, lembra Carlos Roberto Daleck, da equipe da Unesp, o implante é uma alternativa À amputação apenas se restar pelo menos metade do osso - o osteossarcoma, mais comum nas raças de maisr porte, como o Sãop bernardo ou o Dobermann, é tumor bastante agressivo, que muitas vezes leva à desintegração dos ossos. A preservação dos ossos atingidos leva em conta também o bem-estar dos propurietários dos animais. "Há casos em que seria mais simples amputar o membro afectado e o animal saíria tranquilamente da clínica andando sobre 3 patas", diz Daleck, "mas a ideia da mutilação costuma tirar o sosno ao dono do cão".
Em outro estudo recente, a ser publicado na Acta Cirurgica, feito com dois grupos de seis cães, a equipe da Unesp de Jaboticabal mostrou que um medicamento chamado Furosemida pode atenuar os efeitos indesejados, sobretudo nas funções renais, causados pela cisplatina, quimioterápico adoptado para o tratamento de cancer nos ossos, na bexiga ou nos testículos de cães, por exemplo. Outro trabalho, publicado no ano passado Arquivo brasileiro de medicina Veterinária e Zootecnia
, reitera a importância do tratamento precoce ao detalhar as possibilidades de diferenciar, por meio dom exame no microscópio electrónico de transmissão, as alterações que õcocrrem em um tipo de célula de pele, os mastócitos: à medida que o tumor evolui, o núcleo dessas células ganha volume, surgem grânulos no citoplasma e as rugosidades da membrana se tornam mais evidentes. Com base nestes parâmetros a equipe da Unesp curou 605 dos 108 cães atendidos nos últimos 4 anos com mastocitoma, o tipo de câncer de pele mais comum, que afecta especialmente buldogues e boxers, a partir dos 8,5 anos de idade.
É muito difícil saber com precisão quais as raças mais afectadas e quis os tipos de cancer mais comuns entre os cães no Brasil. Um levantamento publicado na Archives of Veterinary Science, com base em 333 cães atendidos no hospital veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR) entre 1998 e 2002, indicou que as fêmeas são mais susceptíveis que os machos, numa proporção de dois para um. Predomina o tumor da mama, encontrado em quase metade das fêmeas (45,6%), com um agravante, na maioria dos casos (68%), tratava-se de lesões malignas. De acordo com esse estudo, coordenado por Suely Rodaski, essa predominância pode estar associdada ao estudo de hormônios como método contaceptivo e à pouica atenção dada à castração precoce - a retirada dos ovários e do útero antes do primeiro cio reduz a quase zero o risco de câncer na mama.
A equipe do Paraná verificou também que, entre os cães com raça definida, o câncer é mais fgrequente no Pastor Alemão (12, 61% dos casos atendidos), poodle (11,41%) e boxer (10,81%), com amior incidência nos animais de 6 a 12 anos. Quando submetidos a cirurgia e tratamento quimioterápico, ganharam uma sobrevida de, em média, 19 meses.
O Projecto: Quimioterapia com Cisplatina em cães
Modalidade - linha regular de auxílio à pesquisa
coordenador - Carlos Roberto Daleck - FCAV/Unesp
Investimento - 42.103,55 reais
fonte: Pesquisa FAPESP - Ciência e tecnologia no Brasil
Nota - o artigo é brasileiro, mas não tive paciência para o traduzir. Perdoem-me por qualquer erro ortográfico.