Perspectivas: humana vs canina
Moderador: mcerqueira
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O seguinte tópico e algumas questões que foram nele levantadas fizeram-me refletir:
http://arcadenoe.clix.pt/forum/viewtopic.php?t=9372
Ajudem-me a esclarecer algo... e vamos falar só em cães para simplificar.
Um cão interpreta a sua vida numa família humana como se esta fosse a sua matilha. Os seus instintos continuam dentro de si e se o dono não lhe der uma educação correcta ele vai até tentar transformar-se no líder da matilha, correcto?
Então quando falamos em que os cães gostam do dono não deveríamos antes dizer que eles dão a vida se preciso for pela sua matilha mas que o seu conceito de gostar é um pouco diferente do nosso? O que eles têm é um sentimento de lealdade bastante grande e sendo bem tratados mantêm essa lealdade dando a sua vida se preciso for. No entanto um cão perfeitamente socializado e “com boas maneiras” será também um óptimo cão noutra casa desde que lhe dêem o mesmo tratamento; dizem até alguns entendidos que passados alguns meses o cão afeiçoa-se à nova família da mesma forma que se tinha afeiçoado à antiga...
Quando o cão perdido volta por si só à sua casa após percorrer alguns quilómetros, ele fá-lo da mesma forma que o faria na natureza ao procurar a sua matilha pois com ela ele sente-se seguro; não tem amor semelhante ao nosso, da mesma forma que mesmo sendo maltratado não tem a tendência para fugir de casa (fugir da sua matilha, por assim dizer).
Talvez nos custe a nós admitir que aqueles animais de quem nós gostamos e que nos são tão especiais possam tão facilmente esquecer-nos... mas se eles encontrarem outra “matilha” onde se sintam bem isso acabará por acontecer; talvez não esqueçam totalmente os bons tempos que passaram mas a sua lealdade volta-se para a nova família.
Portanto, o cão tem um lugar muito importante nas nossas casas (daqueles que os têm) mas não substitui um ser humano (embora seja por vezes melhor que alguns, mas isso são casos pontuais) nem um ser humano pode substituir um cão. Cada um tem um lugar bem definido, que se complementa, e se há quem diga que há cães melhores que muitos seres humanos também conheço cães muito mauzinhos; por culpa dos donos dirão alguns de vós, da mesma forma que os seres humanos mauzinhos o são por culpa dos pais, direi eu, os mesmos que porventura educaram esses ou outros cães.
Voltando ao tema do tópico acima referido, e era aqui que eu queria chegar, desde que o cão em causa seja bem tratado na sua nova casa não vejo onde está o drama. Drama isso sim seria abandoná-lo ou entregá-lo para abate como já aqui foi referido. Mas por vezes parece-me que é maior a dependência que algumas pessoas têm dos seus animais que vice-versa, e é essa dependência e consequente egoísmo que as leva a ser tão fundamentalistas.
É óbvio que quem adquire ou adopta um animal tem um compromisso indubitável para com ele: tratá-lo da melhor forma possível, se possível até que ele morra. Mas adquire também um compromisso para com os seus semelhantes (humanos): lidar com esse cão de forma a evitar potenciais acidentes que ele possa causar, e é isto que as pessoas muitas vezes esquecem. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, no meio é que está a virtude, e daí no referido tópico ter criticado os fundamentalismos: é tão errado odiar animais como preterir os nossos iguais em favor deles, ou criticá-los sem dó nem piedade...
Se tiveram paciência de ler até ao fim desde já agradeço-vos; para quem já esqueceu, a questão inicial era: não deverá o amor canino ser antes chamado de lealdade para com o chefe da matilha (ou a prória matilha, dependendo das raças) ou em alguns casos apenas de respeito uma vez que este lhe foi incutido desde que ele era cachorro?
http://arcadenoe.clix.pt/forum/viewtopic.php?t=9372
Ajudem-me a esclarecer algo... e vamos falar só em cães para simplificar.
Um cão interpreta a sua vida numa família humana como se esta fosse a sua matilha. Os seus instintos continuam dentro de si e se o dono não lhe der uma educação correcta ele vai até tentar transformar-se no líder da matilha, correcto?
Então quando falamos em que os cães gostam do dono não deveríamos antes dizer que eles dão a vida se preciso for pela sua matilha mas que o seu conceito de gostar é um pouco diferente do nosso? O que eles têm é um sentimento de lealdade bastante grande e sendo bem tratados mantêm essa lealdade dando a sua vida se preciso for. No entanto um cão perfeitamente socializado e “com boas maneiras” será também um óptimo cão noutra casa desde que lhe dêem o mesmo tratamento; dizem até alguns entendidos que passados alguns meses o cão afeiçoa-se à nova família da mesma forma que se tinha afeiçoado à antiga...
Quando o cão perdido volta por si só à sua casa após percorrer alguns quilómetros, ele fá-lo da mesma forma que o faria na natureza ao procurar a sua matilha pois com ela ele sente-se seguro; não tem amor semelhante ao nosso, da mesma forma que mesmo sendo maltratado não tem a tendência para fugir de casa (fugir da sua matilha, por assim dizer).
Talvez nos custe a nós admitir que aqueles animais de quem nós gostamos e que nos são tão especiais possam tão facilmente esquecer-nos... mas se eles encontrarem outra “matilha” onde se sintam bem isso acabará por acontecer; talvez não esqueçam totalmente os bons tempos que passaram mas a sua lealdade volta-se para a nova família.
Portanto, o cão tem um lugar muito importante nas nossas casas (daqueles que os têm) mas não substitui um ser humano (embora seja por vezes melhor que alguns, mas isso são casos pontuais) nem um ser humano pode substituir um cão. Cada um tem um lugar bem definido, que se complementa, e se há quem diga que há cães melhores que muitos seres humanos também conheço cães muito mauzinhos; por culpa dos donos dirão alguns de vós, da mesma forma que os seres humanos mauzinhos o são por culpa dos pais, direi eu, os mesmos que porventura educaram esses ou outros cães.
Voltando ao tema do tópico acima referido, e era aqui que eu queria chegar, desde que o cão em causa seja bem tratado na sua nova casa não vejo onde está o drama. Drama isso sim seria abandoná-lo ou entregá-lo para abate como já aqui foi referido. Mas por vezes parece-me que é maior a dependência que algumas pessoas têm dos seus animais que vice-versa, e é essa dependência e consequente egoísmo que as leva a ser tão fundamentalistas.
É óbvio que quem adquire ou adopta um animal tem um compromisso indubitável para com ele: tratá-lo da melhor forma possível, se possível até que ele morra. Mas adquire também um compromisso para com os seus semelhantes (humanos): lidar com esse cão de forma a evitar potenciais acidentes que ele possa causar, e é isto que as pessoas muitas vezes esquecem. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, no meio é que está a virtude, e daí no referido tópico ter criticado os fundamentalismos: é tão errado odiar animais como preterir os nossos iguais em favor deles, ou criticá-los sem dó nem piedade...
Se tiveram paciência de ler até ao fim desde já agradeço-vos; para quem já esqueceu, a questão inicial era: não deverá o amor canino ser antes chamado de lealdade para com o chefe da matilha (ou a prória matilha, dependendo das raças) ou em alguns casos apenas de respeito uma vez que este lhe foi incutido desde que ele era cachorro?
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periquito FALCANITO
Acontece que eu não concordo com esta visão "científica" do cão.
Não acho que haja um paralelo assim tão linear entre a relação com a matilha e o a relação do cão com o seu dono.
Na verdade acho que o cão só tem uma relação de amor - a que desenvolve com o seu dono.
Não é igual nem comparável com a relação entre seres humanos - mas é única e sem paralelo na natureza.
O cão não ama a cadela, não ama os seus filhos, não ama os seus pais, nem ama a matilha - mas, em alguns casos - ama o seu dono.
Penso que esta visão - a meu ver, um pouco redutora - é típica de quem têm muitos cães e não desenvolveu uma relação pessoal com nenhum deles.
Porque, como em toda a relação de amor, é preciso atenção, disponibilidade e (no caso dos animais) observação para se poder ver o amor deles.
Não é apenas com cães - com qualquer é possível uma relação de amor.
Mas é preciso querer e ter tempo para ela.
Até com os humanos...
Não acho que haja um paralelo assim tão linear entre a relação com a matilha e o a relação do cão com o seu dono.
Na verdade acho que o cão só tem uma relação de amor - a que desenvolve com o seu dono.
Não é igual nem comparável com a relação entre seres humanos - mas é única e sem paralelo na natureza.
O cão não ama a cadela, não ama os seus filhos, não ama os seus pais, nem ama a matilha - mas, em alguns casos - ama o seu dono.
Penso que esta visão - a meu ver, um pouco redutora - é típica de quem têm muitos cães e não desenvolveu uma relação pessoal com nenhum deles.
Porque, como em toda a relação de amor, é preciso atenção, disponibilidade e (no caso dos animais) observação para se poder ver o amor deles.
Não é apenas com cães - com qualquer é possível uma relação de amor.
Mas é preciso querer e ter tempo para ela.
Até com os humanos...
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- Localização: muitos !!!!!
e depois disto está tudo dito.
É isso mesmo Aisd "amor", e só isso.
Nada mais simples, nada mais básico, para quê racionalizar uma coisa tão simples?
Eu atrever-e-ia a acrescentar só uma coisa, a relação cão dono é mais que amor, chega à devoção.
Beijinhos
É isso mesmo Aisd "amor", e só isso.

Nada mais simples, nada mais básico, para quê racionalizar uma coisa tão simples?
Eu atrever-e-ia a acrescentar só uma coisa, a relação cão dono é mais que amor, chega à devoção.
Beijinhos
Para quem não entende, o que se segue é a minha assinatura
http://apterrariofilia.org/
Se algum dia sentir um vazio dentro de si ... vá comer que é fome !!!
Madalena Marques
http://apterrariofilia.org/
Se algum dia sentir um vazio dentro de si ... vá comer que é fome !!!
Madalena Marques
É um tópico bastante sui géneris: sentirão os cães "amor" pelo dono? Evidentemente que o facto de não podermos entrar nas suas cabecinhas dá azo a que especulemos sobre as possíveis respostas. Outra hipótese de explicação tem por base o conhecimento dos seus instintos naturais.
O cão, como o seu antepassado lobo, é um animal dotado de um grande instinto gregário. Vive em grupos devidamente hierarquizados, obedecendo a condutas selectivas que visam a sobrevivência da espécie. Será raro observar-se um lobo permanentemente solitário - o grupo é a sua defesa, e é curioso verificar a tendência para se formarem grupos maiores ou menores conforme as fontes de recursos são abundantes ou escassas. Do seu gregarismo derivam a territorialidade, a organização hierárquica do grupo, inclusive as disputas sexuais - todos têm como abjectivo último a sobrevivência.
O cão herdou do lobo este quadro de instintos, e o gregarismo é talvez o que se manifesta em maior grau na sua convivência com o homem. Integra-se na família humana, ocupando o lugar que lhe destinaram na hierarquia e adaptando-se positivamente, em troca dos recursos alimentares que já não tem de procurar por si próprio. Desenvolve com o homem uma relação muito próxima, em que ambos dão e recebem mutuamente.
Como todos os instintos, o gregarismo pode ser potenciado pelo dono, a partir do nível básico que o cão herdou dos seus progenitores. Nos nossos dias, em que o cão já não é uma ferramenta de trabalho mas um animal de companhia, pode dizer-se que este instinto é o mais fomentado pelos donos. Quanto mais desenvolvido estiver, mais fácil é confundi-lo com o amor, e aqui as classificações já são meras palavras sem grande significado.
Há cães que se adaptam fàcilmente a novos donos, como os lobos expulsos de uma alcateia se integram perfeitamente en novos grupos. Outros há que se tornaram tão dependentes, que ao mudar de "matilha" desenvolvem um conjunto de condutas que podem levá-los à morte - é o síndroma geral de adaptação.
A questão fundamental, para mim, é saber se um cão excessivamente gregário - excessivamente dotado de "amor"pelo dono - é um cão mais apto do que outro que consegue adaptar-se com relativa facilidade a novas convivências. Isto é, até que ponto devemos nós, os amantes da raça canina, estimular-lhe o seu sentido gregário?
Com este testamento vos deixo...
Cumprimentos
José Carlos
O cão, como o seu antepassado lobo, é um animal dotado de um grande instinto gregário. Vive em grupos devidamente hierarquizados, obedecendo a condutas selectivas que visam a sobrevivência da espécie. Será raro observar-se um lobo permanentemente solitário - o grupo é a sua defesa, e é curioso verificar a tendência para se formarem grupos maiores ou menores conforme as fontes de recursos são abundantes ou escassas. Do seu gregarismo derivam a territorialidade, a organização hierárquica do grupo, inclusive as disputas sexuais - todos têm como abjectivo último a sobrevivência.
O cão herdou do lobo este quadro de instintos, e o gregarismo é talvez o que se manifesta em maior grau na sua convivência com o homem. Integra-se na família humana, ocupando o lugar que lhe destinaram na hierarquia e adaptando-se positivamente, em troca dos recursos alimentares que já não tem de procurar por si próprio. Desenvolve com o homem uma relação muito próxima, em que ambos dão e recebem mutuamente.
Como todos os instintos, o gregarismo pode ser potenciado pelo dono, a partir do nível básico que o cão herdou dos seus progenitores. Nos nossos dias, em que o cão já não é uma ferramenta de trabalho mas um animal de companhia, pode dizer-se que este instinto é o mais fomentado pelos donos. Quanto mais desenvolvido estiver, mais fácil é confundi-lo com o amor, e aqui as classificações já são meras palavras sem grande significado.
Há cães que se adaptam fàcilmente a novos donos, como os lobos expulsos de uma alcateia se integram perfeitamente en novos grupos. Outros há que se tornaram tão dependentes, que ao mudar de "matilha" desenvolvem um conjunto de condutas que podem levá-los à morte - é o síndroma geral de adaptação.
A questão fundamental, para mim, é saber se um cão excessivamente gregário - excessivamente dotado de "amor"pelo dono - é um cão mais apto do que outro que consegue adaptar-se com relativa facilidade a novas convivências. Isto é, até que ponto devemos nós, os amantes da raça canina, estimular-lhe o seu sentido gregário?
Com este testamento vos deixo...
Cumprimentos
José Carlos
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- Membro Júnior
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Mas como se pode ter tanta certeza? Não conseguimos estar nas cabeças deles... O que é o amor para um cão?aisd Escreveu: O cão não ama a cadela, não ama os seus filhos, não ama os seus pais, nem ama a matilha - mas, em alguns casos - ama o seu dono.
A cadela dá a vida pelos seus filhos se estes forem atacados; um cão pastor defende as ovelhas até à morte contra os lobos; da mesma forma esse cão defenderia o dono até à morte. Todas estas acções, que são motivadas pelo perigo, são devido ao amor que sente ou não? Sentirá amor pelo dono mas não pelos filhos ou pelas ovelhas? Em que é que ficamos? O cão vê as ovelhas como se fizessem parte da matilha dele, daí que os melhores cães pastores são aqueles que foram criados com as ovelhas, dormindo com elas... Em todas as situações apontadas é amor que o cão sente ou apenas reage ao instinto de defender o que é dele?
Temo que por vezes sejamos um pouco narcisistas e nos julguemos o centro de todas as coisas. Olhem para qq grupo de animais na Natureza: os inferiores têm que agradar aos líderes ou pelo menos não lhes desagradar. O cão terá esse sentido mais exacerbado (a vontade de agradar) por ter sido desenvolvido ao longo de séculos e por lhe termos tirado ou reduzido a capacidade de sobreviver por meios próprios. Mesmo os animais sabem aquilo que lhes convém, se não por racionalização, por instinto.
Os cães possuem um bom instinto; muitas vezes apercebem-se antes de nós quando alguém tem más intenções. Esse mesmo instinto não os levará a tentar defender o local ou a pessoa junto de quem se sentem bem? Porque eles não conseguem ser calculistas (ao contrário dos humanos) para saber se ficariam a ganhar com determinada troca... se pudessem será que reagiriam da mesma forma?
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- Membro Veterano
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periquito FALCANITO
Realmente o amor é uma emoção muito complexa.
Haverá amor entre humanos ?
Desculpe mas , se quisermos, podemos reduzir as relações humanas ao mesmo interesse - amamos os filhos porque vão cuidar de nós quando velhos, amamos o parceiro porque partilhamos com ele uma vida, etc, etc.
Tudo isto perfeitamente substituível (talvez daí a enorme taxa de divórcios e alguns abandonos de crianças...).
O que é, pois, o amor ? (não confundir com paixão que é outro fenómeno a que se refere a poesia da Florbela Espanca "Amor é fogo que arde sem se ver...").
Pela minha experiência, amor é sentir a falta do outro.
É ele ser insubstituível - uma vez ido, ninguém pode ocupar o lugar que deixou vago.
Pode haver outros, mas só um é aquele.
Foi isso que eu vi no Calvin.
Quando apareceu o dono (o verdadeiro, que ele, a princípio, não reconheceu) foi como se...não sei descrever...
Nós, os segundos donos que muito o amávamos e que continuamos a amá-lo, ficamos reduzidos a pouco mais que uns tipos simpáticos.
Dono era aquele.
Dono foi sempre aquele.
E se isto não era amor, então o que é o amor?
Haverá amor entre humanos ?
Desculpe mas , se quisermos, podemos reduzir as relações humanas ao mesmo interesse - amamos os filhos porque vão cuidar de nós quando velhos, amamos o parceiro porque partilhamos com ele uma vida, etc, etc.
Tudo isto perfeitamente substituível (talvez daí a enorme taxa de divórcios e alguns abandonos de crianças...).
O que é, pois, o amor ? (não confundir com paixão que é outro fenómeno a que se refere a poesia da Florbela Espanca "Amor é fogo que arde sem se ver...").
Pela minha experiência, amor é sentir a falta do outro.
É ele ser insubstituível - uma vez ido, ninguém pode ocupar o lugar que deixou vago.
Pode haver outros, mas só um é aquele.
Foi isso que eu vi no Calvin.
Quando apareceu o dono (o verdadeiro, que ele, a princípio, não reconheceu) foi como se...não sei descrever...
Nós, os segundos donos que muito o amávamos e que continuamos a amá-lo, ficamos reduzidos a pouco mais que uns tipos simpáticos.
Dono era aquele.
Dono foi sempre aquele.
E se isto não era amor, então o que é o amor?
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aidsaisd Escreveu:
Foi isso que eu vi no Calvin.
Quando apareceu o dono (o verdadeiro, que ele, a princípio, não reconheceu) foi como se...não sei descrever...
Nós, os segundos donos que muito o amávamos e que continuamos a amá-lo, ficamos reduzidos a pouco mais que uns tipos simpáticos.
Dono era aquele.
Dono foi sempre aquele.
E se isto não era amor, então o que é o amor?
já tive a oportunidade de ler a história do Calvin e acho que ele retrata bem o amor (eu acho que é mesmo amor) que o cão tem pelo dono!
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- Localização: 2 cães(Fluffy e Infeliz), 1 gatinho (Mime) e 1 rouxinol do Japão(o Lípio)
Para quê discutir um assunto que vai para além da nossa compreensão? Se nem os maiores poetas ou os maiores cientistas conseguem descrever o amor que os humans sentem uns pelos outros, como podemos falar do amor dos cães, que não falam e não podem dizer o que sentem? Quem sabe se a cadela ama os filhotes? É um assunto tão pouco sólido...
(aisd, o verso não é da Florbela... é do Camões!)
(aisd, o verso não é da Florbela... é do Camões!)

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Pois julgo que esta é a chave do problema.jcsousa Escreveu:... pode dizer-se que este instinto é o mais fomentado pelos donos. Quanto mais desenvolvido estiver, mais fácil é confundi-lo com o amor, e aqui as classificações já são meras palavras sem grande significado.
Diria que estamos a discutir o sexo dos anjos. Não estou a ironizar e muito menos a desvalorizar o que se tem dito aqui, nem o tema, que aliás considero muito interessante.
Eu colocaria as coisas ao contrário. Nós estamos muito mais perto dos animais do que muita gente julga. Nós estamos muito arreigados à nossa condição animal. Por muito que queiramos elevar-nos. Pior ainda, muitos dos nossos comportamentos, movidos pelos mesmos instintos que os animais têm, são falsos, hipócritas e enviezados, manhosos e terrivelmente arquitectados. Nos animais há uma relação directa instinto/acção. O cão não é hipócrita, nem é falso e é este um dos aspectos que nos fascina, porque encontramos nele aquilo que por vezes não temos no nosso maior amigo humano. O amor que lhe dedicamos deriva muito dessa lealdade que ele cegamente nos oferece. Sem contrapartidas.
Mas será isso amor, lealdade, dedicação, fidelidade? Que interessa?
Citando as palavras do Jcsousa: "...aqui as classificações já são meras palavras sem grande significado."
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Pois é, nel, a questão é que nós damos demasiada importância às palavras... instinto, amor, valerá a pena perdermos tempo com essas classificações? Na verdade, o que realmente conta é a relação que se estabelece e a forma como o cão - à sua maneira - corresponde ao afecto que lhe damos.
Faria, no entanto, uma pequena ressalva ao seu texto - nem sempre os cães interagem com sinceridade, e fundamentalmente em situações de confronto possível, intraespecífico ou com humanos... na verdade, eles estabelecem uma série de displays de conduta que, algumas vezes, são um autêntico bluff. Há-de já ter reparado que há cães extremamente "agressivos" com congéneres ou humanos, que dão às de vila diogo sempre que o alvo do seu "teatro" não dá mostras de assustar-se... não poderá aqui falar-se de sinceridade, antes de uma estratégia de ostentação que normalmente não tem êxito!
Já nas manifestações de afecto são essencialmente sinceros, e isto tem uma explicação natural - guardam ainda na memória genética o papel essencial que a integração no grupo (gregarismo) assume na sua própria sobrevivência.
Um abraço
José Carlos
Faria, no entanto, uma pequena ressalva ao seu texto - nem sempre os cães interagem com sinceridade, e fundamentalmente em situações de confronto possível, intraespecífico ou com humanos... na verdade, eles estabelecem uma série de displays de conduta que, algumas vezes, são um autêntico bluff. Há-de já ter reparado que há cães extremamente "agressivos" com congéneres ou humanos, que dão às de vila diogo sempre que o alvo do seu "teatro" não dá mostras de assustar-se... não poderá aqui falar-se de sinceridade, antes de uma estratégia de ostentação que normalmente não tem êxito!
Já nas manifestações de afecto são essencialmente sinceros, e isto tem uma explicação natural - guardam ainda na memória genética o papel essencial que a integração no grupo (gregarismo) assume na sua própria sobrevivência.
Um abraço
José Carlos
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- Localização: Dylan, epagneul breton
Sou nova no forum e ainda por cima não conheço muito sobre o comportamento dos cães, embora goste imenso do meu Dylan.
Mas agora, despois de ter lido os seus mensagems e as dicas sobre educação e liderança da página dos whippets, fico a saber como é que pensa o cãozinho:
Certeza que, no seu cerebro canino, o lider da nossa matilha familiar é o meu marido, que não queria comprar um cão, só consintiu porque as miudas insistiram, e nem olha para o bichinho quando chega a casa de noite, é a ele que o cãozinho olha com adoração y nunca ousou ladrar-lhe.
E eu, que lhe preparo as refeições, o levo ao jardim e ao veterinario, trato de ele quando apanha otitis, o ralho quando faz asneiras, o tenho limpinho e escovado de fresco, certeza que eu sou, para ele, a empregada de serviço!!! O malandrecas esta a concorrer para o cargo de segundo chefe da matilha!!!
Ok, agora que já sei como é que as coisas são, ó Dylan, vais ficar a saber que não tens habilitações para o cargo, cachorro maroto!
É só um bocadinho de humor, mas como todas as anedotas, tem uma base de verdade, não acham?
Obrigada a todo o pessoal do forum por as imensas coisas que aqui estou a aprender sobre os cães.
Alicia
Mas agora, despois de ter lido os seus mensagems e as dicas sobre educação e liderança da página dos whippets, fico a saber como é que pensa o cãozinho:
Certeza que, no seu cerebro canino, o lider da nossa matilha familiar é o meu marido, que não queria comprar um cão, só consintiu porque as miudas insistiram, e nem olha para o bichinho quando chega a casa de noite, é a ele que o cãozinho olha com adoração y nunca ousou ladrar-lhe.
E eu, que lhe preparo as refeições, o levo ao jardim e ao veterinario, trato de ele quando apanha otitis, o ralho quando faz asneiras, o tenho limpinho e escovado de fresco, certeza que eu sou, para ele, a empregada de serviço!!! O malandrecas esta a concorrer para o cargo de segundo chefe da matilha!!!

Ok, agora que já sei como é que as coisas são, ó Dylan, vais ficar a saber que não tens habilitações para o cargo, cachorro maroto!
É só um bocadinho de humor, mas como todas as anedotas, tem uma base de verdade, não acham?
Obrigada a todo o pessoal do forum por as imensas coisas que aqui estou a aprender sobre os cães.
Alicia
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- Membro Júnior
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- Registado: quinta out 02, 2003 6:06 pm
Embora não propositadamente o seu marido está a desempenhar o verdadeiro papel de líder da matilha; os líderes não ligam aqueles estão numa posição inferior e é por isso que o seu cachorro tenta agradar ao seu marido.
Os tempos mais importantes de um cão são os primeiros 2 anos de vida (dependendo das raças pois umas maturam mais cedo que outras), em que ele vai aprender as regras de comportamento. No entanto a educação de um cão requer treino continuado, pois eles são expertos e tal como numa verdadeira matilha tentarão sempre subir na hierarquia; isto quer dizer que quase todos os dias deverá lembrar-lhe o lugar dele na hierarquia, e embora isto possa não parecer muito importante num cão de 15 ou 20 kg, se o mesmo tiver 70 kg e não estiver bem ciente do seu ligar na hierarquia familiar problemas sérios podem acontecer.
Claro que dependendo da raça ou da personalidade do cão esse comportamneto pode nem se revelar mas falamos em termos gerais; ainda há poucos dias li a descrição do comportamento de um cão que só obedecia à dona, e em que o dono da casa não poderia sequer aproximar-se do quarto para se ir deitar com a sua fémea!!! Ele pensava provavelmente que já estava no topo da hierarquia e que a dona da casa era a sua companheira.
Felicidades com o seu cão.
Os tempos mais importantes de um cão são os primeiros 2 anos de vida (dependendo das raças pois umas maturam mais cedo que outras), em que ele vai aprender as regras de comportamento. No entanto a educação de um cão requer treino continuado, pois eles são expertos e tal como numa verdadeira matilha tentarão sempre subir na hierarquia; isto quer dizer que quase todos os dias deverá lembrar-lhe o lugar dele na hierarquia, e embora isto possa não parecer muito importante num cão de 15 ou 20 kg, se o mesmo tiver 70 kg e não estiver bem ciente do seu ligar na hierarquia familiar problemas sérios podem acontecer.
Claro que dependendo da raça ou da personalidade do cão esse comportamneto pode nem se revelar mas falamos em termos gerais; ainda há poucos dias li a descrição do comportamento de um cão que só obedecia à dona, e em que o dono da casa não poderia sequer aproximar-se do quarto para se ir deitar com a sua fémea!!! Ele pensava provavelmente que já estava no topo da hierarquia e que a dona da casa era a sua companheira.
Felicidades com o seu cão.
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Um Tópico deveras interessante!
Vou meter a colherada com uma perspectiva que ainda ninguém abordou...
Quanto a mim, o amor como emoção isolada não existe. Não existe para os animais nem existe para os humanos.
Amor é mais uma palavra que inventámos para designar um conjunto de emoções. Amor é uma palavra inventada para disfarçar os nossos instintos mais primários, básicos e animais.
Afinal o que é o amor?
Digam-me se conseguem idealizar o Amor sem pensarem num conjunto de emoções e atributos como:
Companheirismo, Fidelidade, Devoção, Confiança, Dependência, Carinho, Objectivos Comuns, Propagação da espécie, satifacção sexual e emocional, Construção de uma vida a 2 (dinheiro, comida, bens materiais...)...entre outras????
Ora, se analisarmos bem a raiz de todas estas emoções encontramos como base o instinto de sobrevivência da espécie - a 2, em grupo, é mais fácil!
É mais fácil caçar em matilha, ou a 2, do que caçar sózinho. É mais fácil construir uma vida a 2 que sózinho. É mais fácil proteger as crias dentro da matilha. É mais fácil criar os filhos no seio de uma familia. É mais fácil defender o território em matilha. etc etc etc
As analogias não ficam por aqui...mas não me vou alongar mais.
Estão a ver onde quero chegar???
Afinal, o que é o Amor???? Desculpem, mas para mim o Amor, por si só, é uma mera palavra oca. Temos que a encher com uma quantidade de emoções para fazer algum significado, não é? O Amor não existe por si só. É suportado.
A Paixão nada mais é que uma forte descarga de adrenalina e estrogénio e mais umas quantas substâncias produzidas pelo nosso organismo, que levam a um estado de embriaguez natural e atracção sexual ( abençoado estado heheheheh).
Pode-se falar em amor á primeira vista? Não. É um contracenso. Paixão á primeira vista sim. Depois o que fica é o Amor, quando já se conhece a pessoa, quando se sente que é com aquela pessoa que podemos construir uma vida em comum - em matilha
, ter filhos - propagar a espécie, a nossa herança genética
, etc etc
A fidelidade de um cão para com o seu dono nada mais é que isso mesmo. E é muito. É muito mais que por vezes podemos esperar de outros seres humanos...
Para quê chamar-lhe amor? Se a Fidelidade vale muito por si só? Tal como todos os outros instintos que o cão pode desenvolver pelo seu dono, o líder da matilha...
O que é o Amor?
Vou meter a colherada com uma perspectiva que ainda ninguém abordou...
Quanto a mim, o amor como emoção isolada não existe. Não existe para os animais nem existe para os humanos.
Amor é mais uma palavra que inventámos para designar um conjunto de emoções. Amor é uma palavra inventada para disfarçar os nossos instintos mais primários, básicos e animais.
Afinal o que é o amor?
Digam-me se conseguem idealizar o Amor sem pensarem num conjunto de emoções e atributos como:
Companheirismo, Fidelidade, Devoção, Confiança, Dependência, Carinho, Objectivos Comuns, Propagação da espécie, satifacção sexual e emocional, Construção de uma vida a 2 (dinheiro, comida, bens materiais...)...entre outras????
Ora, se analisarmos bem a raiz de todas estas emoções encontramos como base o instinto de sobrevivência da espécie - a 2, em grupo, é mais fácil!
É mais fácil caçar em matilha, ou a 2, do que caçar sózinho. É mais fácil construir uma vida a 2 que sózinho. É mais fácil proteger as crias dentro da matilha. É mais fácil criar os filhos no seio de uma familia. É mais fácil defender o território em matilha. etc etc etc
As analogias não ficam por aqui...mas não me vou alongar mais.
Estão a ver onde quero chegar???
Afinal, o que é o Amor???? Desculpem, mas para mim o Amor, por si só, é uma mera palavra oca. Temos que a encher com uma quantidade de emoções para fazer algum significado, não é? O Amor não existe por si só. É suportado.
A Paixão nada mais é que uma forte descarga de adrenalina e estrogénio e mais umas quantas substâncias produzidas pelo nosso organismo, que levam a um estado de embriaguez natural e atracção sexual ( abençoado estado heheheheh).
Pode-se falar em amor á primeira vista? Não. É um contracenso. Paixão á primeira vista sim. Depois o que fica é o Amor, quando já se conhece a pessoa, quando se sente que é com aquela pessoa que podemos construir uma vida em comum - em matilha


A fidelidade de um cão para com o seu dono nada mais é que isso mesmo. E é muito. É muito mais que por vezes podemos esperar de outros seres humanos...
Para quê chamar-lhe amor? Se a Fidelidade vale muito por si só? Tal como todos os outros instintos que o cão pode desenvolver pelo seu dono, o líder da matilha...
O que é o Amor?
<p><strong>Saudações!</strong></p>
<p><strong>Cristina Paulo</strong></p>
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<p><strong>Cristina Paulo</strong></p>
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Só mais uma coisinha...não estou a comparar as espécies. O que nos distingue dos animais é a nossa racionalidade. O Amor é fruto da nossa racionalidade, tal como a capacidade de filosofar, fazer poesia, imaginar e sonhar...
Só que por vezes, no meio de tanta racionalização, perdemos o contacto com a nossa herança animal, com a nossa mãe Natureza. Na tentativa de refutar essa herança acabamos por perder noção do de onde viemos, essencial para percebermos onde estamos e para onde vamos.
Acabamos igualmente por achar que somos o centro de tudo, transferimos a capacidade de racionalizar para outros animais irracionais, ou até para objectos.
Mas no meio disto tudo, quantas vezes é que nos animalizamos em vez de humanizarmos os animais?
Por vezes basta fecharmos os olhos e meditarmos um bocadinho em algumas das nossas acções, e não termos medo de descobrirmos coisas sobre nós mesmos que á luz da nossa educação são grandes pecados ou defeitos ou más acções - o egoismo por exemplo, nada mais é que instinto de sobrevivência exacerbado. E quantas vezes o egoismo nãoe stá na base das nossas acções? Lá muito escondido, muito para baixo...mas está lá.
Pronto. Hoje deu-me para isto!
Só que por vezes, no meio de tanta racionalização, perdemos o contacto com a nossa herança animal, com a nossa mãe Natureza. Na tentativa de refutar essa herança acabamos por perder noção do de onde viemos, essencial para percebermos onde estamos e para onde vamos.
Acabamos igualmente por achar que somos o centro de tudo, transferimos a capacidade de racionalizar para outros animais irracionais, ou até para objectos.
Mas no meio disto tudo, quantas vezes é que nos animalizamos em vez de humanizarmos os animais?
Por vezes basta fecharmos os olhos e meditarmos um bocadinho em algumas das nossas acções, e não termos medo de descobrirmos coisas sobre nós mesmos que á luz da nossa educação são grandes pecados ou defeitos ou más acções - o egoismo por exemplo, nada mais é que instinto de sobrevivência exacerbado. E quantas vezes o egoismo nãoe stá na base das nossas acções? Lá muito escondido, muito para baixo...mas está lá.
Pronto. Hoje deu-me para isto!

<p><strong>Saudações!</strong></p>
<p><strong>Cristina Paulo</strong></p>
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<p><strong>Cristina Paulo</strong></p>
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