"Abrir" o cão

[CasadeAnaval]

Seguindo o tópico do artigo desta semana , quantos de vocês estavam disponíveis para efectuar uma autópsia ao vosso cão caso ela pudesse ajudar os alunos de medicina veterinária a aprender ?

Ou melhor, acham que devem ser usados nas faculdades cadáveres dos cães eutanasiados nos canis ?

[nel]

Olá

Claro que sim. Sem reservas. Eu próprio não me importaria de ofrecer o meu corpo para o efeito. Mas tenho que respeitar outros membros da minha família que não estão muito de acordo com isso.
Em relação aos meus cães, eu não teria qualquer relutância em doá-los para esse fim. Seria uma forma de lhes prolongar a "vida".

[CasadeAnaval]

Olá Nel.

Não sei se sabes que existe uma grande quantidade de donos de animais que suspeitam sempre que os médicos-veterinários das clinicas ( não das faculdades) quando ficam com os cães para dar destino ao cadáver, que vão fazer experiências com o mesmo.

Alguns ainda dariam um enterro cristão aos cães se pudessem.

Haverá na morte do cão uma espécie de projecção nossa que exige o respeito de ritos semelhantes aos nossos ? Eu sempre enterrei os meus cães com uma curta prece, confesso.

[Arcanus]

Boas
Respondendo à sua primeira questão: não só estaria disponível para a autópsia de qualquer animal meu como já o fiz efectivamente. A minha outra labradora, pouco tempo depois de ter morrido, foi para a Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa.
Quanto à segunda... se isso poder realmente ajudar os estudantes de veterinária (e eu acho que pode) não vejo porque não utilizar os cadáveres dos cães eutanasiados nos canis...
Fiquem bem

[Dalilah]

Seguindo o tópico do artigo desta semana , quantos de vocês estavam disponíveis para efectuar uma autópsia ao vosso cão caso ela pudesse ajudar os alunos de medicina veterinária a aprender ?

Sem dúvida que disponibilizaria os mesus cães, e até concordo com o Nel, disponibilizaria para o mesmo fim até o meu próprio corpo, de boa vontade.

Haverá na morte do cão uma espécie de projecção nossa que exige o respeito de ritos semelhantes aos nossos ?

Isso julgo que depende da pessoa. O Vasco tem todo o direito de fazer a sua pequena prece pelos seu cães, e eu respeito imenso isso, mas eu não faria, até porque sou ateia. Quanto a outros ritos, isso acho que já se mistura um bocado com a questão da humanização dos bichanos... as pessoas apegam-se tanto a eles como se fossem pessoas e depois querem dar-lhes na morte o que dariam a um ente querido... Mas isso é como a escolha religiosa de cada um, há que respeitar ao máximo.

[Elsa]

Olá,

Para quem já passou pelas aulas de anatomia patológica.. devo dizer que são de EXTREMA importância os cães doados para autópsia. Por mim até para as aulas de anatomia, pois trabalhar apenas com ovelhas.. não dá uma noção exacta da anatomia dos cães e gatos.. depois é uma dificuldade nas aulas de cirurgia... enfim..

Foi nas aulas de anatomia patológica, com os cães, gatos, coelhos, aves, até animais selvagens doados não só para ensino como principalmente para se determinar a causa de morte, que se consolida a anatomia e a patologia. Ver nos fotografias nos livros, não é a mesma coisa.

Acho que seria de grande utilidade também para praticar técnicas cirurgicas.

O problema é que a doação de cadáveres para ensino, é extremamente limitado, mesmo de animais sem dono, como os dos canis. Nunca me foi explicado porque é que não temos acesso a esses animais, mas penso que é algo na legislação que não o permite.

Acho que só permite para autópsia e tem que ser doado pelo dono. O resto ( anatomia, cirurgia..) é considerado experiências médicas.... enfim não sei bem...

Agora.. em relação a um cão meu... eu não fazia a autopsia nem queria vê-la, mas não me importava de doá-lo se fosse de grande valor para ensino ( tipo ... tumores raros, doenças congénitas, etc..) De qualquer forma, queria uma autopsia "estética" para o poder enterrar, e fazer-lhe o funeral.

[nel]

Olá Vasco

Eu estou a falar nisto de forma muito fria e aparentemente desinteressada porque estou a colocar o problema num plano teórico e longínquo. Os meus cães estão bem de saúde, são novos e, a menos que lhes aconteça alguma coisa (p.....) essa decisão por enquanto nem custa a ter. Mas só de pensar que os meus cães vão morrer eu fico doente e prefiro espantar a ideia. Lembram-se de um tópico que eu lancei já há muitos meses "A vida deles é tão curta..."? Ora foi exactamente com esta "sina" que eles têm de morrerem relativamente cedo que eu de vez em quando fico triste e desconsolado.
De qualquer modo, isto não tem nada a ver com a decisão de os doar para esse efeito.
Quando eles morrerem eu entrego-os ao meu veterinário. Já falei com ele sobre isso. Se ele entender que poderão ser úteis para investigação científica ou qualquer tipo de estudo, pois muito bem...
Mas por enquanto prefiro não pensar nisso. Lá chegará o dia. Ainda temos uns bons anitos à frente.

[Megaran]

Eu aceitaria na hora e também o faria com o meu próprio corpo...

As faculdades necessitam mesmo destes apoios!

Ah e já agora sabiam que são criados beagles só para serem alvo de estudos nas nossas faculdades... com tanto animal abandonado por aí e já infectado! é triste!

[nel]

Esqueci-me de referir o aspecto do ritual.
Poderei dar um testemunho que é bastante íntimo e muito pessoal, que normalmente não gosto de abordar porque não gosto de banalizar certos acontecimentos. Mas estamos em família e lá vai.
Eu não sou religioso nem para lá caminho. Tenho uma formação cristã como toda a gente, mas nada mais do que isso. Mas quando o meu filho morreu, o funeral foi religioso. E soube-me bem o ritual dentro da Igreja. Houve um conforto espiritual que eu não sentiria se o funeral tivesse acontecido sem a cerimónia religiosa. Eu não me converti por isso, mas ainda hoje recordo essa paz e essa espécie de magia.

Por isso, eu compreendo perfeitamente que as pessoas queiram prestar um tributo aos seus companheiros, semelhante ao que dedicam às pessoas suas familiares ou amigas.
Neste caso não entendo o ritual como uma humanização do cão. É antes um cumprimento, um bem-haja, um adeus.

[KROZ]

Nem sei o que fazer quando chegar a "minha" altura...

Não me imagino a entregá-lo ao canil... mas enterrá-lo? Onde...? O Zoo de Lisboa ainda enterra cães?

[casadiscaes]

Não só era capaz mas também gostava de assistir... nunca assisti a uma autopsia a um cão... já assisti a várias operações mas a isso ainda não...

Por outro lado percebo que a questão possa ser problemática para alguém que o cão acba por ser na prática a única companhia... não é um animal que alí está, é o amigo, o companheiro, aquele faz as vezes de uma mulher, um marido, um filho ou filha... quando morre alguém da família e tem que ser autopsiado, muitas vezes o sentimento é de profanação, sobretudo num país de maioria católica e como tal com um culto dos mortos muito arreigado, o cão ou o gato, que durante anos ocuparam esse lugar, para essas pessoas, deveriam ter um local onde pudessem ser visitados depois de morrerem... acaba por ser uma questão cultural, num país onde não se sabe muitas vezes respeitar os animais vivos, pretender dignidade para os mesmos depois de estes morrerem...

[anjaazul]

quando o serafim esteve muito doente, a vet quis operá-lo para estudo. uma vez que segundo ela, o gato não tinha nenhuma hipótese de sobreviver, qual seria o interesse? ela não referiu isso, mas eu percebi e não me opus. em relação aos velhotes, não me pareceu que isso valesse a pena. em relação aos outros, não me importo, desde que isso seja de utilidade para a ciência. autópsia, em si, não vejo nenhuma vantagem.

[Ines2002]

Concordo em tudo com a Elsa. Como estudante de Med.vet, tive a cadeira de Anat.Patológica no ano passado, cujas aulas práticas consistiam em necrópsias (já agora o nome mais correcto é mesmo necrópsia, já que autópsia é referente ao homem) de animais. Além dos mais comuns cães e gatos, tivemos oportunidade de "explorar" várias espécies exóticas e grandes animais, sem dúvida uma mais valia para o nosso futuro. Por acaso nunca tivemos problemas coma a falta de cadáveres, apenas com o estado em que alguns já vinham (demasiado tempo de congelação).

Consentiria sem problema que um animal meu fosse necropsiado mas não sei se conseguiria assistir...

cumprimentos,
Inês C

[tome]

olá!

Sinceramente não me tou a ver a doar o cadáver de nenhum cao meu para estudos. Confesso que só de pensar neles abertos dá-me arrepios, embora ache isso importante para quem estuda.

Nunca me falaram nisto antes, o Tomé foi enterrado no quintal e o Becas foi cremado, mas se tivessem dito alguma coisa nesse sentido a resposta teria sido não!

Tomé

[mjoaomarques]

Dois dos meus animais (um cão e um gato) foram eutanasiados em Lisboa. O gato foi necropsiado por sugestão do médico-veterinário. O cão não o trouxe para casa porque alguém disse que não poderia deslocar-me com o cadáver no carro. No Inverno passado morreu uma das minhas gatas quando estava internada aqui nas Caldas. Não sei o que fizeram aos corpos mas não teria negado autorização para que os utilizassem para estudo.
Todos os outros morreram em casa e estão enterrados no fundo do jardim, na fronteira com o pomar, debaixo de uma fiada de salgueiros bem grandes. Não está marcado o sítio em que cada um está enterrado mas gosto de plantar, na Primavera seguinte, uma hera ou um feto. Basta-me saber que estão lá e que estão a ajudar no desenvolvimento de outro ser vivo. É um dos meus sítios favoritos do jardim pela paz que me transmite.