Eu sei, Lu. Não se amofine comigo, por favor. Hoje já atingi o meu limite de amofinações e mal-entendidos.
Voltando às reminiscências:
Ainda me lembro de se comprar os legumes secos medidos com aquelas "caixas" de madeira, rasadas com "um pau", como eu dizia em miúda.
O óleo era de mendobi, palavra que sempre me fascinou.
O azeite era todo igual e passava-se a vida a escrutiná-lo, pois as falsificações eram mais do que muitas.
O açúcar amarelo era mais barato que o branco e comprava-se aos meios quilos, quando não às 250 g. O merceeiro ia à tulha e tirava a quantidade pedida para cartuchos de papel pardo. Depois em casa, é que se via se estava misturado com farinha ou não - e muitas vezes estava.
E vendia-se carvão, que se acendia com "bolas", uma espécie de bolachas grossas feitas de cinza amassada com palha. E também havia briquetes, assim a modos que uns pastéis de bacalhau que brilhavam e só muito crescida vim a saber que eram feitos de carvão fóssil. Por isso eram caros e só os abastados os compravam.
E ia-se à praça, onde havia batateiros (que só vendiam batatas) e bananeiros que só vendiam bananas (vindas da da Madeira e das ex-colónias), mas que tinham penduradas nos postes das bancadas guirlandas de colares de pinhões. E que saborosos eram esses pinhões quando me enfiavam um colar ao pescoço, no qual ia mamando até casa!
E as bancas das peixeiras regurgitavam de peixes prateados, entre os quais reinava a pescada do Alto. Não havia cá peixe congelado, no interior da província comia-se de vez em quando sardinhas salgadas e atum de salmoura. Com o qual a minha mãe fazia umas saladas deliciosas.
Ao lado da nossa casa havia uma padaria e a minha mãe levava lá, para assarem no forno, o peixe ou uma perna de carneiro. Uma maravilha de sabores que ainda hoje me fazem água na boca...
No entanto, e apesar de tudo, hoje vive-se melhor. Quando ne recordo destas coisas é a saudade da infância que me bate à porta, muito embora não tenha sido uma infância muito feliz.
