Poemas e poetas

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
Gallaecia
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segunda nov 08, 2010 5:19 pm

Eugénio de Andrade -
Os olhos rasos de água


Cansado de ser homem durante o dia inteiro
chego à noite com os olhos rasos de água.
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,
entrar dentro de ti como num bosque.

É a hora de fazer milagres:
posso ressuscitar os mortos e trazê-los
a este quarto branco e despovoado,
onde entro sempre pela primeira vez,
para falarmos das grandes searas de trigo
afogadas a luz do amanhecer.

Posso prometer uma viagem ao paraíso
a quem se estender ao pé de mim,
ou deixar uma lágrima nos meus olhos
ser toda a nostalgia das areias.


Eugénio de Andrade, in
"As palavras interditas "
<p><strong>Remember this - very little is needed to make a happy life...</strong></p>
<p><strong>You have power over your mind - not outside events. Realize this... and you will find strength.</strong>
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<p><strong>Marcus Aurelius</strong></p>
LuluB
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terça nov 09, 2010 11:47 am

Este não é muito "intelectual", mas é uma boa ajuda:


As vozes dos animais

Palram pêga e papagaio,
E cacareja a galinha;
Os ternos pombos arrulham;
Geme a rola inocentinha.

Muge a vaca; berra o touro;
Grasna a rã; ruge o leão;
O gato mia; uiva o lobo;
Também uiva e ladra o cão.

Relincha e nitre o cavalo;
Os elefantes dão urros;
A tímida ovelha bala;
Zurrar é próprio dos burros.

Regouga a sagaz raposa,
(Brutinho muito matreiro;)
Nos ramos cantam as aves;
Mas pia o mocho agoureiro.

Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar;
Fazem gorgeios às vezes,
Às vezes põem-se a chilrar.

O negro corvo crocita;
Zune o mosquito enfadonho;
A serpente, no deserto,
Solta assobio medonho.

O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos, e as doninhas,
Apenas sabe chiar.

Chia a lebre; grasna o pato;
Ouvem-se os porcos grunhir;
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.

Bramam os tigres, as onças;
Pia, pia, o pintainho;
Cucurica e canta o galo;
Late e gane o cachorrinho.

A vitelinha dá berros;
O cordeirinho, balidos;
O macaquinho dá guinchos;
A criancinha, vagidos.

A fala foi dada ao Homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima,
Se encontram, em pobre rima,
As vozes dos principais.

Pedro Dinis, livro de textos para uso das escolas, publicado em 1855.

:lol: :lol: :lol:

Servia para ensinar as vozes dos animais às criancinhas. Ainda me lembro de o recitar nos remotos tempos do início da minha escolaridade. :roll:

Mas não deixa de ser poesia.
<p>Ol&aacute;, eu sou a Bronkas de outros f&oacute;runs e aqui j&aacute; fui a LucNun. :mrgreen:</p>
<p>&nbsp;</p>
<p><strong>Cada vez me conven&ccedil;o mais que h&aacute; pessoas que t&ecirc;m o intestino ligado &agrave; testa.</strong> - "By" algu&eacute;m que tem ambas as coisas no seu devido lugar. :mrgreen:</p>
Gallaecia
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terça nov 09, 2010 4:24 pm

Desconhecia...

Obrigada LuluB :wink:

mais... mais :D
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cockinhas
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quinta nov 11, 2010 9:21 pm

Gostei muito deste texto :D , também não conhecia.
cockinhas
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quinta nov 11, 2010 9:22 pm

E depois das vozes dos animais, deixo-vos aqui uma carta ditada por eles.

Quem ouviu a sua mensagem e a traduziu para nós foi a mãe de um membro da arca.

Ora escutem:


Carta Aberta Dos Bichos Ao Homem

Homem:

Tal como tu somos animais
Tal como tu damos o ser
Tal como tu comemos
Tal como tu tentamos viver.

Com patas ou sem elas
Com cauda ou só com cu
Com escamas, pêlos ou penas
Somos animais tal como tu.

Iguais em tudo? Isso não
És ser inteligente. Tens a voz…
Mas então prova-o Homem
Sendo, pelo menos, como nós.

Um dia deixará de haver futuro
E, se então alguém sobreviver
No ar fétido e já impuro
Não serás tu, podes crer.

Então tragicamente sós
A única verdade será esta:
Nós somos só animais;
Tu não passas de uma besta.

Mas nós gostamos de ti.
Tu és hoje a nossa aposta
Só queremos ajudar-te
E esta é a nossa proposta:

Não estejas contra nós. Fica-te mal.
Mas sim por nós. Tu vais ver.
Serás o rei dos animais
Se isso te dá prazer.

Ana Paula Gonçalves
LuluB
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sexta nov 12, 2010 1:26 am

E já que estamos numa de animais, e que estes não são só os nossos cães e os nossos (vossos, eu não tenho) gatos, e também porque me deu para relembrar as poesias dos livros dos primeiros anos de escola da minha infância, aqui vai outro poema:


Os passarinhos

Os passarinhos, tão engraçados
fazem os ninhos com mil cuidados

são prós filhinhos que estão p'ra ter
que os passarinhos os vão fazer

nos bicos trazem coisas pequenas
e os ninhos fazem de musgo e penas

nunca se faça mal a um ninho
à linda graça dum passarinho

que nos lembremos sempre também
do pai que temos e da nossa mãe!


Afonso Lopes Vieira, Poesias sobre as "Cenas Infantis" de Schumann, Líricas Portuguesas, Portugália Editora.

Bons tempos, em que se ensinava às crianças o amor pelos animais e que não se roubam ninhos... :roll:


O Cavaleiro do Cavalo de Pau

Vai a galope o cavaleiro e sem cessar
Galopando no ar sem mudar de lugar.

E galopa galopa e galopa, parado,
E galopa sem fim nas tábuas do sobrado.

Oh! que bravo corcel, que doidas galopadas,
Crinas de estopa ao vento, e as narinas pintadas!

Em curvas pelo ar, em velozes carreiras,
O cavalo de pau é o terror das cadeiras!

E o cavaleiro nunca muda de lugar,
A galopar a galopar a galopar!


Idem, Ibidem.
<p>Ol&aacute;, eu sou a Bronkas de outros f&oacute;runs e aqui j&aacute; fui a LucNun. :mrgreen:</p>
<p>&nbsp;</p>
<p><strong>Cada vez me conven&ccedil;o mais que h&aacute; pessoas que t&ecirc;m o intestino ligado &agrave; testa.</strong> - "By" algu&eacute;m que tem ambas as coisas no seu devido lugar. :mrgreen:</p>
LuluB
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sexta nov 12, 2010 1:31 am

Mudando de tom:


Naquela tarde em que eu parti e tu ficaste
sentimos, fundo, os dois a mágoa da saudade.
Por ver-te as lágrimas sangraram de verdade
sofri na alma um amargor quando choraste.

Ao despedir-me eu trouxe a dor que tu levaste!
Nem só teu amor me traz a felicidade.
Quando parti foi por amar a Humanidade.
Sim! Foi por isso que eu parti e tu ficaste!

Mas se pensares que eu não parti e a mim te deste
será a dor e a tristeza de perder-me
unicamente um pesadelo que tiveste.

Mas se jamais do teu amor posso esquecer-me
e se fui eu aquele a quem tu mais quiseste
que eu conserve em ti a esperança de rever-me!

Vasco Cabral

Sim, esse mesmo Vasco Cabral que era primo de Amílcar Cabral e que depois veio a ter um lugar proeminente no governo da Guiné-Bissau. Além de ser uma pessoa excelente, era um grande poeta.
<p>Ol&aacute;, eu sou a Bronkas de outros f&oacute;runs e aqui j&aacute; fui a LucNun. :mrgreen:</p>
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LuluB
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sexta nov 12, 2010 2:35 am

Finalmente (por hoje, claro), descobri um poema magnífico que há uns anos andou a circular pelos mails, muitas vezes truncado e sempre sem se dizer quem era o seu autor. Espantei-me quando agora descobri quem o escreveu:


Poesia Matemática

Às folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base,
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo otogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela
Até que se encontraram
No Infinito.
“Quem és tu?”indagou ele
Com ânsia radical.
“Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa.”
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Uma perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Freqüentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.
Mas foi então que o Einstein descobriu a Relatividade
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade.

Millôr Fernades


Pois é, Millôr Fernandes... :D Deste homem conhecemos de sobejo a sua ironia crítica, por vezes feroz a meter o dedo na ferida e a retorcê-lo lá dentro para doer mais. Chamavam-lhe humorista. Mas foi mais do que isso, foi também um poeta e um mestre da metáfora e do aforismo. Vejam:

o pato, menina,
é um animal
com buzina

****

o velho coelho
só se reproduz
no espelho

****

probleminhas terrenos:
quem vive mais
morre menos?

****

tem cautela;
ajuda o sol
com uma vela


Para verem mais:

http://www.alashary.org/autor/millor_fernandes/
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Gallaecia
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sexta nov 12, 2010 11:48 am

thnks!! :D
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cockinhas
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sábado nov 13, 2010 4:47 pm

Com a leitura deste poema (Poesia Matemática) já ganhei o dia :D .
LuluB
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sábado nov 13, 2010 7:21 pm

E eu ganho-o sempre que o releio. Não o dia, mas o mês, até o ano.

Adoro este tipo de textos.
<p>Ol&aacute;, eu sou a Bronkas de outros f&oacute;runs e aqui j&aacute; fui a LucNun. :mrgreen:</p>
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Tassebem
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domingo nov 14, 2010 2:22 am

O Mostrengo

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse, «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo,
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
que moro onde nunca ninguem me visse
e escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse,
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes,
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

Fernando Pessoa, Mensagem

http://pt.netlog.com/go/explore/videos/ ... =pt-859375
&laquo;Ningu&eacute;m cometeu maior erro do que aquele que nada fez, s&oacute; porque podia fazer muito pouco.&raquo; Edmund Burke
LuluB
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domingo nov 14, 2010 2:32 am

Desse Fernando Pessoa patriótico tão agoniativamente aproveitado pelo antigo regime, prefiro estes dois poemas:

Autopsicografia

O poeta é fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida que sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não tem.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.


O Menino da sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome que o mantivera:
O menino da sua mãe

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há prece:
Que volte cedo, e bem!
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

:wink:
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influencia
Membro Júnior
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Registado: terça out 12, 2010 7:51 am

segunda nov 15, 2010 5:25 pm

O Poeta dos Poetas: Jim Morrison

A Celebração Do Lagarto

LEÕES NA RUA
Leões na rua & deambulando
Cães com o cio, enfurecidos, espumando
Uma besta encurralada no coração da cidade
O corpo da sua mãe
Apodrecendo no chão veronil
Ele abandonou a cidade
Foi para o Sul
E atravessou a fronteira
Deixou o caos & a desordem
Para trás
Por cima do ombro
Uma manhã ele acordou num hotel verde
Com uma estranha criatura gemendo ao seu lado.
Suada lamacenta da sua pele brilhante.
Estão todos?
Estão todos?
Estão todos?
A cerimónia está prestes a começar.
ACORDEM

ACORDEM!
Vocês não se lembram onde foi
Terá este sonho parado?
A serpente era ouro pálido acetinada & encolhida
Tínhamos medo de tocá-la.
Os lençóis eram quentes e mortas prisões.
E ela estava a meu lado, velha,
Ele é, não; jovem.
O seu escuro cabelo ruivo.
A suave pele branca.
Agora, corre para o espelho da casa-de-banho,
Olha!
Ela vem para cá.
Não consigo viver em cada lento século do seu movimento.
Deixo a minha bochecha escorregar
O ladrilho fresco e suave
Sente o bom e frio sangue borbulhante.
Os silvos suaves, serpentes de chuva...

UM PEQUENO JOGO
Antes eu tinha um pequeno jogo
Gostava de rastejar no meu cérebro
Penso que sabes qual o jogo que me refiro
Refiro-me a um jogo chamado Enlouquecer
Agora devias tentar este pequeno jogo
Apenas fecha os olhos e esquece o teu nome
esquece o mundo, esquece as pessoas
E nós ergueremos um campanário diferente.
Este pequeno jogo é divertido de fazer.
Apenas fecha os olhos, impossível perder
E eu estou aqui, eu vou também
Liberta controlo, estamos a atravessar

OS HABITANTES DA COLINA
Bem no fundo do cérebro
Passando bem o limiar da dor
Onde nunca há nenhuma chuva
E a chuva cai suavemente sobre a cidade
E sobre as cabeças de todos nós
E no labirinto de correntes por baixo
Sossegada e celeste presença de
Nervosos habitantes do monte nos suaves montes de volta
Répteis com fartura
Fósseis, cavernas, frescas elevações de ar
Cada casa repete um molde
Janela rolou
Um carro de besta trancado contra a manhã
Todos dormem agora
Cobertores silenciosos, espelhos livres
Pó cega debaixo das camas de casais legítimos
Enrolados em lençóis
E filhas, enevoada com sémen
Olhos nos seus mamilos
Esperem! Ouve um massacre aqui
Não pares para falar ou olhar em volta
As tuas luvas e o leque estão no chão
Vamos sair da cidade
Vamos de fuga
E tu és aquela que eu quero!!!

O PALÁCIO DO EXÍLIO
Durante sete anos habitei no livre Palácio do Exílio
Jogando estranhos jogos com as raparigas da ilha
Agora estou de volta à terra dos justos
E dos fortes e dos sábios
Irmãos e irmãs da pálida floresta
Crianças da noite
Quem de entre vós fugirá com a caça?
Agora a noite chega com a sua legião púrpura
Metam-se nas vossas tendas e nos vossos sonhos
Amanhã entramos na cidade do meu nascimentoQuero estar preparado.
Vandocasmm
Membro Veterano
Mensagens: 1878
Registado: quarta fev 24, 2010 11:59 pm

sexta nov 19, 2010 2:08 pm

Quero um cavalo de várias cores

Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.

Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.

Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.

Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores? .



Reinaldo Ferreira
Poemas
Estudo de José Régio
Prefácio de Guilherme de Melo
o chão da palavra/poesia
<p class="fr">"In the end,&nbsp;I will not remember the words of my enemies, but the silence of my friends."</p>
<p class="fr">Martin Luther Ling, Jr.</p>
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