domingo nov 28, 2010 2:38 pm
Não concordo com a visão do "gato de peluche". A vida rural sem dúvida que é muito mais benéfica para os felinos, já que é semelhante à vida que levavam quando se aproximaram dos homens, há uns 5000 anos atrás mas, tal como a humanidade está cada vez mais frágil e doente, também os animais que vivem conosco nas mesmas condições se fragilizam. No campo, as taxas de mortalidade são bens maiores, e existe selecção natural: sobrevivem os mais aptos e saudáveis que, se não forem demasiado aventureiros, chegam a velhos, mas não é comum. Aliás, é por isso que não existe menopausa/andropausa na bicharada, porque é suposto terem uma vida relativamente curta. Os meus pais fartam-se de gozar comigo por andar sempre a caminho do vet, dizem que os gatos não adoecem e, se adoecem, curam-se sozinhos; talvez assim seja lá na terriola, mas também lá, se morre um gato, arranja-se outro, são vistos pela sua utilidade e não existem grandes laços afectivos. Nas cidades é bem diferente, os da rua comem comida contaminada, são sujeitos a atropelamentos e maus tratos, há demasiado cimento e, dentro de casa, a vida é o mais anti-natural possível, não só para eles, como para nós. Viver confinados e "amontoados" não é bom para nenhum ser que não seja um insecto como as abelhas ou formigas.
Tenho notado bem a diferença desde que vim viver para uma aldeola com um pinhal bem atrás de casa. Os gordos estão agora robustos e musculosos (excepto uma, que é preguiçosa e está "quadrada", gatinhos criados comigo desde bebés passo dias sem lhes pôr a vista em cima. Os problemas de saúde que tenho tido são com gatos que vieram de grandes cidades, dos canis municipais, onde contactaram com um cocktail de vírus e bactérias que ainda estão a fazer mossa, e também com as picadas de carraças, que afectam muito mais os gatos que nunca estiveram em contactos com elas antes.
É verdade que somos nós que os transformamos em "vidrinhos", mas numa cidade é difícil sobreviverem se não forem protegidos. Vivem conosco, não para caçar ratos e pássaros, que consumiriam os nossos "cereais", mas para nos fazerem companhia. A solidão urbana é terrível, mas para muitos a necessidade de contacto com a Natureza ainda prevalece e tentamos levar a natureza para dentro dos apartamentos. A Natureza adapta-se, mas tem um preço, e um preço elevado. Temos gatos que vivem felizes, cegos, pernetas, etc, que nem uma semana sobreviveriam se fossem para um meio rural; temos de os castrar/esterilizar, para não contribuirmos para as sobrepopulações de gatos, que acabam por ser exterminados quer por doenças, quer pelo ser humano, e este procedimento também não lhes faz bem nenhum.
Dizer o que é certo ou errado... a verdade muda com o tempo e os locais. Nas aldeias bem rurais não vemos persinhas, por exemplo. E vemos gatas que, aos 6, 7 anos, estão velhas e acabadas de tanto parir; o controlo da natalidade é feito de uma forma condenável e desumana, os gatinhos são afogados ou enterrados vivos, e nem sempre nos primeiros dias de vida. Gastar dinheiro em tratamentos se um animal adoece está fora de questão (deve ser por isso que "os gatos não adoecem"...) e é muito raro alguém levar um animal para dentro de casa, mesmo por doença. os gatos são vistos como seres utilitários, que nos servem, e ficam mais baratos do que veneno para os ratos. è suposto servirem para poupar uns trocos, não para gastar dinheiro.
Nas cidades, estamos sempre prontos a alimentar a máquina do consumo. gastamos rios de dinheiro em vets, em pet shops, que vivem às expensas do nosso afecto, do nosso apego e da solidão urbana que referi. É muito difícil manter o equilíbrio.
Acredito na Paciência, na Persistência, no Pai Natal e no Poder do Fiambre!