Eu já devo estar muito atrasada para o psiquiatra... porque essas coisas que contam parecem-me tão normais e quotidianas que já nem as acho relevantes! Fazendo as contas por alto, presentemente, o menor nº de gatos que anda cá por casa de modo mais ou menos permanente são 5 "indivíduas"... mas chegam a estar 20 gatos, nas noites mais frias ou quando há latinhas. E nas horas do speed, talvez fosse caso de meter uns 4 comprimidos debaixo da língua, mas a verdade é que não acontece nada de especial - ou eu já não me importo.

O pior mesmo é quando actuam em "gang" para me tentarem roubar o jantar, mas ganhei uma certa manha e costumo conseguir enganá-los de modo a fechar-me na sala para comer em paz.
Penso que quem entra aqui em casa fica um pouco catatónico - ainda por cima os grandes cuscos adoram aparecer todos quando há visitas, nem que seja a correr para se esconderem, derrubando coisas enquanto patinam pelo pavimento.
Tudo é deles. A minha cama, os sofás, as estantes, os móveis, as cadeiras. Em todo o lado há "desenhos" e pêlos ou marcas de patinhas - chegam a esperar que eu acabe de limpar o microondas, ou o lavatório do wc, ou o poliban, para lá irem deixar as suas impressões digitais. Estar sozinha na casa de banho? impossível, tem de haver sempre um - normalmente uma, a Kika (aka Kika Mamona), meiga, chata e teimosa como uma mula, que adora amassar-me os cabelos quando estou deitada e mama com sofreguidão nos casacos polares ou no pijama em qualquer circunstância.
Há dias, é verdade, em que só saio da cama porque estou pior lá. Estou a tentar lembrar-me de um dia em especial, mas a memória mistura os acontecimentos de vários dias "especiais", que são quase todos, numa casa multigatos. Primeiro, tem de haver sempre um que está doente. Um, no mínimo. Acordo com o cabelo a ser puxado e com garras no couro cabeludo. Mal abro os olhos, recebo um espirro bem ranhoso na cara, à laia de bom dia. Limpo-me ao lençol, que vai novamente para lavar e estudo a melhor forma de sair da cama sem incomodar os que ainda estão a dormir. Espreguiço-me e, qual Houdini, consigo libertar-me e sentar-me na beira da cama. Atenção: sem poisar os pés no chão, porque pode estar armadilhado! Pode haver ração espalhada, objectos diversos, o cinzeiro de borco e o seu conteúdo, o candeeiro, os telemóveis.... Ou ainda vomitado, claro. Como naquela manhã em que o Gabriel se fartou de enfardar e veio ter comigo à cama; mal disposto, começou as contracções abdominais que conduzem ao vómito, e consegui desviá-lo o suficiente para não vomitar a cama... mas o primeiro jacto acertou em cheio dentro de uma sapatilha (ponho o calçado debaixo da cama, mas não adianta, tudo o que tenha atacadores vai para o meio do quarto durante a noite), e o segundo jacto, no par daquela. Fico incrédula e demoro um bocadinho a reagir, mas lá pego nas sapatilhas e levo-as comigo para a casa de banho. Felizmente a ração está quase inteira e não custa muito a limpar. A Kika vem atrás de mim e, quando me sento para o xixi, aproveita para mamar um bocadinho no pijama. Está constipadita e atrapalha-se, tenta respirar pela boca mas o vício de mamar é mais forte, e resolve fazer uma bela descarga nasal. Tiro o pijama, coloco-o no bidé - vai para lavar - e resolvo lavar os dentes antes de tomar o duche. O espelho devolve-me uma imagem um pouco estranha: sou eu, mas parece que um micro tornado poderoso me transformou a cabeleira num emaranhado "afro". Qual cereja no topo do bolo, uma ranhoca enfeita uma madeixa.
E por aqui me fico, noutra altura contarei o momento do pequeno almoço ou da saida de casa.

Acredito na Paciência, na Persistência, no Pai Natal e no Poder do Fiambre!