Como já disse atrás, os cães comunitários, animais forçados a errar pelos centros urbanos devido ao abandono a que foram votados por alguém que não esteve para, não pôde ou não quis encarregar-se deles, não são ideia nova. Toda a vida os vi por aqui e por além, uns em melhores condições do que outros, uns mais protegidos do que outros, mas sempre os houve. As formas como são protegidos por um núcleo que se interessa por eles também varia muito, consoante as condições económicas e sociais locais.
Também em tempos defendi que esses animais deviam ser sempre recolhidos nos canis associativos, mas à medida que os fui conhecendo e contactando com associações, fui mudando de opinião. Entre manter um animal num canto de uma rua que o recebe bem, onde ele se liga às pessoas que dele tratam e que com ele convivem e onde tem liberdade, e enclausurá-lo num canil fechado ou prendê-lo à corrente num terreno qualquer porque não há dinheiro para construir canis ou comprar casotas, para já não falar de outros procedimentos, acho preferível a primeira forma. Os canis associativos devem ser, na minha opinião, o último recurso para um animal abandonado e que esteja em risco.
Perigos e riscos todos os animais correm, tenham dono ou não tenham. E para estarem nas mãos de muitos donos, mais valia a rua. Quando comunitários, correm mais alguns, é certo. As cidades não foram feitas para animais em liberdade pelas ruas - e não estou a falar dos problemas sanitários, pois estes competem a quem os cria, e não são os cães, comunitários ou não, os maiores responsáveis pela sujidade citadina. Fora e dentro de casa.
Na quase totalidade dos casos que vi e acompanhei, a protecção desses animais saldou-se sempre na sua adopção. Umas vezes foram gradualmente adoptados pelos moradores que deles cuidavam ou por outros à volta, outras foram-no por pessoas alheias à comunidade, mas por estas captadas para a adopção.
Resumindo, a realidade dos cães comunitários existe. Reconhecê-la e apoiá-la nada mais é do que "dar um reforço positivo" (Doglover, estou a meter-me consigo!

) àquilo que é feito de maneira anárquica e muitas vezes lesiva dos interesses da comunidade e do próprio animal.