O «Cantar Alentejano» e «A Morte Saiu à Rua» são sempre arrepiantes. Obrigada por no-las recordar, Marianamar.marianamar Escreveu:LuluB, não acredito como não conhecia estas Canções Heróicas. Obrigada pela partilha
Encontrei uma sobre uma heroína pessoal... Catarina de Baleizão.
http://www.youtube.com/user/tiagofiguei ... DfwdMzyrY4
Catarina
Versos de Papiniano Carlos
"Na fome verde das searas roxas
Passeava sorrindo Catarina
Passeava sorrindo Catarina
Ah!
Na fome verde das searas roxas
Ai a papoila,
Ai a papoila cresce na campina!
Ai a papoila cresce na campina!
Ah!
Na fome roxa das searas negras
Que levas, Catarina, em tua fonte?
Que levas, Catarina, em tua fonte?
Na fome roxa das searas negras
Ai devoraram,
Ai devoraram corvos o horizonte!
Ai devoraram corvos o horizonte!
Ah!
Na fome negra das searas rubras
Ai da papoila, ai de Catarina!
Ai da papoila, ai de Catarina!
Ah!
Na fome negra das searas rubras trinta balas,
Trinta balas gritaram na campina
Trinta balas
Trinta balas
Te mataram a fome"
E já agora mais uma sobre Catarina.
http://www.youtube.com/watch?v=QiHf-4fodos
Cantar Alentejano
Música e letra de José Afonso.
"Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p´ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar"
E não resisto a acompanhar os versos com a gravura do também esquecido José Dias Coelho.
E já agora... porque uma coisa puxa a outra! xD
Sobre o próprio José Dias Coelho.
http://www.youtube.com/watch?v=2yZkC3YCU20
A Morte Saiu à Rua
Música e letra de José Afonso.
"A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome para qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue de um peito aberto sai
O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o Pintor morreu
Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou
Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada hà covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação"
Poemas e poetas
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«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke
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A «fome roxa» das «searas negras», etc., fizeram-me lembrar o «leite negro» de um poema de Paul Celan (1920-1970), a «Todesfuge»:
Todesfuge
Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts
wir trinken und trinken
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden herbei
er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
Dein aschenes Haar Sulamith wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern singet und spielt
er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau
stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen
Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland
er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft
dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland
wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken
der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau
er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft
er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland
dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith
Fuga da morte
Leite negro da aurora bebemo-lo ao anoitecer
bebemo-lo ao meio-dia e de manhã bebemo-lo à noite
bebemos e bebemos
cavamos uma sepultura nos ares aonde o espaço não falta
um homem vive em casa brinca com serpentes escreve
escreve quando a noite cai na Alemanha o teu cabelo de oiro Margarida
escreve e sai de casa e brilham as estrelas e chama os cães de caça aqui aqui
apita aos seus judeus venham cá cavem uma sepultura na terra
manda que toquemos para a dança
Leite negro da aurora bebemos-te à noite
bebemos-te pela manhã e ao meio-dia bebemos-te ao anoitecer
bebemos e bebemos
um homem vive em casa brinca com serpentes escreve
escreve quando a noite cai na Alemanha o teu cabelo de oiro Margarida
o teu cabelo de cinza Sulamita cavamos uma sepultura nos ares aonde o espaço não falta
Ele grita cavem na terra bem fundo vocês aí vocês outros cantem e toquem
agarra no cano de aço à cinta e brande-o como são azuis os seus olhos
enterrem mais fundo a pá vocês aí vocês toquem para a dança
Leite negro da aurora bebemos-te à noite
bebemos-te ao meio-dia e de manhã bebemos-te ao anoitecer
bebemos e bebemos
um homem vive em casa o teu cabelo de oiro Margarida
o teu cabelo de cinza Sulamita ele brinca com serpentes
Grita toquem mais doce a Dança da Morte ela é um Senhor de Alemanha
grita toquem mais sombriamente os violinos depois hão-de subir em fumo nos ares
depois haveis de ter uma sepultura nas nuvens onde o espaço não falta
Leite negro da aurora bebemos-te à noite
bebemos-te ao meio-dia a morte é um Senhor de Alemanha
bebemos-te ao anoitecer e pela manhã bebemos e bebemos
a Morte é um Senhor de Alemanha como são azuis os seus olhos
há-de abater-te com uma chumbada abater-te com pontaria
um homem vive em casa o teu cabelo de oiro Margarida
açula contra nós os lebréus magros dá-nos sepultura nos ares
brinca com serpentes e sonha a morte é um Senhor de Alemanha
o teu cabelo de oiro Margarida
o teu cabelo de cinza Sulamita.
(Tradução de Jorge de Sena)
Todesfuge
Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts
wir trinken und trinken
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden herbei
er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
Dein aschenes Haar Sulamith wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern singet und spielt
er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau
stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen
Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland
er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft
dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng
Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland
wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken
der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau
er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft
er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland
dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith
Fuga da morte
Leite negro da aurora bebemo-lo ao anoitecer
bebemo-lo ao meio-dia e de manhã bebemo-lo à noite
bebemos e bebemos
cavamos uma sepultura nos ares aonde o espaço não falta
um homem vive em casa brinca com serpentes escreve
escreve quando a noite cai na Alemanha o teu cabelo de oiro Margarida
escreve e sai de casa e brilham as estrelas e chama os cães de caça aqui aqui
apita aos seus judeus venham cá cavem uma sepultura na terra
manda que toquemos para a dança
Leite negro da aurora bebemos-te à noite
bebemos-te pela manhã e ao meio-dia bebemos-te ao anoitecer
bebemos e bebemos
um homem vive em casa brinca com serpentes escreve
escreve quando a noite cai na Alemanha o teu cabelo de oiro Margarida
o teu cabelo de cinza Sulamita cavamos uma sepultura nos ares aonde o espaço não falta
Ele grita cavem na terra bem fundo vocês aí vocês outros cantem e toquem
agarra no cano de aço à cinta e brande-o como são azuis os seus olhos
enterrem mais fundo a pá vocês aí vocês toquem para a dança
Leite negro da aurora bebemos-te à noite
bebemos-te ao meio-dia e de manhã bebemos-te ao anoitecer
bebemos e bebemos
um homem vive em casa o teu cabelo de oiro Margarida
o teu cabelo de cinza Sulamita ele brinca com serpentes
Grita toquem mais doce a Dança da Morte ela é um Senhor de Alemanha
grita toquem mais sombriamente os violinos depois hão-de subir em fumo nos ares
depois haveis de ter uma sepultura nas nuvens onde o espaço não falta
Leite negro da aurora bebemos-te à noite
bebemos-te ao meio-dia a morte é um Senhor de Alemanha
bebemos-te ao anoitecer e pela manhã bebemos e bebemos
a Morte é um Senhor de Alemanha como são azuis os seus olhos
há-de abater-te com uma chumbada abater-te com pontaria
um homem vive em casa o teu cabelo de oiro Margarida
açula contra nós os lebréus magros dá-nos sepultura nos ares
brinca com serpentes e sonha a morte é um Senhor de Alemanha
o teu cabelo de oiro Margarida
o teu cabelo de cinza Sulamita.
(Tradução de Jorge de Sena)
«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke
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- Registado: terça fev 22, 2011 8:08 pm
Soneto XXII
Cuántas veces, amor, te amé sin verte y tal vez sin recuerdo,
sin reconocer tu mirada, sin mirarte, centaura,
en regiones contrarias, en un mediodía quemante:
eras sólo el aroma de los cereales que amo.
Tal vez te vi, te supuse al pasar levantando una copa
en Angol, a la luz de la luna de Junio,
o eras tú la cintura de aquella guitarra
que toqué en las tinieblas y sonó como el mar desmedido.
Te amé sin que yo lo supiera, y busqué tu memoria.
En las casas vacías entré con linterna a robar tu retrato.
Pero yo ya sabía cómo era. De pronto
mientras ibas conmigo te toqué y se detuvo mi vida:
frente a mis ojos estabas, reinándome, y reinas.
Como hoguera en los bosques el fuego es tu reino
Soneto XLIV
Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es un ala del silencio,
el fuego tiene una mitad de frío.
Yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía.
Te amo y no te amo como si tuviera
en mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.
Mi amor tiene dos vidas para armarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo.
Soneto XLVIII
Dos amantes dichosos hacen un solo pan,
una sola gota de luna en la hierba,
dejan andando dos sombras que se reúnen,
dejan un solo sol vacío en una cama.
De todas las verdades escogieron el día:
no se ataron con hilos sino con un aroma,
y no despedazaron la paz ni las palabras.
La dicha es una torre transparente.
El aire, el vino van con los dos amantes,
la noche les regala sus pétalos dichosos,
tienen derecho a todos los claveles.
Dos amantes dichosos no tienen fin ni muerte,
nacen y mueren muchas veces mientras viven,
tienen la eternidad de la naturaleza.
Pablo Neruda - in Cien Sonetos de Amor
Cuántas veces, amor, te amé sin verte y tal vez sin recuerdo,
sin reconocer tu mirada, sin mirarte, centaura,
en regiones contrarias, en un mediodía quemante:
eras sólo el aroma de los cereales que amo.
Tal vez te vi, te supuse al pasar levantando una copa
en Angol, a la luz de la luna de Junio,
o eras tú la cintura de aquella guitarra
que toqué en las tinieblas y sonó como el mar desmedido.
Te amé sin que yo lo supiera, y busqué tu memoria.
En las casas vacías entré con linterna a robar tu retrato.
Pero yo ya sabía cómo era. De pronto
mientras ibas conmigo te toqué y se detuvo mi vida:
frente a mis ojos estabas, reinándome, y reinas.
Como hoguera en los bosques el fuego es tu reino
Soneto XLIV
Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es un ala del silencio,
el fuego tiene una mitad de frío.
Yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía.
Te amo y no te amo como si tuviera
en mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.
Mi amor tiene dos vidas para armarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo.
Soneto XLVIII
Dos amantes dichosos hacen un solo pan,
una sola gota de luna en la hierba,
dejan andando dos sombras que se reúnen,
dejan un solo sol vacío en una cama.
De todas las verdades escogieron el día:
no se ataron con hilos sino con un aroma,
y no despedazaron la paz ni las palabras.
La dicha es una torre transparente.
El aire, el vino van con los dos amantes,
la noche les regala sus pétalos dichosos,
tienen derecho a todos los claveles.
Dos amantes dichosos no tienen fin ni muerte,
nacen y mueren muchas veces mientras viven,
tienen la eternidad de la naturaleza.
Pablo Neruda - in Cien Sonetos de Amor
An ye harm none, do what ye will
O grande Neruda... Obrigada, Netherwing!
E pago-lhe com um poema da nossa não menos grande (embora diferente) Sophia:
Os dias de verão
Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo
Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo
O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem
Como se em tudo aflorasse eternidade
Justa é a forma do nosso corpo
Sophia de Mello Breyner Andresen

E pago-lhe com um poema da nossa não menos grande (embora diferente) Sophia:
Os dias de verão
Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo
Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo
O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem
Como se em tudo aflorasse eternidade
Justa é a forma do nosso corpo
Sophia de Mello Breyner Andresen
<p>Olá, eu sou a Bronkas de outros fóruns e aqui já fui a LucNun.
</p>
<p> </p>
<p><strong>Cada vez me convenço mais que há pessoas que têm o intestino ligado à testa.</strong> - "By" alguém que tem ambas as coisas no seu devido lugar.
</p>

<p> </p>
<p><strong>Cada vez me convenço mais que há pessoas que têm o intestino ligado à testa.</strong> - "By" alguém que tem ambas as coisas no seu devido lugar.

-
- Membro Veterano
- Mensagens: 1695
- Registado: terça fev 22, 2011 8:08 pm
Lulu adorei 
e trouxe-me à lembrança este:
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Obra Poética”
Bom fim de semana para todos!

e trouxe-me à lembrança este:
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Obra Poética”
Bom fim de semana para todos!

An ye harm none, do what ye will
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- Registado: domingo mai 10, 2009 7:37 pm
Não sei se já alguém postou este poema:
Narciso de José Régio:
Narciso
Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço...
Ah, que terrível face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!
Ó boca tumular, cerrada e fria,
Cujo silêncio esfíngico bem ouço!
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!
Assim me desejei nestas imagens.
Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:
Que eu vivo à espera dessa noite estranha,
Noite de amor em que me goze e tenha,
...Lá no fundo do poço em que me espelho!
José Régio, in 'Biografia'
Narciso de José Régio:
Narciso
Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço...
Ah, que terrível face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!
Ó boca tumular, cerrada e fria,
Cujo silêncio esfíngico bem ouço!
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!
Assim me desejei nestas imagens.
Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:
Que eu vivo à espera dessa noite estranha,
Noite de amor em que me goze e tenha,
...Lá no fundo do poço em que me espelho!
José Régio, in 'Biografia'
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- Membro Veterano
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- Registado: terça fev 22, 2011 8:08 pm
Somente por ouvir
o sino da Vela
pus em ti uma coroa de verbena.
Granada era uma lua
afogada entre as heras.
Somente por ouvir
o sino da Vela
destrocei meu jardim de Cartagena.
Granada era uma corça
rosada pelos cataventos.
Somente por ouvir
o sino da Vela
me abrasava em teu corpo
sem saber de quem era.
Federico García Lorca, in 'Divã do Tamarit'
Tradução de Oscar Mendes
o sino da Vela
pus em ti uma coroa de verbena.
Granada era uma lua
afogada entre as heras.
Somente por ouvir
o sino da Vela
destrocei meu jardim de Cartagena.
Granada era uma corça
rosada pelos cataventos.
Somente por ouvir
o sino da Vela
me abrasava em teu corpo
sem saber de quem era.
Federico García Lorca, in 'Divã do Tamarit'
Tradução de Oscar Mendes
An ye harm none, do what ye will
Aviso à navegação
Alto aí!
Aviso à navegação!
eu não morri:
Estou aqui
na ilha sem nome,
sem latitude nem longitude,
perdida nos mapas,
perdida no mar Tenebroso!
Sim, eu,
o perigo para a navegação!
o dos saques e das abordagens,
o capitão da fragata
cem vezes torpedeada,
cem vezes afundada,
mas sempre ressuscitada!
Eu que aportei
com os porões inundados,
as torres desmoronadas,
os mastros e os lemes quebrados
- mas aportei!
e não espereis de mim a paz...
Aviso à navegação!
Não espereis de mim a paz!
Que quanto mais me afundo
maior é a minha ânsia de salvar-me!
Que quanto mais um golpe me decepa
maior é a minha ânsia de luar!
Não espereis de mim a paz!
Que na guerra
só conheço dois destinos
ou vencer - ai dos vencidos!
ou morrer sob os escombros
da luta que alevantei!
- (foi jeito que me ficou,
não me sei desinteressar
do jogo que me jogar.)
Não espereis de mim a paz.
aviso á navegação!
Não espereis de mim a paz
que vos não sei perdoar!
Joaquim Namorado
Alto aí!
Aviso à navegação!
eu não morri:
Estou aqui
na ilha sem nome,
sem latitude nem longitude,
perdida nos mapas,
perdida no mar Tenebroso!
Sim, eu,
o perigo para a navegação!
o dos saques e das abordagens,
o capitão da fragata
cem vezes torpedeada,
cem vezes afundada,
mas sempre ressuscitada!
Eu que aportei
com os porões inundados,
as torres desmoronadas,
os mastros e os lemes quebrados
- mas aportei!
e não espereis de mim a paz...
Aviso à navegação!
Não espereis de mim a paz!
Que quanto mais me afundo
maior é a minha ânsia de salvar-me!
Que quanto mais um golpe me decepa
maior é a minha ânsia de luar!
Não espereis de mim a paz!
Que na guerra
só conheço dois destinos
ou vencer - ai dos vencidos!
ou morrer sob os escombros
da luta que alevantei!
- (foi jeito que me ficou,
não me sei desinteressar
do jogo que me jogar.)
Não espereis de mim a paz.
aviso á navegação!
Não espereis de mim a paz
que vos não sei perdoar!
Joaquim Namorado
<p>Olá, eu sou a Bronkas de outros fóruns e aqui já fui a LucNun.
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<p><strong>Cada vez me convenço mais que há pessoas que têm o intestino ligado à testa.</strong> - "By" alguém que tem ambas as coisas no seu devido lugar.
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<p><strong>Cada vez me convenço mais que há pessoas que têm o intestino ligado à testa.</strong> - "By" alguém que tem ambas as coisas no seu devido lugar.

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- Membro Veterano
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- Registado: quarta set 28, 2011 11:19 pm
-
- Membro Veterano
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- Registado: quarta set 28, 2011 11:19 pm
http://www.youtube.com/watch?v=BDBXVbxXX80
A letra é bonita. E o amor pelo país faz falta nestes tempos conturbados.O reto..não...
A letra é bonita. E o amor pelo país faz falta nestes tempos conturbados.O reto..não...
-
- Membro Veterano
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- Registado: terça fev 22, 2011 8:08 pm
Ao diabo com a politica
Life is good!
---------------------
Are we in trouble now
It wasn't just the music
It wasn't just the wine
Some other kind of magic
Was sending up my spine
Then I was falling
And I fell for you, and how
Darling, are we in trouble now
They say we're grown up
But we've been searching all this time
I wouldn't own up
Never would admit to flying blind
But in the Darkness
We found each other anyhow
Darling, are we in trouble now
When we'd talk it over
Love was a cry from a distant shore
Then we found each other
And all that we'd been searching for
And I'm done denying
I guess by now you know
I'm through with trying
Can't bring myself to let you go
And of all these feelings
We said we never would allow
Darling, are we in trouble now?!
Mark Knopfler - " a fazer magia desde 1919"

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Are we in trouble now
It wasn't just the music
It wasn't just the wine
Some other kind of magic
Was sending up my spine
Then I was falling
And I fell for you, and how
Darling, are we in trouble now
They say we're grown up
But we've been searching all this time
I wouldn't own up
Never would admit to flying blind
But in the Darkness
We found each other anyhow
Darling, are we in trouble now
When we'd talk it over
Love was a cry from a distant shore
Then we found each other
And all that we'd been searching for
And I'm done denying
I guess by now you know
I'm through with trying
Can't bring myself to let you go
And of all these feelings
We said we never would allow
Darling, are we in trouble now?!
Mark Knopfler - " a fazer magia desde 1919"
An ye harm none, do what ye will
Poucos tradutores têm unhas para traduzir poesia, o que é pena, pois nem todos os afortunados sabem inglês (ou francês, ou outra língua qualquer).
Por isso, mantenho-me nos portugueses, como este Alexandre O'Neill, grande poeta mas uma personalidade execrável:
A história da moral
Você tem-me cavalgado
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.
A força do hálito
A força do hálito é como o que tem que ser.
E o que tem que ser tem muita força.
Vai (ou vem) um sujeito, abre a boca e eis que a gente,
que no fundo é sempre a mesma,
desmonta a tenda e vai halitar-se para outro lado,
que no fundo é sempre o mesmo.
Sovacos pompeando vinagres e bafios,
não são nada -- bah... -- em comparação
com certos hálitos que até parece que sobem do coração.
"Ai onde transpira agora
o bom sovaco de outrora!"
Virilhas colaborando com parentesis ou cedilhas
são autênticas (e sem hálito) maravirilhas.
Quando muito alguns pingos nos refegos, nas braguilhas,
amoniacal bafor que suporta sem dor
aquele que está ao rés de tal teor.
Mas o mau hálito é pior que a palavra
sobretudo se não for da tua lavra.
Da malvada, da cárie ou, meudeus, do infinito,
o mau hálito é sempre, na narina,
como o baudelaireano, desesperado grito
da "charogne" que apodrecer não queria.
A leitura (brechtiana)
Não te deixes enrolar!
És tu quem tem de pagar...
Põe o dedo em cada letra.
Pergunta: - Porque estáqui?
Albertina
ou O insecto-insulto ou O quotidiano recebido como mosca
O poeta está
só, completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstracção, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto que seja de beleza.
Mas o poeta
é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
Que tantas vezes arrastou pelos cabelos...
*
A mosca Albertina,
que ele domesticava,
Vem agora ao papel, com um insecto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava...
Quase mulher
e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali...
- Albertina!, deixa-me
em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!
- Albertina!, eu
quero um verso que não há!...
*
Conjugal, provocante, moreno
e azulado,
O insecto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora com um insulto alado.
E o poeta
sai de chofre, por uns tempos desalmado...
Por isso, mantenho-me nos portugueses, como este Alexandre O'Neill, grande poeta mas uma personalidade execrável:
A história da moral
Você tem-me cavalgado
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.
A força do hálito
A força do hálito é como o que tem que ser.
E o que tem que ser tem muita força.
Vai (ou vem) um sujeito, abre a boca e eis que a gente,
que no fundo é sempre a mesma,
desmonta a tenda e vai halitar-se para outro lado,
que no fundo é sempre o mesmo.
Sovacos pompeando vinagres e bafios,
não são nada -- bah... -- em comparação
com certos hálitos que até parece que sobem do coração.
"Ai onde transpira agora
o bom sovaco de outrora!"
Virilhas colaborando com parentesis ou cedilhas
são autênticas (e sem hálito) maravirilhas.
Quando muito alguns pingos nos refegos, nas braguilhas,
amoniacal bafor que suporta sem dor
aquele que está ao rés de tal teor.
Mas o mau hálito é pior que a palavra
sobretudo se não for da tua lavra.
Da malvada, da cárie ou, meudeus, do infinito,
o mau hálito é sempre, na narina,
como o baudelaireano, desesperado grito
da "charogne" que apodrecer não queria.
A leitura (brechtiana)
Não te deixes enrolar!
És tu quem tem de pagar...
Põe o dedo em cada letra.
Pergunta: - Porque estáqui?
Albertina
ou O insecto-insulto ou O quotidiano recebido como mosca
O poeta está
só, completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstracção, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto que seja de beleza.
Mas o poeta
é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
Que tantas vezes arrastou pelos cabelos...
*
A mosca Albertina,
que ele domesticava,
Vem agora ao papel, com um insecto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava...
Quase mulher
e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali...
- Albertina!, deixa-me
em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!
- Albertina!, eu
quero um verso que não há!...
*
Conjugal, provocante, moreno
e azulado,
O insecto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora com um insulto alado.
E o poeta
sai de chofre, por uns tempos desalmado...
<p>Olá, eu sou a Bronkas de outros fóruns e aqui já fui a LucNun.
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<p><strong>Cada vez me convenço mais que há pessoas que têm o intestino ligado à testa.</strong> - "By" alguém que tem ambas as coisas no seu devido lugar.
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<p><strong>Cada vez me convenço mais que há pessoas que têm o intestino ligado à testa.</strong> - "By" alguém que tem ambas as coisas no seu devido lugar.

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- Membro Veterano
- Mensagens: 3632
- Registado: segunda abr 13, 2009 2:14 am
Fala do Homem nascido
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
Minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar
António Gedeão
Musicada por Adriano Correia de Oliveira: http://www.youtube.com/watch?v=a-XMuSaX ... re=related
E cantada numa versão dançante pelos Pé na Terra: http://www.youtube.com/watch?v=MMIB9ZRo9_I
Belíssimo...
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
Minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar
António Gedeão
Musicada por Adriano Correia de Oliveira: http://www.youtube.com/watch?v=a-XMuSaX ... re=related
E cantada numa versão dançante pelos Pé na Terra: http://www.youtube.com/watch?v=MMIB9ZRo9_I
Belíssimo...
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- Membro Veterano
- Mensagens: 1695
- Registado: terça fev 22, 2011 8:08 pm
a primeira poderá ser sintomatologia da segunda...LuluB Escreveu:Poucos tradutores têm unhas para traduzir poesia, o que é pena, pois nem todos os afortunados sabem inglês (ou francês, ou outra língua qualquer).
Por isso, mantenho-me nos portugueses, como este Alexandre O'Neill, grande poeta mas uma personalidade execrável:
concordo com o primeiro paragrafo, exceptuando o facto de não lamentar, visto que nestas coisas "muito ajuda quem não estorva" e para assassinar os textos antes estar quieto!!!
Última edição por Netherwing em terça nov 29, 2011 1:00 pm, editado 1 vez no total.
An ye harm none, do what ye will
Escrito noutros tempos e noutra época, este poema continua a ser oportuno...
Esta Gente
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner
Esta Gente
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner
<p>Olá, eu sou a... Floripes.
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<p><strong>É muito bom, mesmo na necessidade, manter a cabeça erguida.</strong> - "By" Sasquatch, acrescento de vírgulas meu.</p>

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<p><strong>É muito bom, mesmo na necessidade, manter a cabeça erguida.</strong> - "By" Sasquatch, acrescento de vírgulas meu.</p>