Torre dos Tombos

Conversas sobre outras temáticas e o que não se enquadrar em nenhuma outra secção.
LuMaria
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quinta set 08, 2011 8:28 am

Eu pergunto-me como interpreta a vida este rapaz. Será que percebe quando lê um rótulo? Uma noticia de jornal? Que entende ele quando lê a bula de um medicamento? Que se passa com o cérebro das pessoas? Eu posso pedir ao computador para ele corrigir os meus erros, mas não posso pedir-lhe que me explique o que estou a ler. Esta incapacidade de interpretação é grave. Prejudica todo o percurso de vida de quem a tem. A maioria das pessoas, pura e simplesmente não capta o sentido do que está a ler.

Agora que o texto tem piada? Ah pois tem :lol:
<p> At&eacute; Sempre... A quest&atilde;o n&atilde;o &eacute;, eles pensam? Ou, eles falam? A quest&atilde;o &eacute;, eles sofrem!&nbsp;</p>
<p>Tourada n&atilde;o &eacute; tradi&ccedil;&atilde;o, &eacute; crueldade- Assine aqui, divulgue e ajude a acabar com esta viol&ecirc;ncia</p>
perapado
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quinta set 08, 2011 9:38 am

Netherwing Escreveu:Se o catraio fosse menos ingénuo e escrevesse sem erros era um génio!

Humor nonsense da melhor qualidade!!

Imaginem o texto sem falhas, a deixar transparecer a ironia ... absolutamente genial!!! :lol: :lol:

Ai que linha ténue divide uns e "uns"... brilhante.

Também acho! :lol: Embora aqui não se trate de ironia ou de genialidade :|
colette
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quinta set 08, 2011 2:17 pm

Pois, riam-se. Riam-se muito.
Não há nada mais hilariante do que a ignorância. Esta ignorância de alguem que tem 9 anos de escolaridade, não do pobre aldeão que nunca foi à escola, porque os pais não deixaram, mas que, mesmo assim, é capaz de compreender a diferença entre um papel e outro papel. Riam-se que este é um país de anedotas. Da Cara Alegre e do Mundo Ri.
Lamento muito não me conseguir rir. Apenas me sinto tão indignada, tão irada, que nem consigo consigo expressar-me. Não choro, porque não sou de chorar nem nas tragédias de fazer levantar e chorar as pedras de calçadas, aquelas pesadas da calçada à portuguesa, de estrelinhas nos céus, portões de arco-iris a franquearem-se como se tivessem automatismos e outras coisas lamechas e sentimentais.

Tinha uma tia que era analfabeta. Não sabia ler, mas era um génio a aritmética e ninguém a enganava em contas. Isto não era nada de estranho. Havia muita gente assim. Sabia soletrar as gordas num jornal, assinava o nome nos documentos necessários com grande esforço e tinha uma sede inesgotável de aprender. Nunca tinha frequentado a escola, porque, como mulher e a mais velha dos irmãos, tinha tido que ficar em casa para tomar conta deles, que eram muito machos, mesmo sendo uma menina pequena. Mais tarde, depois de casada, felizmente com um homem de excepção, como não sabia ler, pedia ao marido e aos sobrinhos (não teve filhos) que lhe lessem livros em voz alta. Do Zola, de Dumas, etc. Lembro-me de lhe ler, por volta dos meus 7 anos, já o marido tinha morrido com os rins destruídos por ter sido gaseado na I Grande Guerra, e ela se vestia de crepes da cabeça aos pés com véu e tudo, que nunca largou durante os trinta anos seguintes, Os Miseráveis, em português antigo com phs nas palavras que agora começam por "f", zês, em vez de ésses, e duas laudas na mesma página para aproveitar ao máximo o papel que, nesses recuados tempos, era um bem precioso. Devo ter ficado com algum trauma após tal proeza (nem devia perceber o que estava a ler, todas aquelas vicissitudes e misérias do Jean Valjean, nem me recordo se consegui levar a tarefa a bom termo), porque só voltei a ler Os Miseráveis, bastante mais tarde, em fascículos de banda desenhada, para atenuar o choque. Com bonecos era mais fácil. Tenho cá o livro, mas nem me atrevo.
Era uma mulher com ânsia de aprender, e é aí que quero chegar.
Não sabia, mas queria saber. Agora, não sabem nem querem saber.
Sentem-se supinamente felizes por não distinguir os "papeis". E um dia destes, mas. felizmente, já cá não estarei, talvez sejam os Primeiros Ministros de Portugal. Se os que temos agora são o que são, nem quero imaginar o que serão os próximos, que não sabem destrinçar um papel de outro.
<p>Au d&eacute;but, Dieu cr&eacute;a l'homme. Mais en le voyant si faible, il lui fit don du chien. (Toussenel)</p>
LuMaria
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quinta set 08, 2011 5:16 pm

Mas as piadas nascem sempre de situações menos felizes. Por isso é que as pessoas se riem. Ninguém se ri de coisas bonitas, perfeitas e correctas. Quanto mais absurdo, mais divertido.
<p> At&eacute; Sempre... A quest&atilde;o n&atilde;o &eacute;, eles pensam? Ou, eles falam? A quest&atilde;o &eacute;, eles sofrem!&nbsp;</p>
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colette
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quinta set 08, 2011 5:36 pm

Pois. Estamos a falar do futuro desta terra. Não que eu seja daquelas pessoas que pensam que agora é tudo mau e que no meu tempo é que era bom. Não sei o que é que os pais deste menino lhe fizeram quando ele lhes mostrou esta obra-prima. Nada, presumo.
Se, no nono ano de escolaridade, um dos meus filhos, qualquer deles, me apresentasse tal joia literária, de certeza que, com a vergonha, eu pintaria a minha cara de preto (como se dizia antes, sem quaisquer conotações racistas) e far-lhes-ia sentir o meu desapontamento.

Se, por minha vez, tivesse sido eu a escrevê-la no meu nono ano de escolaridade, não tenho dúvidas do que a minha mãe me faria. Mesmo com 15 anos não escaparia sem uns tabefes bem aplicados, que era a maneira que os pais dessa altura tinham de manifestar a mesmissima desilusão. Gerações diferentes, métodos diferentes. Mas tanto num caso como no outro, antes do castigo dos pais teria, sem dúvida sentido a mão pesada e disciplinadora do professor.
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Bondage2010
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quinta set 08, 2011 5:49 pm

Mas não é estranho ter chegado ao 9º ano???
perapado
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quinta set 08, 2011 5:54 pm

Também pode ter uma deficiência mental qualquer e transitar de ano mais por "piedade" do que por outra coisa... Sabe-se lá! :|
LuMaria
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quinta set 08, 2011 6:01 pm

perapado Escreveu:Também pode ter uma deficiência mental qualquer e transitar de ano mais por "piedade" do que por outra coisa... Sabe-se lá! :|
E pode ser um mestre em carpintaria. Um colosso em mecânica. Um milagreiro em electricidade, um calceteiro artista, um sapateiro dedicado. Há tanto para além.
É bom é que não venha para a arca, trocar tudo o que nós, mal ou bem, escrevemos :lol:
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colette
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quinta set 08, 2011 6:14 pm

Por mim, pode vir à vontade.
Não me faz qualquer diferença.
Assim como assim, este forum já está bastante mau.
Pior é quase impossível.
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Acena
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quinta set 08, 2011 6:18 pm

perapado Escreveu:Também pode ter uma deficiência mental qualquer e transitar de ano mais por "piedade" do que por outra coisa... Sabe-se lá! :|
Não seria por piedade, mas sim porque adaptam o plano de estudos às capacidades do aluno, o que nesses casos (de grandes dificuldades de aprendizagem) é compreensível.

Mas os professores são desincentivados a chumbar os alunos (por vezes são mesmo proibidos), como se as reprovações fossem alguma ofensa grave aos meninos que os traumatiza para o resto das vidas.
Chamarrita
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quinta set 08, 2011 6:19 pm

Não, perapado, se tivesse alguma deficiência mental e fosse considerado NEEP (necessidades educativas especiais permanentes), não lhe teria sido pedida uma opinião sobre o papel da escola, sobretudo num texto correcto e bem estruturado. A estes alunos não lhes é exigido tal, e o currículo é diferente, a grande maioria nem frequenta as aulas de disciplinas "de estudo" com a turma (não me perguntem como é que o mesmíssimo aluno consegue compreender o que lhe é pedido numa aula de educação física, educação visual ou outra). Muitos destes alunos nem sequer sabem ler e escrever.

Mas há TODOS os outros que, por não terem deficiências muito acentuadas e visíveis, frequentam o currículo "normal". Por que a escola é, que maravilha, inclusiva e a escolaridade é obrigatória até aos 18 anos. E quando um aluno não dá mais que aquilo, por muito que sejam feitas cotações diferentes, testes adaptados, todas as estratégias que o professor tem de encontrar para que o aluno apresente resultados de acordo com as competências mínimas a desenvolver. não adianta estar 2 ou 3 anos seguidos no mesmo ano de escolaridade. É passado por exaustão.

Há muito que aqui (e na escola) se debate este assunto. Uns porque não podem, outros porque não querem, mas cada vez é exigido menos esforço ao aluno. Um cérebro não exercitado, por muito potencial que tenha, atrofia. Estamos a formar atrasados mentais, sem capacidade crítica. O que importa é conservá-los na escola até serem maiores de idade, atingindo as "metas de aprendizagem" e as "taxas de sucesso". Não importa que não tenham conhecimentos, importa que tenham bons resultados nos exames de lingua portuguesa e matemática, para os "rankings". É o Reino da Quantidade. Programas extensos em que tudo é abordado pela rama, sem possibilidade de consolidação, e tudo o resto que já antes foi falado.

Estes meninos que não entram na categoria de NEEP são "encaminhados" para cursos de educação e formação, cursos profissionais e turmas de currículo alternativo. Quanto menos pensarem e souberem, melhor a aptidão para escravos ou futuros desempregados. Infelizmente, este texto não é assim tão excepcional e talvez seja por isso que os professores são a classe mais frustrada e desencantada do país...
Acredito na Paci&ecirc;ncia, na Persist&ecirc;ncia, no Pai Natal e no Poder do Fiambre!
Netherwing
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quinta set 08, 2011 6:25 pm

É só um rapaz sem talento para os estudos.


Conheço um assim, que também não o tinha, mas tinha ganas de ser gente.

Não quis nada com a escola e foi trabalhar para desgosto dos pais coitados... hoje é um empresário que ainda suja muito as mãos mas adora o que faz na vida. Tem talento genuino para a area de negocio dele e é um homem conhecido e respeitado.

A empresa dele sustenta algumas familias e é das pessoas mais uteis e produtivas que conheço. Tem uma inteligencia acima da media, apenas não vocacionada para a area académica.

Continua sem ter jeito para alinhavar duas frases escritas.

A irmã dele é uma lírica que só lhe dá dores de cabeça, foram criados do mesmo jeito mas cada um tinha o seu rumo a seguir.
Nada teve que ver com interesse ou acompanhamento dos pais, é a vocação de cada um!

Houvessem mais como ele!
Muitos e muitos mais :D
An&nbsp;ye harm none, do what ye will
colette
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quinta set 08, 2011 6:32 pm

Não ter jeito para alinhavar frases escritas, é uma coisa. Não temos que ser todos Eças nem Lobos Antunes ( e este último é perito em as desalinhavar).
Não perceber o que está escrito é totalmente diferente.

Porque o rapaz até podia ter dito:

Não sei, nem quero saber qual é o papel que a escola tem na formação de um cidadão. Na minha formação não tem papel nenhum, porque o que eu quero ser quando for grande é mecânico de automóveis e para isso do que preciso é de ter as unhas cortadas rentes para não andarem sempre todas emporcalhadas de óleo.
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Netherwing
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quinta set 08, 2011 6:44 pm

colette Escreveu:Não ter jeito para alinhavar frases escritas, é uma coisa. Não temos que ser todos Eças nem Lobos Antunes ( e este último é perito em as desalinhavar).
Não perceber o que está escrito é totalmente diferente.

Olá Colette :)

Eu percebo, estava só a ilustrar baseada naquilo que conheço dentro desta "estirpe" :D

O meu irmão escreveria algo assim aos quinze anitos :lol: :lol: garantidamente sim!

Não é falta de inteligencia, é falta de interesse pura, não estar focado na escola! Com ele foi assim.

Depois mudou tudo e concentrou-se no trabalho, tem uma capacidade de trabalho surreal e é mesmo um homem altamente articulado em tudo.

Aos quinze anos ainda está tudo em aberto... ou sou eu que não me canso de ser optimista :D

Curiosamente ele gaba-me até ao infinito e eu a ele... talvez porque nos completamos como irmãos.


Enfim... este topico fez-me recuar no tempo e eu gosto de finais felizes! Espero que o autor do texto seja um deles, de verdade!
An&nbsp;ye harm none, do what ye will
LuMaria
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quinta set 08, 2011 6:46 pm

Alguma incapacidade cerebral está associada. Uma conexão que não se formou ou não se expandiu para outras. Há uma utilizadora da arca com boa expressão escrita mas que interpreta as palavras dos restantes de forma totalmente absurda. Falhou qualquer ligação na capacidade de comunicação. Penso que hajam falhas fisicas. Aliás, resume-se sempre a uma má formação fisica. Não escolhemos o cérebro com que "nassemos", nem as orelhas, quanto mais.
<p> At&eacute; Sempre... A quest&atilde;o n&atilde;o &eacute;, eles pensam? Ou, eles falam? A quest&atilde;o &eacute;, eles sofrem!&nbsp;</p>
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