Tassebem Escreveu:Para a degradação crescente a que assistimos da língua portuguesa contribui a utilização de palavras ou expressões em língua estrangeira(hoje em dia, quase sempre em inglês).
Pode haver uma ou outra palavra/expressão que não tenha uma tradução capaz em português, e nesse caso justifica-se, mas nos outros...?
E porque é que se faz isso? Por tique? Por afectação? Para tornar o discurso menos inteligível ao comum dos mortais portugueses?
Eu sei que às vezes pode ocorrer-nos mais depressa uma palavra/expressão estrangeira e, por comodismo ou pressa, utilizamo-la, mas fazer disso um hábito... serve para quê?
Depois de andar às voltas "pra cima dum quarto de hora" com a questão, eis que só me ocorre o óbvio.
É, creio,a sintomatologia mais evidente da globalização.
Cada caso é um caso, mas no geral tudo converge para a globalização.
Por tique seria algo restrito a um pequeno universo de pessoas, por afectaçao... ocorrem-me dois ou três idiomas muitissimo mais exuberantes para o show off ( poing!! aka exibicionismo ) do que o Inglês.
Para tornar o discurso opaco?! Não me parece, o contexto em que as expressoes surgem são quase sempre informais. Se são usadas num contexto profissional, académico, comercial... bom aí serão expressões especificas da area trabalhada e o objectivo nunca será tornar a compreensão dificil, antes pelo contrario.
Por pressa ou comodismo? Por comodismo talvez, por efeito da globalização garantidamente.
Depois há aquele aspecto de saber que a expressão X corresponde a Y, mas ser incapaz de verter por palavras, então usa-se a expressão na lingua original.
Fazer disso um hábito para que serve?
Bom, a partir do momento em que começa a ser algo mecanico, quase instintivo, já não tem que ter propósito algum. Passa a ser algo natural, o mecanismo da fala tem essa particularidade.
Há medida que nos tornamos mais fluentes vamos diminuindo o tempo de análise das palavras a usar em determinado cenário. Guardamos memorias de experiencias anteriores em que usamos determinada terminologia e as coisas começam a passar-me a um nivel sub consciente quase.
Uma criança de seis anos demora X tempo a elaborar uma frase, pensa nas palavras a aplicar, hesita, recua, avança... é um processo mental que depois de atingir a sua maturidade, tende a ser cada vez mais célere.
Este processo não conhece barreiras, ou seja, funciona assim para qualquer idioma que se domine. Quando mais se usa, mais se quer usar e mais confortavel nos sentimos no seu uso.
Motivo pelo qual ,todos conhecemos emigrantes que depois de três meses a trabalhar em XPTO De La Réve, metem palavras "afrancesadas" a torto e a direito no meio de tudo que se consiga verbalizar!
A gente ri-se e tende a achar pindérico ( e é!! ) mas tem outra explicação... uma explicação ao nivel cerebral do funcionamento do mecanismo da fala.
É por isso que se ouvem coisas de arrepiar os cabelos como:
"Fui à pobela levar o lixo" e verbos fabulosos como "arrétar".
O uso de expressões estrangeiras, bem contextualizadas e na sua forma correcta e de maneira despretenciosa pode ser uma ferramenta interessante e muito util.
Antes isso do que meter um idioma inteiro numa malga da sopa, dar-lhe dois socos valentes, deixá-lo irreconhecivel até para a própria mãe e depois dizer coisas como : " O motorista não arrétou e tinha que arrétar! Bien sur!! "
Penso que os idiomas existem e existem para serem utilizados... e isso é bonito e é fascinante e não alcanço porque possa ser visto como exibicionismo. É só fala, it's only natural!
