
04-04-2002 A 02-03-2012
Querido Lourenço fez uma semana que atravessaste a ponte do Arco Iris, contigo levaste mais um pedacinho de nós. A dor está a ser muito profunda para todos, embora cada um a expresse de forma diferente. Eu não consigo conter as lágrimas, sinto-me bem a falar de ti nem que seja para mim mesma, dou comigo a fazer algo que nunca tinha feito em situações anteriores, desde aquele dia que vejo e revejo as tuas fotos e pequenos filmes, olhar para os teus olhinhos calmos e tranquilos traz-me alguma paz tal como acontecia antes, sempre me ajudaste a ultrapassar momentos maus da vida, passámos juntos por alguns bem difíceis ao longo destes quase dez anos, foste um grande amigo e companheiro.
Acredito que não estás só, além de outros amiguinhos já encontraste o Kikinho, ele foi há dois meses e meio quem sabe para preparar a tua chegada, ele gostava tanto de estar pertinho de vocês, bem…e a Pitinha se enquanto esteve aqui connosco disputou com a Diana ser a tua mamã, agora tendo-te só para ela, imagino-a a proteger-te como só uma mãe sabe fazer. Vejo-te junto deles com a tua linda e longa cauda muito erguida, com aquela pontinha branca que lhe dá tanta graça, que mais parece uma luzinha…
Eras tão bebé quando chegaste a casa, tinhas só mês e meio, mas já sabias tão bem o que querias. Encontravas-te na montra de uma loja, chamou-nos a atenção a forma como de pé raspavas no vidro com as patinhas dianteiras, pedias a uma criança que olhava para ti para te tirar dali, ela bem queria mas o pai disse não e afastou-a. Tu não desististe, subiste para cima de um companheiro que dormia e raspaste e miaste para nós a implorar “tirem-me daqui”. Tive tanta pena, estavas só com o outro gatinho sem qualquer conforto. O teu novo dono não queria mas convenci-o a entrar para te resgatar. Quando te pegámos ficaste tranquilo, colocaram-te numa caixinha minúscula, pagámos e viemos para casa.
Após a tua chegada começaste com diarreia, nem te dava tempo para chegar ao caixotinho que já sabias utilizar. À noite eu regressava a casa e encontrava tudo num caus incluindo tu que tinhas de ser todo lavado. Foste tratado e curado. Apresentámos-te às duas residentes a Pita e a Diana que apesar de nunca terem tido bebés prontamente te adoptaram como filhote. Mais tarde, leva-me a crer que por ciúmes de ti elas começaram a desentender-se, tu sempre fiel a ti mesmo e ao teu bom caracter não te metias em confusões mas sempre curioso assistias de longe e até parecia divertires-te com as resmunguices delas, continuaste a fazer isso ao longo da tua vidinha com os companheiros que foram entretanto chegando.
Foste um gatinho calmo, brincalhão, curioso mas claro que do pacote faziam parte algumas diabruras, foste o único a arranhar os sofás, a trepar os cortinados, a roer as travessas das cadeiras e tudo o que fosse madeira tal como um verdadeiro cão, felizmente estes comportamentos passaram quando cresceste.
Tinhas uma paranóia com os plásticos que adoravas lamber, abrias as portas de correr do roupeiro e puxavas tudo para fora quer de gavetas (onde gostavas de te meter) quer das prateleiras, estes dois vícios mantiveram-se até agora e não fazes ideia a falta que me faz continuar a encontrar a roupa no chão.
Eras tão especial, na forma como pedias algo para comer, brincar ou até para abrir uma porta (sempre detestaste portas fechadas), as tuas expressões de “vá lá despacha-te”…as tuas vocalizações tão diferentes, era como se estivesse mais do que um gato a miar, “falavas” conforme o que querias, as cabeçadinhas que davas para eu ir buscar uma latinha passando depois o teu focinhito por ela como que a dizer “é minha”. Quando havia alguma coisa de que gostavas ou querias, com a tua patinha puxavas o meu braço para te dar….Bem… haveria tanto para falar de ti meu amor….
Foste um gatinho saudável até há quase oito meses atrás. Um dia deixaste de comer e vomitaste, não era habitual, ficámos preocupados (vocês gatos quando deixam de comer é porque estão muito doentes) era Domingo, 10 de Julho de 2011, telefonei ao vet que te seguia nas consultas de rotina, ele foi à clínica para te examinar, ao fazer a palpação, pressionando, notou uma massa anormal, fomos de imediato para um hospital veterinário onde foram feitos exames, o diagnóstico foi de tumor no pâncreas e fígado, não havia esperanças, disseram-nos…viemos para casa destroçados mas não desistimos, nesse mesmo dia telefonei desesperada para o Vet especialista em oncologia que já havia tratado a Pitinha e pedi-lhe para ele te ver. No dia seguinte fomos à consulta, fez-se nova ecografia, a doença não estava no pâncreas mas sim só no fígado. O Vet acalmou-nos, disse que ainda podíamos fazer algo por ti, para que tivesses mais vida e com qualidade. Iniciamos os tratamentos, fizeste quimio, estavas a reagir tão bem, o tumor diminuiu, as análises com valores bons, ainda houve uma esperança de cirurgia. Passado um tempo tiveste uma recaída, o tumor estava a aumentar, a hipótese de cirurgia foi abandonada, no entanto a tua força de viver era tal que recuperaste rapidamente, voltaste a ter outra crise que ultrapassaste em poucos dias. Na véspera de Natal tiveste a terceira crise, a maior, durou mais de uma semana até te restabeleceres, nessa altura quase perdemos as esperanças, estavas com ascite (liquido abdominal) mas graças a Deus, à tua grande vontade de vencer e ao carinho e dedicação do Doutor e aos tratamentos que nunca descuidamos, ultrapassaste e voltaste a fazer a tua vidinha normal até quase ao dia de partires. Continuaste a comer, a brincar, a apanhar sol junto à janela, a interagir connosco e companheiros, a abrir o roupeiro e a puxar tudo para o chão, a lamber os plásticos e até voltaste nesta última semana a subir na vertical da bancada para o cimo do armário da cozinha que tem cerca de trinta centímetros do tecto e onde só cabias andando baixinho….Na Quarta-feira à noite vomitaste mas aparentemente não estavas queixoso da barriguinha apesar de ela estar bastante dilatada, na Quinta não quiseste comer, alimentei-te com a seringa e ficou tudo no estômago, a tua respiração estava normal. Tinhas consulta marcada para Segunda-feira para drenar o líquido da barriguinha e fazer a sessão de quimio, o teu vet. estava fora do país num congresso, a vet. substituta só dava consulta na Sexta-feira, resolvemos que não iriamos esperar pelo dia marcado e que te levaríamos nesse dia à clínica para a Doutora te tratar.
Deitei-me à 1h da manhã, quando te tocava na barriguinha ronronavas de desconforto (aconteceu o mesmo nas crises anteriores), ficaste tapadinho e aconchegadinho a mim, pouco depois adormeci. O doninho veio para a cama já passava das 2h 30m, parece que estavas à espera dele, vomitaste mas continuavas com a respiração normal, aconchegaste-te ao lado dele com a cabecinha no seu braço como sempre fazias, ele adormeceu, agora tu amor, não sabemos se foste capaz de descansar. Acordámos ainda não eram seis horas, ouvimos-te a remexer a areia do caixotinho, o doninho foi ver como estavas, tu saíste, o Dinis seguiu-te, veio encontrar-te deitado no chão frio, pegou-te e trouxe-te para a cama, o teu corpinho estava mole, a tua respiração acelerada. Arranjamo-nos num instante e voámos até ao Hospital veterinário, foste prontamente atendido, posto a soro e oxigénio, fizeram-te análises e RX que mostrou os teus pulmões ainda limpinhos.
A tua respiração piorou, tiveste uma paragem cardíaca mas a Doutora conseguiu reanimar-te, tirou uma seringa de líquido abdominal que era sangue muito escuro, o que a levou a crer que o tumor rebentou. Falou-nos em adormecer-te pois a hipótese de recuperação seria nula. Pedimos-lhe para nos dar um tempinho, embora eu estivesse sem esperanças tinhas acabado de voltar à vida, também tínhamos que tomar uma decisão em conjunto. Concordámos que como teus amigos seria o melhor para ti, mas não foi preciso, poucos minutos depois a doutora voltava com a triste notícia de que tinhas tido nova paragem e partido.
Meu Anjo foste nosso amigo até ao último segundo, até dessa terrível decisão nos poupaste, aquela que há meses pensávamos que um dia teria que ser tomada para a qual na verdade nunca conseguimos estar preparados. Ironicamente o teu último suspiro foi dado no mesmo hospital onde a doença foi diagnosticada, acredito que a equipa de serviço fez tudo o que estava ao seu alcance mas dou comigo a pensar se tivesse sido o teu médico, aquele que foi um Anjo para ti, será que ainda cá estarias? Possivelmente não, infelizmente mesmo com todo o seu conhecimento e carinho, chega a uma altura em que não pode mais porque não é Deus e mesmo Deus quis que não continuasses aqui.
Não gostavas de sair de casa, ultimamente quando saías gritavas muito, parecias um bebé a chorar por isso fiz-te uma promessa, que quando o derradeiro dia chegasse não te tiraria do teu lar que serias posto a dormir o sorno eterno na tua caminha juntinho a nós…não cumpri, acabou por não acontecer assim, levamos-te com o intuito de te salvar, infelizmente isso não foi possível, mas voltaste a casa onde permaneceste algumas horas, só que desta vez não correste para a porta da entrada como fazias sempre mal saias da transportadora, não me pediste para abrir a porta para ires para a rua pelas tuas patinhas, eu fazia-te a vontade, corrias até ao patamar, olhavas para o elevador e pedias-me para abrir aquela porta também, claro que não podia ser….Lá te trazia para casa e tu ficavas então mais tranquilo e ias à tua vidinha.
Aqui permaneceste algum tempo, pude velar-te, acender-te uma vela e chorar-te desesperadamente, depois o teu corpinho já frio foi colocado no cemitério, juntinho ao do Kiko.
Acredito que renasceste e estás neste momento num lugar tranquilo, sem sofrimento, forte e feliz e que um dia nos reencontraremos, até lá estarás sempre presente em nós…mas como eu queria ter-te aqui neste momento…meu “gato grande” (como carinhosamente te chamava), como eu queria que tivesses chegado ao dia do teu 10º aniversário que estava quase…
Fica a homenagem a um gatinho muito especial que amou que foi e continuará a ser muito amado, chamado LOURENÇO RAFAEL, ele que teve o dom de encantar todos os que com ele conviveram.
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