Vou contar uma situação por que passei no domingo, com uma candidata a adoptante, para que nos consciencializemos do/reforcemos o princípio de que é imprescindível visitar os candidatos a futuros donos.
Por intermédio de uma amiga, que neste momento não tem gatinhos bebés disponíveis, foi-me indicada uma senhora que estava interessada no Gengibre.
Combinámos data e hora da visita, pegámos no Gengi e lá fomos. Chegadas à localidade, aqui pertinho de Lisboa, telefonámos a pedir direcções, pois não sabíamos onde ficava a rua que nos tinha sido indicada.
Tocamos à porta, dizem-nos que a pessoa não estava. Manifestámos a nossa surpresa, uma vez que tínhamos falado com ela há coisa de uns cinco minutos.
Mas lá abriram a porta do prédio. A casa ficava num primeiro andar e não passámos do patamar entre o rés-do-chão e o primeiro. Lá de cima, uma senhora já com alguma idade viu-nos de transportadora na mão e perguntou. com ar alarmado, qual era o assunto. Quando lhe dissemos, disse logo que nem pensar, que a filha não estava boa da cabeça, que estava a tomar medicação para uma depressão, que não trabalhava, que era ela sozinha, com uma pensão de 300 euros e alguns biscates, que sustentava a casa e mais um cão e 2 gatos que já tinham. Preparávamo-nos para fazer rapidamente marcha-atrás quando entra a senhora que queria adoptar na escada. Fica perplexa de nos ver ali, pergunta-nos se já tínhamos falado com a mãe, a mãe começa a falar cá de cima, repetindo o que nos tinha dito e perguntando à filha como é que ela queria sustentar o gatinho, se ia trabalhar. Ela começa a fazer beicinho e a dizer: «Ó mãe, era para te fazer uma surpresa…» Nós ainda a tentámos consolar, dizendo que melhores dias haveriam de vir e ela pensaria então em adoptar conscientemente, e corremos dali para fora com o meu rico Gengibre.
Enfim, foi uma cena surreal. Chego à conclusão de que ela saiu ao nosso encontro com a ideia de receber o Gengi na rua e depois levá-lo para casa, apresentando-o à mãe como facto consumado.
Depois disto, a senhora ainda voltou a ligar e mandar várias mensagens, continuando a manifestar vontade de ficar com o Gengi, mesmo apesar disto tudo.
Tenho pena da situação humana, mas o problema é que, muito provavelmente, esta senhora vai conseguir adoptar noutras circunstâncias em que não haja as mesmas cautelas.

«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke