Morreu Camões!

Histórias, sugestões e opiniões sobre a temática dos direitos animais em Portugal e no mundo...

Moderador: mcerqueira

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Tamara0
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sexta ago 17, 2012 11:50 am

"Morreu Camões, o cão que inspirou Saramago

“Entra, chegaste à tua casa”: assim entrou Camões na vida de José Saramago. No momento em que Manuel Maria Carrilho, ministro da Cultura de Portugal, anunciava a José Saramago que lhe tinha sido concedido o maior galardão literário da língua portuguesa, um cão assustou tanto uma vizinha que ela gritou a pedir ajuda. Os que estávamos em asa saímos para a ...rua e vimos que o animal feroz era um cachorro assustado com o susto da mulher. O animal entrou pela porta aberta do jardim, mexendo sem jeito as pernas, um pouco desajeitado, feliz por ninguém o maltratar. Quando Saramago apareceu a anunciar que tinha recebido o Prémio Camões, soubemos, soubemo-lo nesse instante, que o cão que tinha encontrado a sua casa não ia ter outro nome que o do grande poeta português. E assim, pelo menos em Lanzarote, Camões foi mencionado centenas de vezes por dia, foi vida e foi homenagem. E este cão doce e nobre, que nunca aprendeu a comer devagar porque até chegar à Casa tinha tido que lutar contra a fome e o abandono, com a sua gravata branca desenhada no pelo negro, que foi o modelo para “O Achado” d' A Caverna, um cão que, como todos os cães que Saramago inventa, é a melhor resposta animal à melhor consciência humana, morreu com todos os seus anos e sempre amado.

Quando o cão chamado Camões regressou a casa depois da morte de José Saramago, não conseguiu aceitar a ausência. Esteve inquieto durante o dia, mas quando chegou a noite e não viu o dono nem na cama nem no sofá que ocupava habitualmente, quando uma e mil vezes percorreu o espaço entre os dois quartos, quando percebeu que o dono já não estava nem ia estar, que isso é a morte, uivou, gritou, rasgou-se numa dor que arranha a alma só de descrevê-la. Não bastaram abraços para consolá-lo, nem palavras carinhosas: ia e vinha de um lugar para outro, numa correria que partia o coração, gemia com uma dor humana. Por isso, um amigo que estava lá em casa e ali passou a noite, intitulou no dia seguinte a sua coluna jornalística: “Camões chora por Saramago”.

Saramago já não poderá chorar por Camões, agora que morreu tão docemente como viveu, tão honestamente animal que apetece aprender com a sua forma de estar na vida. Ou talvez, sem chorar, se encontrem na sensibilidade criada que nada nem ninguém pode destruir, porque tanta vida partilhada, e em companhia tão amável, não pode perder-se. Estão por aí, em livros e memórias, em corações que não se rendem, José Saramago com os seus três cães, Pepe, Greta e Camões, pondo beleza no mundo, imortais na vivência pessoal dos que sabem ver e também sentir.

Pilar del Río"


RIP Camões!
<p>A pra&ccedil;a p&uacute;blica est&aacute; cheia de moscas!</p>
<p>"O homem &eacute; uma corda estendida entre o animal e o Super-homem - uma corda sobre o abismo". - by Nietzsche</p>
<p>&ldquo;A f&oacute;rmula da minha felicidade: um sim, um n&atilde;o, uma linha reta, um objetivo.&rdquo; (Friedrich Nietzsche)</p>
Tassebem
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segunda ago 20, 2012 1:51 am

Revemos nas histórias de amor entre gente genial e os seus animais as nossas próprias -- nos nossos casos, de gente comum. E sem tanto engenho para os imortalizar, como eles merecem.

«Passados muitos muitos anos, noutra terra, debaixo de outro céu, um cão apareceu à minha porta. Tinha fome e sede. Demos-lhe água e comida, e deixámo-lo. Voltou poucas horas depois e olhou para nós. Então dissemos-lhe: ‘Entra, encontraste a tua casa’”, escreveu Saramago sobre o seu fiel companheiro: “Camões”. O texto foi divulgado pela Fundação Saramago no dia da morte de “Camões”, no passado 2 de Agosto, recordando a primeira vez que o Nobel o viu. Foi um fiel companheiro de Saramago e serviu de inspiração para o cão “Achado”, um aliado do protagonista do romance “A Caverna”.

Mas o nome do cão-d’água do escritor não foi por acaso. Em 1995, ano em que “Ensaio Sobre a Cegueira” é publicado, o escritor recebeu o Prémio Camões. Coincidência ou não, a verdade é que nesse exacto dia “Camões” chegou às portas da casa do escritor, em Lanzarote. Mas a relação entre os dois podia ter sido diferente, principalmente se pensarmos na infância de Saramago. “Os cães que fui conhecendo ao longo da minha existência sempre fizeram gala de uma obstinada animadversão em relação a mim. Ou porque cheiravam o medo, ou porque os irritava a falta de jeito com que tentava dissimulá-lo, sempre houve entre os cães e eu, se não a guerra aberta de que só eu saía a perder, pelo menos uma relação de mútua e desconfiada reserva”, escreveu Saramago em “Outros Cadernos”.

Mas a história mudou de rumo e o receio deu lugar a curiosidade e a um cheirinho a homenagem. “Este homem que não se envergonha de confessar que tinha medo dos cães dedicou parte do seu trabalho de escritor a criar, a inventar, a modelar figuras de cão, como se, já que temia os outros, estivesse na sua mão corrigir os erros da natureza”, escreveu Saramago.

“Camões” chegou a Lanzarote acompanhado de “Pepe”, um poodle, e “Greta”, uma fêmea Yorkshire, que morreram antes dele. “A Caverna” e “A Jangada de Pedra”, entre outras, são algumas das obras onde se encontram referências aos animais de estimação do escritor. Saramago morreu a 18 de Junho de 2010. Durante dias, “Camões” correu e ganiu à procura do dono, até que percebeu que ele não ia chegar.

Outros cães que se tornaram famosos

Lorde Byron
Em 1808, o escritor inglês Lorde Byron escreveu um poema que ficou na história como uma das maiores homenagens a cães: “Epitáfio a um Cão”. “Boatswain”, assim se chamava o cão de raça Terra Nova, contraiu raiva e viria a morrer da doença. Ao que se sabe, Byron continuou a cuidar do seu animal mesmo depois de saber da doença.

John Steinbeck
Steinbeck tinha um caniche chamado “Charley”. Os dois eram inseparáveis e prova disso é a obra “Travels with Charley: In search of America”, em que juntos atravessaram os Estados Unidos da América por mais de 16 mil quilómetros.

C. S. Lewis
“Jacksie”, cão do irlandês C. S. Lewis, foi atropelado quando o escritor tinha apenas quatro anos. Esse foi um dos episódios mais marcantes da vida de Lewis, que exigiu ser tratado pelo nome do animal. Ficou Jack, para família e amigos.

Dostoievsky
A relação de amizade entre Dostoievsky e “Sharik”, o seu cão, aparece no livro “Cadernos da Casa Morta”. O russo afirma que “Sharik” foi o seu único amigo quando esteve preso.

Dickens
Charles Dickens era um apaixonado por cães como os São Bernardo e os Terra Nova. Dos muitos que teve, o seu preferido era “Turk”, que morreu num acidente de comboio.»

in http://www.ionline.pt/outros/escritores ... inspiracao
&laquo;Ningu&eacute;m cometeu maior erro do que aquele que nada fez, s&oacute; porque podia fazer muito pouco.&raquo; Edmund Burke
Floripes3
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segunda ago 20, 2012 7:32 am

E como esquecer Buck, o cão que Jack London tão bem retratou em White Fangs - O Apelo da Selva em português - e que com certeza partiu da relação que esse escritor aventureiro e vagabundo terá tido com algum dos cães do Grande Norte que à época puxavam os trenós dos garimpeiros de ouro?

Foi um dos primeiros livros que li na minha infância a marcarem o meu gosto e interesse por estes seres tão especiais. Mas ainda antes dele veio o poema de Guerra Junqueiro, "O Fiel", que narra, ao estilo gongórico e retumbante típico do romantismo do princípio do século passado, a relação de um pintor de arte e o seu cão. Por dificuldades financeiras, o pintor resolve abandonar o cão, que, dedicado ao dono, se recusa a sê-lo e regressa sempre. Por fim, desesperado, o pintor resolve afogá-lo, amarra-lhe uma pedra ao pescoço e atira-o a um lago. E o poema termina com, mais uma vez, o regresso miraculoso do animal, segurando na boca o gorro que o dono tinha deixado cair.

Que Camões-cão descanse em paz, tão em paz como o seu dono, cuja falta não conseguiu suportar. Nós, comuns cidadãos, apenas podemos agradecer que haja neste mundo seres como os cães.
<p>Ol&aacute;, eu sou a... Floripes3 que j&aacute; foi 2. &nbsp;:mrgreen:</p>
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<p>&nbsp;"Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
Joie2
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segunda ago 20, 2012 8:29 am

... "O Fiel", marcou-me e de que maneira...
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