Não posso deixar de frisar que o canil de Lisboa está proibido de aceitar animais entregues pelos donos a não ser em circunstâncias bem definidas (que não são o caso) e, mais uma vez, faz tábua rasa de uma decisão judicial. Está acima – ou fora – da lei. Quantos “Xicos”, cães e gatos, não têm sido entregues no canil, muitos com o fim que se sabe, em gritante desafio à legalidade e à humanidade? Mas bem sei que isto é um assunto que praticamente não interessa a muitos ou a quase todos.
Adiante. Calhou lá estar eu e uma amiga, também forista daqui, e não fomos capazes, contra o que nos aconselharia o juízo, de deixar que o Xico entrasse no canil. Com a ajuda de uma grande amiga dos animais e do seu grupo, muito sobrecarregadas e com apoios diminutos mas sempre dispostas a ajudar, o Xico está recolhido e a salvo.
A dona disse que o ia entregar ali para ser adoptado. Tinha-o tirado da rua e não o ia abandonar. Chorava. Calculo que também esteja a sofrer bastante com a situação, bem como por outras circunstâncias da sua vida, tal como o Xico, habituado a viver numa casa, com a sua dona, está a sofrer agora. Mas a senhora confiou em nós e ficou aliviada, confiando que ele ficou bem entregue, e preferindo, apesar de tudo, entregar o Xico a duas estranhas a deixá-lo no canil. Espero poder ligar-lhe um destes dias a dizer que o seu Xico está definitivamente num bom lar.
Não se podendo fazer mais por todas estas tristes circunstâncias para quem as está a viver (e são cada vez mais os que as vivem), vai-se tentar fazer o melhor possível pelo Xico, isto é, acolhê-lo, cuidá-lo e tentar arranjar-lhe um dono que o faça esquecer, pelo menos em parte, este momento menos bom da sua vida.
O Xico, que para além de ser um gatarrão lindíssimo e com bom temperamento, como já disse, está castrado e tem a primeira vacina (feita na véspera do dia em que ia ser entregue no canil, ao que parece por exigência do mesmo). Tem todo o ar de ser um gato muito saudável e a declaração médico-veterinária da clínica onde era seguido há anos nada diz em contrário. Terá cerca de seis anos e 7,200 kg… um verdadeiro Garfield.
A amiga que estava comigo está “de quatro” por ele e seria uma excelente dona, mas infelizmente não o pode acolher. Deixo para ela mais comentários sobre o breve convívio, mas marcante, com este gatinho.
Estas são as fotografias possíveis… por enquanto. O Xico acabava de passar um bom bocado na transportadora, no carro, num dia de calor, sem a sua dona, sem a sua casa, com estranhos num ambiente estranho. Triste, portanto, como tudo isto é triste. Já se é fado ou não, não sei.





